Rumo ao centenário, Pedro Leopoldo ainda precisa de muita coisa…

Rumo ao centenário, Pedro Leopoldo ainda precisa de muita coisa…

(Reprodução Facebook Camilo Ildelfonso)

São quase cem anos de cidade. Aos 98, Pedro Leopoldo respira fundo. No ano passado, viveu uma das maiores frustrações da sua história, com a perda da Heineken, um investimento de quase R$ 2 bilhões com potencial para gerar mais de 2 mil empregos e pelo menos 50% a mais na arrecadação. Quanta coisa poderíamos fazer com esses recursos…

Mas bola pra cima que a vida continua. E, para a nossa cidade, se renova a cada 27 de janeiro, quando comemoramos aquele dia, em 1924, que o povo e as lideranças da nossa terra se uniram pela emancipação. Se renova também neste dia a nossa esperança de ter uma cidade melhor. Aquela que tenha espaços e oportunidades para o nosso trabalho, talento e disponibilidade. Para a agricultura familiar, para a arte, para o esporte, para o lazer e a qualidade de vida. Para o planejamento do nosso futuro, com tudo isso junto. 

Nessa matéria especial de aniversário, o AQUI PL pediu ao nosso afinado e talentoso time de articulistas um pequeno texto, de poucos parágrafos, mostrando uma prioridade real, uma obra ou ação que a cidade precisa muito para continuar sua trajetória, com ou sem cervejaria, mas com os olhos no futuro. Aquele presente que a cidade merece há anos e, a cada aniversário, mais falta faz para seus cidadãos.

No mais, viva Pedro Leopoldo!

Eu queria ver a esperança

Emiliano Braga, empresário

Hoje vejo Pedro Leopoldo como uma cidade de grande potencial, com muitas riquezas naturais, com uma localização privilegiada e com várias histórias que fazem qualquer um se apaixonar ela.

Com tantos pontos positivos, me surgem também, várias dúvidas em relação ao motivo de não ver esperança nos olhos das pessoas. O que nos falta para carregar essa esperança, nos olhos, na alma e tê-la estampada no rosto?

Teríamos que estar pensando em um projeto de mercado livre municipal, para ser a casa do produtor rural e do agricultor familiar da cidade; em uma ciclovia bem definida na rua principal e que se estendesse em conexões inteligentes para os bairros; mais espaços direcionados para cultura e lazer como um museu, um teatro, oficinas nas escolas municipais para ocupar as crianças no contraturno escolar com projetos de desenvolvimento pessoal, assim como o incentivo à formação profissional, deixando os olhos dos investidores nacionais e internacionais brilhando ao pensarem nos jovens que estamos formando aqui.

Eu queria ver políticas públicas de fomento ao empreendedorismo e às micro e pequenas empresas, reduzindo a insegurança dos empreendedores e gerando renda e trabalho para os cidadãos de Pedro Leopoldo; eu queria conseguir abrir uma MEI em 3 dias; queria ver as nossas instituições falando sobre sustentabilidade ambiental com tanta propriedade que neutralizariam críticas de ONGs forasteiras sobre o assunto. Queria muito que as intuições não ficassem buscando inimigos que não existem, para justificar suas más conduções e a ausência de planejamento estratégico.

É isso, eu queria ver a esperança.

 

Uma cidade com participação popular!

Matheus Borges, advogado e jornalista

É sempre uma honra escrever para a revista Aqui PL, da minha amiga e madrinha Bianca Alves. Meu primeiro estágio no jornalismo foi no jornal/revista Aqui, no início dos anos 2000, em que tínhamos reuniões de pauta na Casa Verde, lá na Nossa Senhora das Graças, do meu outro padrinho Marco Antônio. Ali, durante as madrugadas, conversávamos e discutíamos sobre tudo, mas, mais do que isso, pensávamos Pedro Leopoldo, sonhávamos a nossa cidade, porque gostávamos e continuamos gostando demais desse lugar. Então, quando a Bianca me pede que, no aniversário da cidade, eu cite uma obra que o nosso município precisa, relembro nossos encontros e conversas de 2000, 2001 e 2002, o que é um privilégio.

