O que eu quero ganhar de Natal

O que eu quero ganhar de Natal

Caro Papai Noel,

Há muito tempo eu não ganho presentes no Natal. Este ano, recebi pela Amazon uma “caneca de jornalista” da minha amiga Margarida e já está de bom tamanho. Não estou mais em idade de querer ganhar um celular novo – se bem que o meu está rateando, viu? – ou mesmo aquelas meias que todos os meus amigos reclamam de receber de seus netos.

Mas a minha cidade, que é mais velha do que eu e ainda é uma mocinha, precisa de muitos presentes. Ah, precisa…. a lista de presentes é imensa.  Nesta carta, vou me ater a algo que falta em toda a cidade e, em especial, ao centro da cidade, que é território de todos. É aqui, nas cercanias da Comendador Antonio Alves, que os pedro-leopoldenses trabalham, passeiam, fazem compras, procuram documentos, estudam, vão ao banco, se divertem, almoçam ou tomam uma cerveja.

Neste corre (que antes era corre-corre) do dia a dia (este ainda em duplicidade), o que mais salta aos olhos é a ausência de árvores. Numa cidade em que a terra é tão cara, aquilo que mais a valoriza, a vegetação, mal existe. Nos dias quentes que prenunciam tempestades, é praticamente impossível achar uma sombra para quem percorre as ruas do centro da cidade. Aqui e ali, alguns oásis, como os jambeiros da rua Romero Carvalho, as paineiras do início da rua Herbster ou as muitas espécies da Praça da Estação, mostram seu poder de refrescância: a temperatura cai uns cinco graus nas suas imediações e o ar fica sensivelmente mais puro.

Mesmo assim, Pedro Leopoldo parece que não gosta de árvores. Onde antigamente elas vicejavam nos passeios, restaram apenas seus tocos, impedindo inclusive que novas árvores sejam plantadas. A desculpa são as folhas, aquelas mesmas que encantam nos parques de Paris e Nova Iorque e não precisam ser varridas, porque adubam o solo ao se decompor. Outro “terrível malefício” provocado pelas árvores são as “ondas” que suas raízes provocam nos passeios. Ora, por que não substituí-las, começando pelos tocos, é claro, por espécies mais adequadas ao espaço público? Por que não fazer como em Belo Horizonte, que está criando minibosques em avenidas como a Antonio Carlos? Aqui, eles seriam muito bem vindos nas praças, cruzamentos, canteiros centrais das avenidas, nos passeios da arena do Rodeio Show.

Entra prefeito, sai prefeito e nenhum deles pensou em arborizar a cidade. Pelo contrário, suas administrações apenas cortam árvores. O vereador Matheus Utsch calcula que a prefeitura não planta uma árvore há pelo menos seis anos.  Iniciativas esparsas, como as do Rotary ou do movimento Cidade do Cuidado, da Camila Rajão, têm grande importância, mas, cá entre nós, neste momento em que precisamos tanto, são como gotas de chuva no deserto. E, falando em chuva, eu queria muito, Papai Noel, que essa chuva que tanto ansiávamos, pare por aqui. Ou continue, mas com mansidão, como cantiga de ninar. Porque como diz a balada da caridade, para ele, meu pobre irmão, “a chuva fria vai entrando em seu barraco, e faz lama pelo chão”. Quando não provoca tragédias já anunciadas.

Muitas delas porque faltam árvores, sabia? Afinal, árvores contribuem para evitar deslizamentos de terra, pois a vegetação protege o solo e ajuda a reter a água. Árvores só fazem o bem, além de enfeitar este nosso mundo que precisa tanto ficar mais bonito. Enfim, neste Natal, Papai Noel, eu quero árvores. Não só de Natal, mas de ano Novo, Páscoa, verão, inverno, outono e primavera. Elas não precisam ter luzes, mas folhas, flores e frutos. Quero que Pedro Leopoldo seja uma grande Praça da Estação, para onde todos possamos fugir nos dias de calor intenso. Onde as crianças brinquem e os idosos se refresquem, e que os jovens se orgulhem de pensar o futuro, que, afinal, é deles.  Feliz Natal para a minha cidade e um ano novo cheio de árvores para todos.

 

 

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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