Nesta semana da Mulher, o site AQUI PL publica reportagens em que o olhar feminino aprofunda impressões na política, no meio ambiente, nas ações sociais e na pandemia de Covid, que há um ano assola o mundo, entre outros assuntos. Vamos ler e conhecer essa contribuição efetiva das mulheres ao mundo em que vivemos, mais do que nunca necessária diante dos desafios que enfrentamos no nosso cotidiano.
A NATUREZA SE MANIFESTA NAS MULHERES
Aline Dias, esposa, mãe, administradora de empresas e ambientalista
Comecei a defender o meio ambiente ainda jovem. Tive a sorte de crescer num ambiente onde havia árvores e uma área verde próxima. Eu e os meus irmãos assistíamos Jacques Cousteau e brincávamos com uma enciclopédia científica. Essas pequenas coisas, ensinadas com detalhes por meus pais e especialmente por minha mãe, marcaram a minha personalidade feminina. Foi com ela que aprendemos a separar os materiais recicláveis e os resíduos orgânicos; estes últimos sempre foram reaproveitados e compostados no quintal de casa, onde havia uma horta.
Separávamos os recicláveis mesmo antes da criação de associações de catadores na cidade. Sempre podemos aprender e praticar coisas boas. Antes, não existia o termo: “coleta seletiva”, fundamental nos dias atuais. Hoje, o quintal da casa dos meus pais encontra-se repleto de árvores, altas e belas, que foram plantadas por minha mãe. Brincar com a terra, plantar sementes, molhar, cuidar das mudas até que elas cresçam, andar descalça, sujar as mãos e os pés, tudo em meio à sombra das árvores, sentir o cheiro do mato, pisar em folhas, conversar com os pássaros, tudo isso e mais mil e uma brincadeiras que um espaço verde permitia fazer, foi essencial para que eu me tornasse o que mais me define hoje: uma ambientalista! A alimentação saudável e as atividades físicas ao ar livre também são uma grande paixão adquirida. O contato com a Natureza traz vida, paz, alegria, saúde física e mental.
No momento de dar à luz, na hora do parto, percebemos que nós, humanos, somos uma fração do reino animal, uma pequena parte de algo maior. A natureza se manifesta nas mulheres e elas também precisam perceber que o ciclo de uma vida humana depende da vida dos outros seres vivos que necessitam ser respeitados e preservados, em perfeita harmonia e equilíbrio. Até mesmo para ensinar aos seus filhos esse amor às outras formas de vida que conosco co-habitam na face da Terra.
Isso eu aprendi com a minha mãe e com a ”Enciclopédia do mundo animal”: os humanos são apenas uma das milhares de espécies de seres vivos. Sem o equilíbrio entre as espécies, nós morreremos. A história natural e a ciência estão à disposição pra quem quiser aprender. Defender o meio ambiente significa defender a vida humana e prolongar a nossa existência na Terra, nossa “Casa Maior”. O planeta continuará no Universo por mais tempo, com ou sem os homo sapiens.
A LUTA É PELOS DIREITOS DE TODOS
Ana Paula Santos, vice-prefeita de Pedro Leopoldo
Estar como vice-prefeita já é um desafio enorme, considerando as responsabilidades normais do cargo. E a missão se torna ainda mais desafiadora quando percebemos a baixa representatividade das mulheres na política, por diferentes motivos. Percebe-se que a caminhada em busca da igualdade de gênero na política parece longa e árdua, mas é imprescindível que não seja interrompida. Busco diariamente romper todos os possíveis preconceitos, baseada sempre na confiança na minha capacidade, e, sobretudo, na capacidade da competente equipe da atual administração.
Ser a primeira vice-prefeita de nosso município é motivo de muita honra e orgulho para mim. Com humildade, responsabilidade e dedicação, tento representar a todos, mulheres e homens dessa cidade, da melhor maneira possível. O mais importante é que, independente de gênero, é imprescindível a busca constante por uma sociedade mais igualitária e mais justa. Vamos continuar na luta por nossos direitos e pelo direito de todos os nossos moradores.
A todas as pedroleopoldenses, meu carinho e desejo de um feliz dia da mulher!
