Cinco dias sem água. Imagine, leitor, o drama de famílias sem água para cozinhar, tomar banho, cuidar das crianças e até beber. Crianças fora das escolas, que não podem funcionar sem água e a possibilidade de serviços de saúde pararem pelo mesmo motivo. Em bairros como o São Geraldo e o Teotônio Batista, não teve água nem para remédio. Pense bem: como estão os idosos e acamados nesses lares sem água? Como estão os bebês?
Nas regiões mais baixas, a água já voltou, mas a parte alta da cidade e os bairros mais distantes ainda não tiveram o abastecimento normalizado, tendo que se valer de caminhões-pipa, que não chegam a todas as casas. E isso tudo acontecendo durante uma onda de calor insuportável, com níveis baixos e perigosos de umidade do ar.
A Copasa alega que o problema foi o rompimento (por duas vezes) de uma adutora, serviço que demorou três dias para ser feito. A Prefeitura convocou uma entrevista coletiva na tarde desta segunda, 25/9, e o responsável pela concessionária sequer apareceu para dar explicações.
A Prefeita Eloísa e a vice Ana Paula, num vídeo com péssima qualidade de som distribuído pelo Instagram, disseram que não estão medindo esforços para solucionar o problema. O que, segundo elas, inclui cobrar da Copasa os problemas nas redes de água e esgoto e inclusive acionar a companhia na Justiça. Disseram ainda que pediram caminhões-pipa nos locais mais necessitados, mas que é impossível atender a todos. As administradoras da cidade criticaram muito a concessionária por não requalificar suas redes e muito menos ter um plano alternativo para sanar esse tipo de emergência.
“O serviço não é nosso, nós não temos o poder de executá-lo”, salientou Ana Paula, ressalvando que tinham o poder de exigir e processar, que é o que vão fazer. Mas, que enquanto isso, só podem ser solidárias com as dificuldades do povo pedro-leopoldense. Ela disse ainda que a Copasa não fala em melhorar os serviços. “Todo o serviço da Copasa em nosso município é ineficiente”, afirmou a vice-prefeita.
Pontos a serem debatidos nesta história:
- Tanto Eloísa quanto Ana Paula falaram na coletiva como consumidoras e não como chefes do Executivo. Ficaram reclamando dos serviços sem se mostrar parte do problema, num jogo de empurra que já dura anos. Acontece que a Prefeitura, ao fazer à concessão do serviço de água à Copasa, é uma espécie de “patroa” da companhia de saneamento, assim como no caso da concessionaria de transporte público. Como tal, deve fiscalizar e exigir melhorias, inclusive no que toca à taxa de reinvestimento em prestação de serviços e melhorias no município. A Prefeitura tem acompanhado sua utilização?
- Como sempre, sobrou para a população, que ficou dias economizando água para beber, cozinhar ou tomar banho, nos casos mais graves. Se tem alguma água, não pode molhar plantas ou passar um pano na casa cada vez mais empoeirada. E vai ter que economizar nos próximos dias, esperando toda a cidade ser abastecida. Isto num moment0 em que mais de 90% das cidades mineiras estão em alerta por conta da onda de calor e a baixa umidade do ar.
- Como uma adutora, que interfere no abastecimento de toda a cidade, rompe assim, por duas vezes em poucos dias? Não há manutenção?
- Outra questão é a ausência de um plano B para remediar a situação. Se a água demorar mais 2 dias para chegar nos bairros mais altos, por exemplo, o que a população desses locais deve fazer? Não há nenhuma medida tomada nesse sentido e nem orientação. O preço do caminhão-pipa vendido na cidade está entre 350 e 500 reais.
- Finalmente, não é segredo para ninguém que o governo Zema quer vender a Copasa e a Cemig. Pesquisa Datatempo do ano passado apontou que cerca de 60% da população são contra a venda da Copasa e 65% não querem a privatização da Cemig. O sucateamento dos serviços seria uma estratégia para ganhar apoio popular para a proposta do governo?
- Estados que privatizaram suas estatais de energia e água estão às voltas com aumentos absurdos nas contas. No Amapá, a CEA quer quase 45% de aumento. A última correção da Cemig foi de menos de 15% e foi a maior dos últimos anos.
- Aliás, a venda da Copasa já tem o apoio do secretário de Desenvolvimento Econômico de Pedro Leopoldo, Ângelo Tadeu. No Facebook, ele disse que a empresa é incompetente e tem que ser vendida.
- Em 2020 a Procuradoria do Município ingressou com Ação de Reparação de Danos Coletivos em desfavor da Copasa, exatamente em razão da prolongada demora nos reparos e retomada do fornecimento regular de água. De lá pra cá quantos desabastecimentos voltaram o ocorrer? Em especial nas regiões mais carentes da cidade?
- A concessão da Copasa junto ao município é de 1964 e se encerra em breve, em 26 de março de 2028, mesma data do convênio de esgotamento sanitário, que foi celebrado em 1998, na administração Ademir. Não seria melhor exigir melhores serviços da Copasa e, se isso não fosse possível, pensar em um serviço municipal de água? O debate está aberto, assim como nossos canais de comunicação no Whatsapp e no Facebook.