Eu poderia citar uma infinidade de ações que, para mim, são prioridades para a cidade. A revitalização do complexo esportivo do CEPPEL, com piscinas, campos de futebol e quadras para o uso, principalmente, das nossas crianças e adolescentes, é um exemplo. Essa revitalização teria que vir acompanhada de uma integração entre as secretarias de educação, esporte e cultura, pois vejo o CEPPEL como um projeto inicial de implementação de escolas integrais no município, nos moldes dos CIEPS do início dos anos 80 no Rio, que, infelizmente, foram abandonados sob a alegação de que “os gastos com a educação eram enormes”, como se educação fosse um gasto e não um investimento.

Mas, na verdade, a principal “obra” que Pedro Leopoldo precisa –  principalmente nos dias atuais –  é o diálogo e a participação do seu povo na tomada das decisões importantes. É uma necessidade básica a implantação do orçamento participativo para que a população, através de associações comunitárias fortes, com representantes de fato eleitos pelo povo, escolha o que é fundamental para a sua rua ou o seu bairro. É o morador – e não o secretário no gabinete do ar condicionado – que realmente conhece as necessidades de sua região.  Também é urgente que tenhamos Conselhos Municipais atuantes na formulação de políticas públicas, bem como na fiscalização dos atos de nossos agentes políticos.

Portanto, minha cara amiga Bianca, não há obra mais necessária do que nós – pedroleopoldenses de nascimento e coração – nos tornarmos, de fato, verdadeiros cidadãos, conscientes de nossos direitos e deveres. Seria um enorme presente da população para o município. A cidade merece e iria agradecer.

 

Qualidade de vida e saúde

Sérgio Bogado, médico

A cidade não tem muito a oferecer aos cidadãos em termos culturais e de lazer para a população. Eu falo há muito tempo que a prefeitura deveria viabilizar o Parque do Capão, que seria uma excepcional área de lazer para a cidade.

Poderia ser feito um concurso nacional convocando arquitetos e urbanistas para apresentarem um anteprojeto para o parque, que premiaria o melhor em dinheiro e com a execução do projeto. A área é ampla, bonita, no centro da cidade e seria um “up” na qualidade de vida da nossa população. E poderia ser executada em fases .

Outro projeto importante seria transformar o PA em uma UPA e eu não entendi até hoje porque isso não acontece, já que ela teria recursos federais para ajudar no custeio. “Pergunte ao secretário” e por aí vai…

 

Criatividade e recursos disponíveis

Vanderlei Dias, Técnico em Telecomunicações 

“Pedro Leopoldo ditosa, essa é nossa cidade. E na terra de Luzia, riqueza é a diversidade.”

Pedro Leopoldo, 98 anos. Uma cidade às vésperas do centenário, mas que ainda sofre com as acnes, as crises e as inconstâncias da puberdade.

Como os adolescentes que estão descobrindo o seu corpo e seus potenciais, a Administração Pública de Pedro Leopoldo precisa urgentemente criar possibilidades de desenvolvimento usando a criatividade e os recursos disponíveis de forma inteligente e sustentável.

Por exemplo, adquirir este imóvel comercial à venda no Bairro Da Lua, na entrada do bairro, e transformá-lo em uma espécie de condomínio Industrial, a exemplo de São José da Lapa. Para isso, basta usar os instrumentos do Plano Diretor e mobilizar recursos orçamentários e jurídicos para este fim. Está aqui uma excelente oportunidade!

 

Só me resta lutar e ficar

Matheus Utsch, vereador

Meu sonho é muito simples, PLANEJAMENTO, claro, sonho e luto por uma cidade arborizada ou por uma via dupla ligando PL à 040 pela estrada do Urubu, mas sinceramente, não estão conseguindo planejar o básico. Isto é estafante no cargo de vereador, é muito mais frustrante que ser cidadão porque a gente não pode fiscalizar o que não existe, o que não foi feito, o que não dá sequer para debater.

Pior que falar de Planejamento e não ser atendido é ter a certeza que não entendem de planejamento e a importância dele na gestão pública. Que as coisas não podem ser feitas como há 40 anos, com muitos cargos aos amigos, um buraco mal tapado de preferência para prestar o mesmo “favor” ano que vem e esperar o último ano para fazer grandes coisas.