A HORA E A VEZ DAS MULHERES NA LUTA CONTRA A COVID
Vânia Beatriz Viana, médica veterinária
Ao completar um ano do isolamento em que me coloquei, duas são as visões que tenho desse momento especialmente triste que vivemos:
- Como técnica, acreditei que deteríamos a propagação do coronavírus, através da utilização dos conceitos básicos da epidemiologia. Faríamos detecção e vigilância de contatos e teríamos a população imbuída da necessidade de se preservar nesse processo, através das máscaras, do distanciamento social e da higienização. Ledo engano…
- Como mulher e chegando aos 60 anos, mais do que nunca quero viver junto aos meus familiares, mas estou sempre apreensiva quanto às condições a que eles se expõem no trabalho e, consequentemente, expõem a mim e a outras pessoas mais vulneráveis com quem convivem. Sinto na carne muita dor ao saber do adoecimento e morte de amigos e conhecidos, e o que padecem seus familiares e amigos.
Hoje, só posso esperar que haja um esforço conjunto de governos e população para que vidas sejam preservadas. Nisso, a mulher tem a sensibilidade para não só querer mas agir para que ninguém morra ou sofra as consequências pós-Covid. Nessa hora, ela assume o papel da cuidadora, da protetora do seu lar, da sua vizinhança, do seu bairro, cidade ou país. Acredito que nossa força nos ajudará a ajudar milhares de pessoas a entender o momento que vivemos. E o que temos que fazer para sair dessa. O ser humano é nossa maior riqueza.
QUE TAL MUDAR NOSSA IMAGEM DIANTE DA MIDIA NACIONAL?
Bianca Alves, editora do site AQUI PL
Na aridez quase absoluta de boas notícias que caracteriza os dias atuais, uma me chama a atenção pelo que traz de bom e inspirador. E, coincidência ou não nesta semana da Mulher, a historia tem como protagonistas 15 mulheres ouvidas em uma reportagem do canal Globo News em Recife. Que coisa mais linda a existência, na capital pernambucana, de um grupo de catadoras e recicladoras, que está dando novo destino e serventia para as embalagens de plástico que todo dia são descartadas às toneladas em todo o país.
Um detalhe: a prefeitura de Recife tem à frente um menino, o João, filho do falecido governador Eduardo Campos e, na secretaria de Inovação Urbana, outro menino, Tullio Ponzi. Neste projeto, eles somam a inovação obrigatória em sua geração a algo que muitas vezes é raro entre os jovens: a sensibilidade social. Afinal, este é um projeto que “mata dois coelhos com uma caixa d’água”: protege o meio ambiente, reduzindo o acúmulo de lixo nos cursos d’água e auxilia as famílias, gerando renda e, consequentemente, proporcionando uma vida mais digna para as participantes.
Ah, mas projetos de reciclagem existem em todo o país, inclusive em Pedro Leopoldo, certo? É, mas este tem um diferencial, que é justamente agregar valor ao que é catado e reciclado. Lá, a prefeitura investiu em duas máquinas e ensinou as mulheres a operá-las. Uma delas tritura o plástico e a outra transforma o material em fibras longas, que podem ser moldadas e “tecidas”.
São máquinas de upcycling, instaladas na Cooperativa Ecovida Palha de Arroz. Num estado, Pernambuco, que tem a tradição de cestaria, de renda, as mulheres da cooperativa “tecem” lixeiras, copos, vasos para plantas, saboneteiras, fruteiras, baldes para banheiro e roupa suja, entre outros objetos.
Por que não fazer a mesma coisa em Pedro Leopoldo? Já temos aqui um grupo de catadoras com formação em reciclagem, apoiadas pela prefeitura e por empresas. Mas é necessário ir além: se nossa cidade quisesse fazer uma coleta seletiva de verdade, teria que investir mais. E não é tanto dinheiro assim: as duas máquinas custaram pouco mais de R$ 17 mil. Com elas, seria possível fabricar, por exemplo, cestos de lixo (seco e molhado) a serem distribuídos nas casas, o que facilitaria a separação, além de gerar renda imediata para as recicladoras.
Um projeto autofinanciável, que reduziria o lixo que vai para o Aterro de Sabará e, com isso, o valor pago pela Prefeitura. E que transformaria Pedro Leopoldo em cidade-modelo na destinação de lixo e aproveitamento do material reciclável. Neste momento em que a mídia nos vê tão negativamente diante dos tropeços na vacinação, que tal mostrar que podemos fazer algo realmente bonito, inovador e útil para todos?
