Depois de perder a fábrica da Heineken, Pedro Leopoldo começa a procurar novas alternativas econômicas. Sua vocação como hub logístico pode se consolidar com a criação de uma plataforma multimodal de transportes, que aproveite vantagens da cidade tais como a proximidade do Aeroporto de Confins, de um ramal ferroviário e de várias rodovias importantes, entre elas a LMG 0800 e a MG-424, ambas de pista dupla.
Presidente da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa, o deputado João Leite (PSDB) coordenou, na última sexta-feira, 26/08, uma audiência na Câmara Municipal do município, para debater a possível implantação de um terminal. A reunião trouxe a PL instituições de fomento, governo, concessionárias da área de logística e empresários para discutir a iniciativa, que pode trazer grandes benefícios para a economia local e mineira.
Estavam lá representantes da VLI, da BH Airport, da Invest Minas, da Seinfra, da Assembleia, da Associação Comercial, da Câmara e da Prefeitura, entre outros, convocados pela Assembleia. Na reunião, foram abordadas as diversas variáveis que envolvem um empreendimento dessa natureza.
“Minas Gerais, como nós sabemos, não tem mar. Os terminais de carga são portos que podem receber toda a carga de exportação e mesmo carga interna para distribuí-la através de ferrovia em Minas e em outros estados”, explicou o deputado.
Segundo ele, estes equipamentos estão previstos no planejamento estratégico ferroviário de Minas Gerais, feito pela Assembleia e o Governo do Estado. “Minas deveria ter muito mais terminais de carga. Tem apenas cinco. Para se ter uma ideia, São Paulo, que tem mar, tem 27 e planeja instalar mais de 100 terminais multimodais de cargas. Essa desvantagem logística torna os produtos mineiros mais caros”.
João Leite acredita que Pedro Leopoldo tem as condições ideais para abrigar um desses portos secos. O município tem localização estratégica: está junto à MG-424, à MG-010, próximo das BRs 040 e 381, é vizinho do aeroporto internacional de Confins e ainda abriga um ramal ferroviário da VLI.
Hoje, 100% da carga internacional que vem para Minas é desembarcada nos aeroportos de Cumbica, em Garulhos e no de Viracopos, em Campinas. “Com a vinda de um terminal logístico para Pedro Leopoldo, toda essa carga poderia desembarcar em Confins e distribuída tanto por rodovia quanto pela ferrovia. A VLI tem todo interesse no terminal, já que ela opera em portos como Vitória e Santos”, apontou o deputado.
“Pedro Leopoldo está na 10ª posição em um ranking de 39 cidades mineiras consideradas estratégicas pelo Ministério de Infraestrutura, cujo potencial de implantação de terminais está sendo analisado. O município tem grande potencial e o governo está buscando aprimorar a legislação”, explicou Leandro Costa, assessor da Superintendência de Transporte Ferroviário da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade.
Empresário de Pedro Leopoldo, Gilmar Neves ressaltou que o município, por ser um hub logístico, tem uma posição estratégica para a instalação de um porto seco, que pode integrar os modais rodoviário, ferroviário e aeroviário.
“Estamos ao lado de Sete Lagoas, com muitas indústrias. Para se chegar aqui, de Belo Horizonte, é fácil. Um porto seco pode movimentar R$ 1 bilhão por mês. Se só 1% ficar aqui, já são R$ 20 milhões a mais na arrecadação do município mensalmente. Atualmente, temos um volume de nove milhões de toneladas anuais úteis movimentadas pelo município, sendo que 85% são cargas com alta especialização em granéis sólidos minerais, devido ao potencial calcário da região e a fábrica de cimento na cidade”, salientou.
O Gerente de Negócios da InvestMinas Henrique Maior Soares ponderou que o resgate do modal ferroviário no Estado se torna fundamental devido à sobrecarga das rodovias, que traz alto custo logístico e prejuízos causados pela circulação de milhares de carretas.
“Estamos buscando atrair investidores interessados em ajudar. Em Minas temos duas fábricas de locomotivas. Tendo um plano de negócios definido, podemos ir atrás de investidores, operadores ou fundos de investimento para viabilizar a implantação”, afirmou.
O coordenador de Mobilidade Integrada da BH AirPort, Maurício Rezende Aguiar, ressaltou que uma ferrovia com terminal em Pedro Leopoldo traria muito mais possibilidades de escoamento de cargas, também vindas de portos no Rio de Janeiro.
“Temos um aeroporto industrial para transporte de cargas com até 500 metros de área disponível para indústrias se instalarem e usufruírem dos benefícios para exportação. Um porto seco nos ajudaria de maneira fundamental na movimentação do terminal de cargas. Hoje estamos trazendo essas cargas, que desembarcam nos aeroportos de Guarulhos ou Viracopos, via rodovia e as mercadorias ficam armazenadas no aeroporto até as empresas buscarem”, relatou.
Gerente de Relações Institucionais da VLI Logística, José Geraldo Lima frisou que o Plano de Mobilidade Metropolitana também está em elaboração e pediu a participação de todas as entidades presentes. Um dos quatro eixos previstos pelo Governo do Estado é o ferroviário.
“O momento é de transformação, de mudança de mentalidade. A concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) vence em 2026 e queremos a renovação. O empreendedor que tiver interesse pode construir uma ferrovia em algum trecho, para conectar essas pequenas ferrovias estratégicas a grandes malhas”, destacou.
Coordenador da Unidade Regional de Minas Gerais (Cofer-MG) da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Aurelio Braga sugeriu que faça parte da contrapartida da renovação da concessão da ferrovia a cessão de um terreno de quase 2,5 mil hectares (atualmente em posse da UFMG), que, segundo ele, não tem sido usado em sua plenitude.
Coordenador da Superintendência do Patrimônio da União (SPU) em Minas Gerais, José Osmar Lins também viu a proposta com interesse. “Terra é um ativo escasso que temos de priorizar. Seria interessante colocar sob análise a possibilidade de uso dessa área para a construção do porto seco e também, em parte, para a construção de uma escola de manutenção de aviões, que não tem na cidade”, completou.
“Importante é que nós estamos dando o chute inicial em um empreendimento que muitas cidades querem. É uma grande oportunidade, mas é um processo. Estamos apresentando a quem quer empreender uma grande proposta”, afirmou João Leite.
A assessoria da prefeita de Pedro Leopoldo, Eloísa Helena (MDB) informou que o gabinete irá acompanhar e avaliar o projeto. “Sendo positivo para o município, terá todo apoio da prefeitura de Pedro Leopoldo”, disse a nota da assessoria.
Presente à audiência, o empresário Emiliano Braga destacou a presença de importantes quadros do governo estadual, o que, segundo ele, sinalizou respeito pelo potencial do projeto. “Uma notícia como essa, por si só, aquece o mercado para áreas industriais. Sei por corretores locais que a procura por elas já aumentou”, informou ao AQUI PL. “É uma perspectiva que anima as pessoas e volta a trazer esperança para a cidade”, acrescentou.
(com cobertura do site da ALMG e reportagem publicada no Diário do Comércio: https://diariodocomercio.com.br/economia/pedro-leopoldo-avalia-criar-terminal-multimodal/)