Tenho somente 3 anos para lutar muito, projeto de vida, e vou fazer a todo momento porque somos uma cidade onde rola feno, cabeças encimentadas como uma cidade pós-guerra, suja e feia, é com tristeza que falo, muita, sou filho da terra e infelizmente me apaixonei demais para abrir mão deste futuro, só me resta lutar e ficar.

 

 

Um Museu de História Natural

André Martins, jornalista e estudante de Engenharia de Minas

Pedro Leopoldo tem grande parte do seu território protegido ambientalmente. Algo paradoxal para muitas pessoas, principalmente quando a economia do município está em pauta. Bênção, maldição,… é questão de ponto de vista. Além das belezas espeleológicas, como a Gruta do Baú e a Lapa do Antão, sob o nosso solo há cavernas subterrâneas e um aquífero capaz de abastecer toda a região metropolitana. Isso sem falar nos achados arqueológicos e paleontológicos de inegável relevância para a história da vida no continente Americano.

Não há como nem porque fugir de nossa real tradição, que ao longo de muitos anos cogitamos ser – de forma equivocada, a meu ver – a exploração do calcário. Nosso município tem grande potencial ecoturístico e científico. Nesse sentido, um museu de história natural e, paralelo a isso, a definição de um roteiro para visitação dos locais que pontuaram a história do povo de Luzia e da megafauna em nossos domínios seria incrível.

Turismo é renda e tende a fomentar novas ideias, gerando outras possibilidades (aventura, gastronomia, feiras e simpósios de ciência). O turismo é capaz, ainda, de envolver a população na preservação ambiental e na valorização (ou não demonização) do que faz da nossa terra singular a nível mundial. É certo que, com organização e planejamento, é possível conciliar meio ambiente e economia.

E quais seriam os caminhos para pavimentar o nosso futuro? Acredito que concorrendo aos recursos públicos disponibilizados pelos governos federal e estadual, e, se possível, aos de iniciativas internacionais – dado o apelo histórico-científico que um museu de história natural tem. Contar com o envolvimento da iniciativa privada de nosso município também seria importante, seja trabalhando a capacitação das pessoas ou financiamento de uma incubadora de ideias.

 

 

Merecemos ser felizes

Gael Silveira, estudante e funcionário público

Hoje, dia 27 de janeiro, nossa cidade completa 98 anos. Uma história quase centenária, repleta de figuras fundamentais e lugares maravilhosos! Tive a oportunidade de conhecer praticamente cada canto de PL e encontrar pessoas maravilhosas, que fazem minha esperança crescer ainda mais quanto ao futuro da nossa cidade.

Pedro Leopoldo já é grande. Mas podemos sonhar ainda mais alto, em um município cada vez mais desenvolvido econômica e socialmente, sem nunca deixar de vista a preservação de nossas riquezas naturais – que depois de destruídas, não voltarão mais.

Dessa forma, vejo como necessário renovarmos! Renovarmos nossa política, para que ela seja feita de forma participativa, popular, visando aqueles que mais precisam. Renovarmos nossos canais de diálogo, para que não sigam sendo somente ataques anônimos e ameaças, mas sim um espaço de debate. Renovarmos nossa ESPERANÇA, pois MERECEMOS ser felizes e alcançar nossos objetivos enquanto comunidade!

 

Conhecimento não é saber, título não é cultura

Georgina Alves Vieira da Silva, consultora de RH

Chega o aniversário da cidade e, nessas ocasiões, nossos jornalistas querem sempre prestar um serviço a ela, seja por meio de memórias que a eternizam, seja listando personagens ou algo que a caracteriza. Eventualmente sou por eles convidada a alinhavar algumas palavras. Nem sempre me sinto adequada pois embora tenha profundas raízes e afeição pela cidade, não usufruo de tudo que ela oferece. Assim, de antemão peço desculpas caso seja redundante no que hoje proponho. Essa a pauta que a Bianca me pediu: de quê a cidade precisa e como viabilizar o que proponho em, no máximo, três ou quatro parágrafos.

Acompanhem-me nessas imagens:

Estamos em um local na região central de Pedro Leopoldo, com cerca de 1000 metros de terreno. Árvores plantadas de maneira voluntária, mas mediante projeto paisagístico, é cercada por bancos e tamboretes. Neles se veem alunos de escolas públicas com seus pais, em atividades conjuntas, ou debatendo com especialistas um tema contemporâneo e interessante.