Nascida em BH, mas pedro-leopoldense de coração desde 1983, filha do Pedrão e da Dona Neuza, sou tipicamente mineira. Discreta, inquieta e longe dos holofotes, sempre gostei de atuar nos bastidores das ações, sejam elas estudantis, sociais ou profissionais. Por isso que o ano de 2020 foi tão diferente e desafiador pra mim.
Certa de que só por meio da política era, e é, possível fazer as transformações necessárias, na época filiei-me a um partido que mais se aproximava dos meus ideais no município. Sem sucesso e vivenciando na pele a discriminação e o machismo, bruta diferença entre a teoria e a prática, conheci um universo político municipal totalmente masculino, como se ali não fosse lugar para mulheres. Fui tomada por um mix de tristeza e revolta em reconhecer que nós, mulheres, timidamente contradizemos esta herança histórica. Persisti! Resisti! Perseverei! Adequei minha filiação, trabalhei nos projetos partidários. Pedro Leopoldo se tornou pauta e, dentre os membros comuns da cidade, foi criado o núcleo em nosso município. Realizamos vários encontros, criamos musculatura, trabalhamos focados em um ideal que não se consolidou como almejamos, mas se tornou realidade de uma forma muito melhor, com o Movimento ProPL.
Escolhemos Pedro Leopoldo como nossa bandeira e diante das eleições municipais, diferentes diretrizes políticas foram analisadas para a construção de uma chapa competitiva. Sem apego às candidaturas, os membros do Movimento colocaram seus nomes à disposição, inclusive eu. O objetivo era oferecer à cidade uma chapa preparada para vencer e/ou perder as eleições, mas fazer as pessoas pensarem a política de uma forma diferente: para o desenvolvimento do município. Ano atípico que vivemos em 2020 com toda transformação no trabalho, dediquei-me também ao partido, aos projetos dos Embaixadores Liberta Minas, Associação de Mulheres Empreendedoras do Vetor Norte de BH da qual sou cofundadora, voluntariado no Projeto Justiceiras e com a Fundação Cultural Chico Xavier.
A decisão de concorrer às eleições como candidata a vice-prefeita foi um momento inenarrável! Por um longo tempo, vi-me jogada para fora da zona de conforto com a certeza de que não seria fácil, não seria rápido, mas que valeria a pena pelo propósito e pelo grupo. Certa de que não existe um salvador da pátria, senão a vontade e o trabalho de realização, concorremos no pleito bravamente. E valeu muito a pena!!!
Avalio minha participação nas eleições municipais como uma lição de vida! Rica experiência porque não abrimos mão dos nossos princípios, dissemos não para aquilo com que não coadunamos, construímos uma campanha respeitosa, com ambiente político leve e saudável, além de levarmos para as ruas os princípios que trazíamos nos nossos corações.
Sinto-me privilegiada pela coragem de participar e de dividir a chapa com meu nobre amigo Emiliano Braga, a quem tanto admiro e respeito. Compreendi que não é fácil fazer o que tem que ser feito, mesmo não agradando a todos; que uma conversa republicana, em um ambiente em que as pessoas se sentem iguais, favorece um diálogo franco. Quando as pessoas percebem que a opinião delas importa para o poder público, a reação é transformadora, muda a perspectiva das pessoas sobre a cidade e o mundo.
Dividi a experiência de ser mulher em uma campanha política “real” com outras cinco amigas guerreiras, orgulho de todas que enfrentaram o pleito em 2020, um dos pleitos com maior participação feminina da cidade. Estejam certas, Mulheres, de que podemos fazer muito para tirar as pautas femininas da invisibilidade no nosso município.
Por fim, para que cesse a falta de representatividade da mulher nas nossas instituições municipais, o que acaba colocando as pautas femininas às margens dos processos de elaboração das políticas públicas, é necessário que as munícipes entendam a importância de conquistar e ocupar os espaços de forma efetiva. Uma realidade que traria equilíbrio e equidade às discussões públicas e decisões que envolvem nosso município.
E o que é melhor, podemos fazer isso juntas.
É DE AMOR QUE DEVEMOS NOS INUNDAR PARA CABER EM NÓS MESMOS
Eliane Matilde, educadora