A mãe de Paulo conta que, desde a gravidez, “era só ouvir o latido de um cãozinho, que ele se mexia na barriga”. Nada a estranhar, então, no fato de, hoje, aos 28 anos, Paulo Valiceli seja, além de técnico auxiliar de veterinário, um protetor das causas animais em Pedro Leopoldo e, em especial, na região norte da cidade.
Hoje ele sabe que há pessoas que amam e cuidam dos animais, mas também aquelas que cometem grandes violências contra eles. Abandono, negligência, espancamentos, queimaduras, tráfico de animais silvestres, zoofilia, promoção de rinhas, esgotamento de matrizes devido à exaustiva reprodução, caça ilegal e uso de animais para fins recreativos – estas são algumas das barbaridades que ele já encontrou em seu incansável trabalho de resgate e proteção de cães e gatos que não têm quem lute por eles.
Paulo é testemunha de uma realidade que ninguém pode negar: em nossa cidade, é cada vez mais comum encontrar cachorros e gatos abandonados nas praças e ruas. “Assim como muitos animais são amados por seus tutores, outros são simplesmente descartados como mercadorias sem valor. Tornam-se animais errantes, que podem sofrer de fome, desnutrição, parasitas, doenças, envenenamento e outras formas de abuso”, conta o cuidador. “Os casos de abandono de animais são um problema grave, que causa prejuízos para a ecologia, a economia, a saúde pública e o bem-estar dos animais”, completa.
O Brasil tem a segunda maior população de cães do mundo. Os cachorros que já possuem um lar somam 52,2 milhões e os gatos, 22,1 milhões, diz o IBGE. Cerca de 20 milhões de totós vivem em condições de rua. Estima-se que 70% deles sejam semi-domiciliados. Ou seja, recebem cuidados de uma pessoa ou da comunidade, mas vivem parcialmente na rua. E outros 10% vivem totalmente abandonados. Aqui em PL, Paulo acredita que estes sejam algo em torno de 250 a 400 animais.
Os descartes acontecem nos parques, praças, estradas e portas de pet shops. Nem os hospitais veterinários públicos escapam. “Há quem interne o animal doente e não volte mais”, conta Paulo. Segundo ele, os cães com maior risco de abandono são aqueles com problemas comportamentais, obtidos de abrigos ou a baixo custo, com idade igual ou superior a seis meses, não castrados, além dos que não foram adestrados.
Uma tarefa que não tem fim
Há oito anos, Paulo realiza o trabalho de resgate dos animais abandonados. Neste período, foram 166 animais tirados das ruas direto para as ONGs que o ajudam nesta missão. A ração doada por amigos é distribuída em pontos facultativos da cidade, como praças, portas de comércios, obras abandonadas, estradas. “Alimentei 6.432 cães de rua em quatro cidades, Pedro Leopoldo, Matozinhos, Confins e Belo Horizonte”, contabiliza. A tarefa consumiu mais de 50 mil quilos de ração. “Só no centro de Pedro Leopoldo, foram 122 animais recolhidos e encaminhados para doação”, calcula Valiceli.
Importante, segundo Paulo, é conscientizar a população do abandono, que é nacional e se repete em nossa cidade. Outra questão fundamental, que está diretamente ligada à solução desses problemas e deve ser discutida com seriedade é a da castração. Afinal, ela evita o abandono e muitas doenças dos animais. Ele sabe que, por mais que existam cuidadores sérios e bem-intencionados, o problema precisa de uma solução mais eficaz. Seu projeto para isso é a criação de uma unidade de castração pública para Pedro Leopoldo, que possa ser instalada com ajuda parlamentar, ongs amigas e um grupo de veterinários que são sensíveis ao problema.
“Ao longo da minha vida tenho convivido com essas situações de crueldade com os animais. A todo momento, me deparo com maus tratos que denotam o menosprezo do ser humano com os animais”, lamenta o cuidador. Ele lembra que o abandono de animais é uma forma de maus-tratos, crime tipificado no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/98). E que o abandonador está sujeito a uma pena de detenção de 3 meses a 1 ano, além de multa. “Respeitar os animais é uma obrigação, amá-los é um privilégio”, finaliza Paulo.
Como ajudar animais de rua?
Para quem tem a intenção de adotar ou ajudar um animal, Paulo Valiceli aproveita sua experiência para dar algumas dicas.
– É preciso muito cuidado ao se aproximar de um animal que está na rua. Um bom truque é esticar a mão para que o cão possa sentir seu cheiro ou oferecer um petisco se tiver.
– Se for preciso pegá-lo no colo, enrole-o em um cobertor ou providencie uma focinheira.
– Apesar de existirem “abrigos” para os animais, a maioria como ONGs e Centros de Controle de Zoonoses enfrentam superlotação, falta de recursos e dificilmente poderão cuidar tão bem quanto você. De um jeitinho!
– Um lar provisório não precisa ser perfeito ou espaçoso. Ter uma área de serviço ou um cantinho no quintal, onde o animal resgatado possa se proteger do frio e do calor já é o suficiente. Improvisar uma cama com um cobertor ou um moletom velho pode ajudar.
– Tenha cuidado quando encontrar um possível dono. Muita gente acha o animal fofo e adota por impulso, sem considerar que esta é uma responsabilidade para 10 a 20 anos. Procure conhecer a pessoa, pergunte se ela tem outros animais. De nada adianta adotar o pet e depois abandoná-lo novamente.