Meu saldo no banco? Briga de foice no escuro? Jogar a árvore de natal na sogra? Gente, a lista de coisas muito feias que podemos ver no dia a dia é enorme, e exorbita-se a cada segundo, mas vamos combinar: pouca coisa nessa vida vai ser tão feia quanto o prédio da Prefeitura desse nosso cantinho. Você joga um balde de Lego na mão de qualquer petiz e em poucos minutos já está pronta uma maquete mais bonita, mais funcional, mais simpática e muito menos triste do que aquela feiúra. A sede da Prefeitura é de uma feiúra ofensiva. O interessante é que não tem beleza interior pra defender: o que tem de feio por fora, tem de feio por dentro. Bem localizado? Creio que sim, mas tendo em vista a estética do negócio, a melhor localização seria no subsolo, longe da vista.
Só que os dias vão passando, e percebo, mesmerizado, que esse conceito do quadradinho medonho se alastra por todos os cantos. Vão sumindo as fachadas históricas e vão aparecendo os prédios modernosos, cheios de telecotecos, mas a grande maioria padece do mesmo mal: tudo sem alma. Lembra do auge do Fusca? Então… havia, não faz tanto tempo, uma variedade tão intensa na indústria automobilística brasileira, tão única… havia modelos dos mais variados tipos, e hoje o que mais tem é carro que parece o outro carro que parece o outro carro. Assim acontece com a cidade. Aos poucos, percebo que moramos numa grande maquete feita com caixinhas de leite, o quadrado predomina, o cinza predomina. Tá bom, eu sei que jamais seremos uma Sabará, uma Ouro Preto, mas eu penso que seria bonito ser exatamente o que já fomos um dia, uma cidade com personalidade, com estilo, com identidade.
E essa semana, pega fogo em mais um imóvel histórico, clássico… que invariavelmente vai acabar dando lugar a mais um caixote, tal qual aconteceu com o imóvel vizinho. Tudo quadradinho. Sinal dos tempos? Ou sinal de que podíamos buscar soluções criativas, mas não o fazemos por razões menos nobres?
A cidade precisa desesperadamente de revitalização, mas não essa patacoada de pintar meio fio e achar que tá lindo. Precisa recuperar sua vocação de acolhimento, inclusive na paisagem. A cidade precisa de espaços de convivência, de espaços que incentivem e inspirem (nem vou falar mais que precisa de um teatro, até as pedras do fundo do ribeirão já sabem disso). E talvez, quem sabe, menos retas, menos quadrados, menos cinza nas paredes e menos cinzas no chão. Quem sabe?