Aos 69 anos, o artista plástico Márcio Euzébio Barbosa vive há mais de 40 em Pedro Leopoldo, onde também administra a Consert Eletrônica. Ao mesmo tempo, mantém, com recursos próprios, um dos pouquíssimos espaços culturais da cidade. Ali, expõe pinturas e esculturas, entre outras expressões artísticas, que surpreendem e encantam.
“A carreira artística tem uma trajetória que começa na concepção do artista e perdura até o pós-vida, já que é a obra que leva sua mensagem aos outros”, relata Márcio, certo de que, só com suas necessidades básicas atendidas, um povo pode fazer arte.
Para o artista, a administração pública nem precisa gerir diretamente o setor cultural. “Se ela cuidar da parte funcional e do bem estar social da cidade, das creches, escolas, postos de saúde, já estará contribuindo e muito com a cultura”, acrescenta, nesta conversa com o AQUI PL.
- Você tem um ateliê na cidade, no qual mantém uma exposição permanente. Este ambiente é muito visitado? Você recebe muitas visitas de fora da cidade?
Já recebi escolas e muitas outros segmentos em minha galeria. É um espaço para todo mundo que se interessa por arte e aprecia suas manifestações Muitas vezes, pessoas muito carentes vêm visitar e conversar sobre arte e eu recebo com todo estima, pois o gosto pela arte não é privilégio de pessoas bem nascidas. No dia a dia, ele faz parte do roteiro definido pela Maria Borges com sua agência de turismo, que recebe muitos visitantes em PL, principalmente do Rio de Janeiro. Também tenho muito apoio da imprensa local e isso traz visitantes em número suficiente para um funcionamento confortável.
- E o monumento para o Parque Estadual do Sumidouro, como você o pensou e onde ele está exatamente?
Em 2014, fui convidado por Rogério Tavares, um amigo de inestimável valor e na época gerente do Parque Estadual do Sumidouro, para idealizar um monumento que pudesse de alguma forma representar a ideia do parque. Fui até lá e ele me mostrou um vasto material retirado das casas e outros lugares de imóveis desapropriados pelo estado. Tive então a ideia de aproveitar esse material na obra que, hoje, está em frente ao museu da Gruta da Lapinha. A homenagem aos desapropriados, aos bandeirantes e aos primeiros moradores do lugar seria melhor costurada dessa maneira. Este monumento virou uma espécie de cartão de visitas do meu ateliê galeria, trazendo muita gente de fora para conhecê-lo.
- Você tem alguma ajuda da administração pública?
Este meu espaço está aberto à visitação desde 2014, com todos os recursos vindos da Consert Eletrônica, uma empresa que tem mais de 40 anos de serviços prestados à cidade. O ateliê-galeria é uma das poucas iniciativas culturais privadas de nossa cidade. Mas eu não me preocupo muito com apoio público, pois serei artista de qualquer maneira e em qualquer lugar que eu estiver. Artista é artista, mesmo sem administração pública. O que faz alguém ser artista é a vocação e não a administração.
- Quem compra a sua arte?
Ser artista plástico é bastante interessante, temos o conforto de estar ao lado de uma obra e ninguém saber quem você é, a obra é que importa, ela fala por si e caminha com suas próprias pernas. Quem compra a minha arte são pessoas da cidade, muitas de Belo Horizote e Lagoa Santa. Tenho trabalhos no Rio, São Paulo e em algumas cidades de Minas, até onde eu sei.
- Você acha que a nossa cidade é uma cidade com vocação turística?
Não sou um especialista no assunto e opinar sobre assuntos que não conhecemos na maioria das vezes pode soar de forma arrogante, mas existe um estudo científico sobre lugares turísticos, permanência dos visitantes no local, etc, que pode responder por mim. O que posso imaginar é que qualquer evento turístico aqui, seja ele de uma semana por exemplo, deve gerar menos recursos que um dia da produção industrial e mineral na cidade.
- O que é ser artista plástico?
Esta é uma definição que procuro desde que sai do curso de Belas Artes, na UFMG, em 1975. A relação com a arte é uma coisa extremamente sutil, ela envolve a expertise do artista, sua vivência e processos existenciais que, numa síntese final, vão chegar ao “fruidor”, que pode apreciar ou não a obra, mas que vai viver uma experiência baseada em sua sensibilidade, conhecimento, empirismo e muito outros fatores. E é daí que uma obra de arte começa a andar pelo mundo. A minha empreitada com a arte é apenas de fazer o que gosto; o tempo, o maior de todos os juízes, vai dizer se minha obra valeu a pena ou não.