Sexo, mosquitos e chicungunya

Sexo, mosquitos e chicungunya

cronica eduardo

Eduardo Almeida Reis

Em jornalismo, pauta é agenda ou roteiro dos assuntos mais importantes a serem cobertos numa edição ou numa matéria de jornal, revista, programa de rádio ou televisão etc.

Nos últimos tempos, além do sexo, pauta eterna, temos o mosquito que transmite a dengue, a chicungunya e o vírus zika. Todos se ocupam  do mosquito Aedes aegypti, seus hábitos, seus ovos, suas larvas e as doenças que pode transmitir. A fêmea do mosquito culicídeo também depende do ato sexual para botar ovos férteis, daqueles que se transformam em larvas e mosquitinhos, mas a imprensa tem sido avara de informações sobre a cena. Por isso, recorro ao livro O Sexo Entre os Animais, de Robert A. Wallace, PhD em sexo animal, utilíssimo na atual conjuntura.

Todo dia a tevê nos mostra uma porção de larvas do Aedes aegypti sem explicar que o mosquito macho, quando deixa de ser larva para se converter em mosquito adulto sofre uma reviravolta em sua extremidade traseira: os dois últimos segmentos do abdome dão um giro de 180 graus. Essa torção é necessária para que possa copular. Com o seu pênis agora em posição inversa ele está pronto para o sexo e sai à procura de uma parceira.

Aedes aegypti macho não liga para o poder de persuasão e o charme, que podem ser importantes em outras espécies animais. Quando encontra uma fêmea, pula sobre ela e a prende com os pequenos ganchos que tem nos pés. Gira para ficar por baixo dela, os dois cara a cara, o corpo dele pendurado sob o dela.

Contudo, a vagina continua protegida por duas placas peludas em forma de remos, mas o galã tem um arsenal de recursos para enfrentar o problema. Duas pinças se projetam do seu traseiro e agarram as placas peludas, fazendo que salte para cima a placa existente sob o ânus de madame Aedes aegypti, descobrindo as bordas de sua vagina.

Em seguida, dois ganchos especiais prendem e puxam para baixo os órgãos genitais da bela pernilonga-rajada, quando o galã estira seu bizarro pênis coberto de dentes pontiagudos, dentes que funcionam como uma espécie de chave: engrenam-se como uma fenda na parte superior da vagina fazendo-a abrir como se fosse uma válvula.

Depois que ela fica bem aberta deixa à mostra um canal que leva diretamente à bolsa onde a bela vai armazenar os espermatozóides. O macho não perde tempo: conseguindo abrir a “válvula” ejacula uma quantidade surpreendente, cerca de dois mil espermatozóides, dentro da bolsa.

Aí ele se desengata e permite que a parceira levante voo. Ela se vinga e dá um pontapé no galã. Refeito do susto, ele voa para longe e passa os poucos dias de vida que lhe restam sugando o néctar das plantas.

Madame sobrevive ao galã e se põe à procura do sangue necessário para nutrir os ovos fecundados, que se desenvolvem dentro dela. Robert Wallace termina o capítulo de seu livro informando ao leitor que a fêmea delicada, que lhe chupa o sangue, “nunca pode ser uma virgem”.

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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