Ah, os humores e amores de uma cidade que é praticamente um bairro da capital, mas que não nega sua vocação pra cenário de novela das seis… Chego ao trabalho e o assunto não é outro, o whatsapp fervilha com fotos e comentários!
E olha (ou não olha, caso haja constrangimento) que nem foi aqui, foi em alguma cidade vizinha, que eu nem me dou ao trabalho de registrar o nome porque poderia ter sido em qualquer uma do mundo e a reação seria a mesma: os pudores do populacho local foram levados aos limites, com a divulgação extraoficial de uma reunião de adeptos do naturalismo (ou naturismo), que teria ocorrido nas imediações da Pedro Leopoldo ditosa e progressista. Confins, Matozinhos, sei lá onde,… É, amigo leitor, aquele pessoal pelado. Fotos e vídeos compartilhados exaustivamente, a notícia abunda!
Todo mundo nu.
E tome investigação pra saber quem são, como vivem, como se reproduzem! O episódio despertou o Caco Barcellos que andava sorumbático, macambúzio, atoladinho nas entranhas da alma investigativa do povo!
E tome avaliação do episódio, com as mais aprofundadas análises sobre a psique dos desnudos, esse povo ousado que resolveu ser espetaculoso e fazer exposição da própria figura. Foi de “bando de sem vergonha”, passando por “malucos”, com pitadas de “cuidado com as crianças” e notas de “conheço esse aí e nunca me enganou”. Ah, os humores e amores…
O resumo dessa ópera é que eu ouvi de tudo por causa do povo pelado… menos qualquer tipo de observação do tipo “alaó, tá sorrindo, cuidando da própria vida e não enchendo o saco de ninguém”. Não deixa de ser significativo, quando a gente observa esse singelo pormenor.
Lá longe do que sou hoje, bem na página 234 do livro que escrevo a cada dia dessa minha confusa existência, um personagem quase esquecido dança de forma desconexa e infantil, sorri, enquanto grita aos transeuntes:
Desnudai-vos!
E no fundo, enquanto conjecturo sobre a vida que insiste em nos deixar pelados, seja em Santos ou Istambul, eu percebo que bundinhas ao sol não revelam mais da alma das pessoas do que esse monte de abraços tortos, tão comuns e tão faceiros quanto os que recebemos em ano eleitoral, os abraços e apertos de mão capazes de selar a mais legítima e desinteressada paz entre quaisquer desafetos jamais declarados.
Desnudai-vos, pois, de seus medos e temores, e deixai cair a toalha, meus amigos, aproveitem o sol, a vitamina D e a chance única de observar bem de pertinho os humores e amores que movem esse nosso cantinho…