No TRE, servidores analisam documentação de pessoas que tencionam ser candidatas naquele ano. Um documento chama a atenção de todos.
É um pedido de registro de candidatura… psicografado.
Ainda que a grande maioria ali esteja surpresa, um servidor, lá no cantinho mais ensolarado da repartição, do alto de seus mais de 90 anos (sim, a aposentadoria foi extinta) não demonstra qualquer incredulidade, e apenas sorri, enquanto diz:
– Aposto que é de Tadeu, o que foi, é e sempre será candidato, em qualquer época, ou qualquer circunstância.
Uns riem, outros não, cai o pano.
Estamos de volta a 2020, o ano em que – para surpresa de um total de zero pessoas – Tadeu será novamente “escolhido” candidato pelo MDB. E vai com aspas, mesmo, porque esse movimento sempre ocorre e sempre ocorrerá, a menos que haja algum fator externo (ou forças ocultas, como preferirem) que impeça o homem de se candidatar. Tão certo quanto o sol ter nascido hoje pela manhã é Tadeu ser candidato a prefeito, certas coisas nunca mudam.
Do outro lado, entrincheirado no segundo andar do caixote de concreto aparente conhecido como Prefeitura, o atual prefeito arrisca, com previsível timidez, seus primeiros movimentos como pré-candidato, colocando em sua página pessoal de uma rede social um breve relato de como teriam sido difíceis seus últimos anos à frente do cargo. Nesse, ele informa – para surpresa de um total de zero pessoas – que tudo foi difícil porque encontrou a prefeitura “toda avacalhada”. E vai com aspas, mesmo, porque o conceito de avacalhação nesse caso é meramente casuísta. Numa nada rara demonstração de falta de criatividade, o argumento favorito de todo administrador é novamente evocado pra justificar a inanição de qualidade de seu trabalho: botar na conta do anterior. Neste caso, da anterior, já que era Eloísa quem respondia pelo cargo.
E foi aí que a cobra abriu seu maço de Derby vermelho, puxou um fininho e tragou gostosamente, com respostas em rede social advindas de ex-membros da gestão de Eloísa, antecessora em cuja conta querem depositar a tal avacalhação. Nas réplicas, para surpresa de um total de zero pessoas, um festival de objeções à nota do atual prefeito, tida e havida na ocasião como pouco provida de veracidade.
Os próximos capítulos dessa interessante novela, para surpresa de um total de zero pessoas, certamente virão a cavalo, mas, de momento, o que me interessa observar é o seguinte:
Se tem uma coisa que não se pode dizer do atual prefeito é que lhe falta coragem. Ora, uma provocação tão despudorada, sabendo da disposição bélica do ex-prefeito Tadeu, defensor da gestão de Eloísa tanto no profissional quanto no pessoal por razões mais que óbvias, isso é coisa de quem está com a faca nos dentes!
Resta saber se, num futuro hipotético em que Tadeu chegasse novamente ao poder, receberia uma prefeitura “avacalhada” e decidisse costurar a carreira política de seu antecessor na boca do sapo eleitoral mais próximo, amarrando os sete caminhos do moço até a urna, o que não seria uma impossibilidade… para surpresa de um total de zero pessoas.