Um passeio de bicicleta por Pedro Leopoldo parte II – Dr. Lund

Um passeio de bicicleta por Pedro Leopoldo parte II – Dr. Lund

Descobri que o andar de bicicleta tornou-se uma espécie de vício na minha vida, mas não por gostar de pedalar, já que nunca fui muito chegado à prática de exercícios físicos, a despeito de reconhecer a sua necessidade para a saúde e o bem estar do nosso corpo e mente.  Acontece que ainda não inventaram um outro veículo de locomoção melhor para algo que sou apaixonado: a observação do cotidiano da vida das pessoas de um local ou região.

Tentar apreender e compreender a história e a cultura de uma comunidade, bem como absorver os seus costumes é algo que me fascina e encanta, além de proporcionar que eu desenvolva um outro hobby que cultivo: a escrita. Portanto, a bicicleta se tornou o principal veículo para uma produção de crônicas do cotidiano das pessoas e dos lugares por onde passo na minha cidade. Mais do que uma pretensão, um exercício constante de aprendizagem.

Depois das idas e vindas por Vera Cruz de Minas – que me fizeram reviver lembranças boas do passado – escolhi visitar e tentar conhecer melhor o simpático e charmoso Distrito de Doutor Lund.  Saí de casa não tão cedo, por volta das nove horas do último sábado e, logo no início da minha jornada vi algo que por demais me entristeceu. Logo aqui, no centro da cidade, uma longa fila na porta do centro espírita Bezerra de Menezes. Mulheres e crianças, em sua maioria, dobravam o quarteirão da Avenida Cauê com a Rua Pacífico José Diniz à espera de uma cesta básica.

Do outro lado da esquina, de frente para a numerosa fila, algumas pessoas sentadas em um bar observavam a aglomeração. Mais adiante, em uma casa, tremulava por cima do muro uma pequena e desbotada bandeira do Brasil. Continuei o meu caminho pensando no quanto era forte e representativa aquela imagem que, para mim, representava a naturalização de algo que jamais deveria ser natural: Dezenas, talvez centenas de famílias privadas das necessidades mais básicas, precisando de doações para sobreviverem em um país tão rico e tão desigual ao mesmo tempo.

Segui adiante e peguei a estrada para Doutor Lund. No caminho notei que a vegetação ao redor da linha férrea estava toda queimada. Infelizmente, a limpeza de pastos e matas com o uso do fogo é uma prática ainda presente na nossa região e no nosso país. Desmatamos e fazemos queimadas e depois nos perguntamos porque a chuva não chega e a conta de energia só aumenta!

Vi o trem passando com dezenas de vagões e lembrei que, quando criança, em Vera Cruz, pedia ao meu pai para me trazer em Pedro Leopoldo só para observá-lo ali na altura da estação. Hélio Issa ainda não havia construído o viaduto da Nossa Senhora das Graças e eu achava o máximo ficar ali parado, vendo aquela imensa máquina cortar a cidade… Entretanto, além da lembrança veio a preocupação. Ao lado da linha férrea, ali na Vila Aparecida, muitas crianças brincando em uma proximidade perigosa e assustadora.

Chego na entrada de Doutor Lund e logo descubro o número de habitantes do Distrito! Em uma placa, a associação local pede à Copasa que os 850 moradores sejam previamente informados das obras que a Companhia for fazer na localidade, bem como o seu cronograma, projeto e planejamento de ação. Mais do que justo, uma obrigação.

Enfim, no centro do Distrito, vejo a vida como ela é. O comerciante levantando as portas do bar, a funcionária passando o rodo no chão e a dona de casa varrendo as folhas do passeio!! O casario antigo e bonito, as pessoas na janela “quentando” sol e olhando para a praça!! Ahhh, para mim a praça mais bonita e charmosa de Pedro Leopoldo, de frente para a Igreja que é parecida com a de Vera Cruz. E o mais importante: naquela praça, a esperança em um futuro melhor para o nosso país.

Ali, naquela manhã ensolarada de sábado, um rapaz, sentado em um dos bancos, lia – concentrado e solitário – um livro. Sim, não era um smartphone não!! Ele lia um livro no melhor lugar do mundo para se ler um livro!! Cercado de verde e de silêncio, somente quebrado pelo canto dos pássaros!! Curioso, pensei em parar a minha bicicleta para ir lá perguntar qual a obra que o absorvia tanto. Não fui. Primeiro, devido à minha timidez. Segundo, porque não se deve interferir e atrapalhar tamanha concentração.

Adiante, um senhor – tal como em Vera Cruz – vendendo verduras de bicicleta. Parecia ter muitos clientes. Dei meia volta e fiz o caminho do retorno para Pedro Leopoldo. Não sem antes de receber o bom dia mais gostoso da minha vida!! Duas senhorinhas, da janela da casa onde moram, me desejaram um ótimo sábado com o sorriso mais feliz do mundo!! Ganhei o dia porque passei a sonhar!! Sonhar com uma aula de história para os alunos de Pedro Leopoldo na praça de Doutor Lund! Aprendendo quem foi Peter Lund, pai da paleontologia, da espeleologia e da arqueologia no Brasil, que viveu e fez grandes descobertas na nossa região no século XIX e que empresta o nome àquela comunidade.

Mas, principalmente, imagino àquela praça cheia de crianças, sentadas nos bancos e no chão, escutando atentamente os causos das duas senhorinhas. O quanto elas sabem e têm o que passar das estórias de Doutor Lund, seu início e desenvolvimento, suas famílias e grandes fazendas, como a “Busca Vida” – que tinha esse nome pelo fato das pessoas irem lá, no início do século passado, atrás de ajuda ou alimento. Era a então forma de “buscar a vida” – sem contar as festas religiosas e a culinária local, em especial os empadões, as fatias e os biscoitos de nata!!

Conhecer a nossa comunidade nos traz um sentimento de pertencimento, primeiro passo para a conscientização e conquista da cidadania plena. Pois que as praças de Pedro Leopoldo e seus distritos comecem a receber as nossas crianças. E que se comece por Dr. Lund, com as professoras mais simpáticas de que se tem notícia!! Sonhar não custa nada… Até a próxima!!

Matheus Borges

Matheus Campos Borges, Servidor Público Estadual, graduado em Jornalismo e Direito com especialização em Direito Civil e Processo Civil.

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