Mais ao final do espaço, um conjunto de salas simples, mas confortáveis, comportando cerca de 12 a 15 pessoas. Ali acontecem aulas de música, de composição, de escrita e interpretação de textos. Se leem e se discutem autores literários. Quem sabe um concurso anual de poesias e romances? Desenvolvendo escritores ou literatos. Acolá se ouve uma música clássica ou se aprende um instrumento musical. Sempre começando pelos fundamentos teóricos da música, do instrumento e sua história. Pode ser um filme de arte ou um filme clássico, antigo ou contemporâneo.  Em uma dessas salas há uma biblioteca itinerante: a cada 15 dias as bibliotecas da cidade (Faculdade de Pedro Leopoldo, bibliotecas públicas) emprestam parte pequena do seu acervo para servirem de base para leitura, interpretação e debate sobre determinadas obras. De vez em quando, “um café filosófico”. A Filosofia faz falta. Uma das salas é um laboratório de informática em que se aprende a navegar, a pesquisar, a desvendar seus mistérios binários. E certamente, alguns encontrariam a si mesmos em suas escolhas profissionais.

No meio, um anfiteatro (ou até mesmo um auditório) para 50 pessoas, onde se encenarão peças cujos atores são moradores de  Pedro Leopoldo, estudantes de arte dramática – seja como possibilidade vocacional, seja como instrumento de autodesenvolvimento.

Por que me vieram essas ideias? Por entender que Pedro Leopoldo certamente é das cidades com maiores índices de escolaridade do país e, se fizermos um censo, deve estar entre aquelas que mais geraram mestres e doutores. Daí a razão do título dessa crônica desavisada: temos ótimas escolas que nos deram e dão régua e compasso. Temos dois jornais, uma revista, vários blogs. Para o tamanho da cidade, não é pouca coisa. Mas onde está a cultura? Levada a sério de forma sistemática, fazendo de Pedro Leopoldo uma cidade conhecida por suas realizações no campo da arte e da cultura?

Como levar avante essa perspectiva? Como manter tal estrutura? Como adquirir tal terreno? Precisaríamos, evidentemente, de um projeto. Mas apenas para começar: os alunos de escolas públicas teriam aulas e seminários gratuitos. Os que podem pagar, pagariam uma mensalidade. Poderia ser feito um censo das profissões dos pais dos alunos (os que terão acesso gratuito a esse espaço) e verificar se estão dispostos a doar um dia por mês para jardinagem, conserto de equipamentos, pinturas, serviços de pedreiro, aulas, seminários etc.

Cada sala terá um nome escolhido por uma empresa que a patrocinará. Serão salas pequenas e de baixo custo. Empresas maiores poderiam cotizar a aquisição de terreno privado ou desapropriado pela Prefeitura. O Conselho Administrativo assim como alguns palestrantes serão voluntários com compromissos mensais, planejados por pessoas de notório saber na área e dispostas a devolver à cidade o que ela lhe proporcionou no passado. O pessoal administrativo e de manutenção seria contratado normalmente. Mas não seria necessária uma grande equipe.

Alguns cursos poderiam ser dados por alunos de universidades públicas por meio de convênio com o que estou denominando Centro de Cultura e Artes. De repente, estaríamos com programas de extensão da UFMG, da UEMG e outras que se dispuserem por meio de convênios de estágio. O poder legislativo e o executivo, mediante termos de referência, poderiam destinar uma pequena parte de suas verbas para a sua construção e manutenção.

Poderiam contra-argumentar que temos um bom cinema, auditórios espalhados por vários estabelecimentos, clubes que cedem seu espaço. Não é suficiente. Deveria ser um esforço concentrado e planejado, de forma a abrir seus braços àqueles que dificilmente teriam acesso aos bens culturais. E construir um senso de identidade entre aqueles jovens, fazendo-os sonhar mais alto e mais longe. Isso só acontece em projetos coletivos.

Certamente vem à cabeça, de um ou outro leitor eventual, uma quantidade grande de nomes de pessoas que conhecem e que topariam esta empreitada. Arquitetos, paisagistas, professores, musicistas, engenheiros e vários outros profissionais – aposentados ou não – que cederiam seu tempo, competência e consciência social para viabilizar o Centro. Vamos pensar juntos? E concretizar sonhos?

 

 

 

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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