O triste apagar das luzes do centenário

O triste apagar das luzes do centenário

Um artigo de Camila Rajão #

A forma como encerramos os ciclos de um projeto, um trabalho ou até uma gestão política diz muito sobre todo o processo. Na maioria das vezes, o fim é mais significativo e simbólico do que o começo. E assim, chegamos a dezembro de 2024 em Pedro Leopoldo. Chegamos ao fim do ano que celebra o centenário da Progressista do Sertão. E como a cidade finaliza o ano?

O brilho e a esperança sinalizados pelo Natal não apareceram até agora. Talvez Papai Noel tenha se esquecido de nós. Será que nos comportamos bem para merecer um presente? Não há luzes e decoração natalina para enfeitar nossas ruas. Alguns dirão que beleza é algo supérfluo, algo desnecessário frente às necessidades básicas da população. Não deveria ser, afinal, uma cidade bem cuidada e bonita eleva a autoestima da população, traz felicidade e bem-estar. Mas sigamos pelos destroços do fim…

Andamos pelas ruas e surpresa, há montes de lixo, ensacado e espalhados pelo chão, por todos os lados. Foram três dias sem coleta e o calor do sol, que democraticamente recai sobre todos, aqueceu o conteúdo fétido dos rejeitos da população. Não temos decoração natalina, mas temos odor especial para as comemorações de fim de ano, assim como convidados de honra. Sejam bem-vindos ratos, baratas, moscas e mosquitos da dengue.

Ao mesmo tempo em que as luzes natalinas estão apagadas, em que a coleta do lixo está suspensa pelo atraso nos pagamentos para a empresa responsável, recebemos com tristeza e indignação a notícia do encerramento das atividades da Banda de Música Cachoeira Grande, também motivada pela ausência dos repasses acordados com a prefeitura municipal. Mais de 180 estudantes de música são prejudicados, sem contar as perdas para a cultura da nossa cidade e os efeitos para a Corporação Musical São Sebastião, de Vera Cruz, que atua em parceria com a Cachoeira Grande.

De forma honrosa e compromissada, os professores da Banda continuaram o trabalho sem receber por aproximadamente 6 meses. Meio ano trabalhando de graça, meio ano de descaso. E os boletos? Esses nunca param de chegar. Aflição para famílias que trabalham para honrar suas contas. Meio ano de tentativas de contornar a situação, mas o detalhamento disso daria sozinho um outro texto.

Pelos bairros da cidade, ruas esburacadas, praças malcuidadas, bairros feitos em descaso. Muitas obras sem finalização, esqueletos iniciados às pressas na porta de uma disputa eleitoral. Nova malha viária, novas unidades de saúde e muitas outras promessas do por vir, de um futuro que talvez chegue, talvez não. Quem sabe a valorização da cultura da gestão seja a apresentação dessas encenações teatrais de gosto e qualidade questionável, a velha política romana de pão e circo.

Não temos decoração, não temos brilho, não temos música, não temos respeito à cultura, não temos cuidado com a cidade, com sua história e com as pessoas. Temos lixo, desculpas e inoperância esparramados pelo chão. Tudo isso para coroar o centenário de Pedro Leopoldo. Que cenário! Tão simbólico… Será esse o destino que queremos projetar para o município e sua população para os próximos 100 anos?

Camila Rajão

Historiadora e mestre em Letras, atua como professora da rede pública de ensino e pesquisadora nas áreas de História e Literaturas africanas. É presidente do Partido dos Trabalhadores em Pedro Leopoldo

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