Um artigo de Thaís Balbino*
Há algumas semanas, li o artigo “Pedro Leopoldo está feia demais” publicado por André Santos, aqui mesmo no “AquiPL”. O artigo, muito bem escrito, traz verdades sobre a nossa cidade que me fizeram refletir: Pedro Leopoldo não está perdendo apenas sua beleza e suas casas antigas, está perdendo também sua essência e história.
Ao completar 100 anos de idade e sendo uma das maiores e mais desenvolvidas cidades próxima do Aeroporto Internacional, é claro que PL tem lugares, pontos turísticos e muita história pra contar. Afinal, é a terra que abrigou Luzia, Fernão Dias, Chico Xavier e tantos outros… Pensar em ser e se inserir no contexto e na rota turística, requer no mínimo restauro, preservação e conservação do patrimônio, para início de conversa.
E por falar em patrimônio, recentemente perdemos boa parte do casarão tombado na praça Dr. Senra. Recordo que foi também um incêndio que, em 2018, atingiu e danificou drasticamente não só o palácio que abriga o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, mas também parte do acervo. Incluindo o crânio de Luzia (que felizmente, foi recuperado).
Em 2022, participei do curso “Após os Danos” (na tradução literal) ofertado pela Escola de Verão Internacional da Universidade de Ferrara (Itália), onde tive a oportunidade de estudar o incêndio do próprio Museu Nacional, as possíveis medidas tecnológicas protetivas que poderiam ter amenizado ou até mesmo evitado o incêndio, e também o projeto e plano de restauro.
Alguns meses depois, através de outro curso, desta vez pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), tive a oportunidade de visitar e acompanhar o início das obras de restauro do Museu Nacional, que, hoje, já está parcialmente aberto ao público para visitação.
Através destes estudos e experiências, uso o caso do Museu Nacional para dizer que um incêndio não é motivo suficiente para demolir um patrimônio tombado e que é sim possível restaurar o casarão da praça Dr. Senra e sua história. Mas também para questionar: o que vai acontecer agora? Com este casarão e com os próximos?
Em conversa com amigos e clientes, ressalto que muitos dos casarões que infelizmente já perdemos ou alguns dos poucos que ainda temos, poderiam, certamente após o restauro e uma boa iniciativa de preservação, se tornar a sede da prefeitura municipal ou de uma de suas secretarias.
A casa do saudoso prefeito Cecé era um bom exemplo. Se foi a casa e, com ela, diferentes possibilidades de uso. No lugar dela, instala-se um grande edifício que, apesar de gerar alguns ganhos, gera ainda mais perdas, como prejuízos para o trânsito e a mobilidade urbana, para o patrimônio cultural e histórico, o que consequentemente contribui para a piora da qualidade de vida.
Afinal, as mudanças feitas sem um bom planejamento envolvendo o macro, ou seja, a cidade, impactam diretamente na vida do micro, que é o indivíduo e suas necessidades. Aproveito o espaço para agradecer minha cliente Vânia Viana pelo incentivo à escrita deste artigo.
*Thaís Balbino é Arquiteta e Designer