Dono do bar mais antigo de Pedro Leopoldo, o bar São Sebastião, em frente à igreja homônima, Inácio Alves de Oliveira morreu, aos 67 anos, na véspera do feriado de 21 de abril. Há mais de quarenta anos, Inácio recebia ali seus clientes de todo dia: gente de todas as classes sociais que parava no bar para um cafezinho, um pão de queijo, um ovo cozido, uma cachaça, um tira-gosto, uma cerveja…mas principalmente uma boa conversa. Nas paredes, as bebidas mais estranhas, flâmulas de seu querido Cruzeiro, o mapa de Pedro Leopoldo, as propriedades das plantas, retratos, relógios e outros bichos.
Inácio se formou em Direito, na Faculdade de Sete Lagoas, em 1981. Nunca exerceu a profissão, apesar de ter passado no exame da Ordem e de pagar com orgulho a anuidade da OAB. Inteligente e perspicaz, Inácio tinha opiniões polêmicas e agudas sobre o cotidiano político e econômico do país e da cidade. Ao longo das décadas em que trabalhou do outro lado do balcão, viu Pedro Leopoldo empobrecer, decadência medida na redução das médias de café com leite ou das garrafas de cerveja servidas. Lembrava com saudade de tempos mais generosos, quando boa parte da cidade trabalhava na Cauê e passava por seu bar indo ou vindo da fábrica.
Ouvia a rádio Itatiaia o dia inteiro e não só o futebol – acompanhava editorialistas como Eduardo Costa. Gostava de política e os políticos gostavam dele. O bar do Inácio, como sempre foi chamado, abria as portas todos os dias bem cedinho, por volta das seis da manhã e fechava às oito. Só no domingo ele fechava na hora do almoço. Lá dentro, Inácio estava sempre à disposição, às vezes com a cara fechada, que não era gente de sorrir à toa. Mas a gargalhada era fácil e é dela que seus inúmeros amigos – de todo dia, de toda hora – vão sentir mais falta.