Filho do saudoso Geraldo Panela Cheia, Haroldo Luiz Moraes Gonçalves saiu de Pedro Leopoldo em 2012. Segundo ele, pegou uma nave espacial para outro universo, mais precisamente para os Emirados Árabes Unidos. Chegou com a proposta de trabalhar em um hotel em Abu Dhabi, o Intercontinental, de cinco estrelas. Fez os exames e, depois de dez dias, começou a preparar suas caipirinhas, exercitando o ofício que aprendeu em PL, ao lado de amigos como Jorge Henrique, o Chandele do Estação do Espeto. Além do inglês e o espanhol das professoras Geisa e Olga, reforçados pelos “Buteco in English”, com o amigo Leandro Guimarães – jeitinho de treinar o idioma entre cervejas no restaurante do Adelso.

Haroldo deixou para trás um sem número de atividades, a começar pelo Comércio Exterior, no qual se formou pela Fatec Internacional, a fotografia e o vídeo (foi editor na M-Vídeo) e a música – Haroldo tocou teclados no The Phuntos, Sambalados e na banda Por do Sol, de reggae, que inclusive ganhou um festival em Lagoa Santa. “Eu ia e vinha de Dubai. No Oriente Médio, pude trabalhar, aperfeiçoar o ofício da coquetelaria, a enologia, turismo e hospitalidade. Foram dezenas de cursos relacionados com embaixadores de marcas famosas. Top!”, conta Haroldo, que acabou conhecendo lá a esposa, uma francesa que o trouxe para Paris no final de 2014. “Me casei e hoje sou um bom barman, segundo os clientes do hotel em que trabalho”, diz o pedroleopoldense.

O hotel é o Villa Panthéon, um 4 estrelas no Quartier Latin, próximo à Catedral de Notre Dame. “Às vezes, tenho o privilégio de falar português com brasileiros que aparecem por aqui. E se eles forem legais, eu até dou um passeio com eles. Hoje mesmo eu levei um casal super-simpático da Paraíba pra conhecer um pouco mais da cidade-luz”, revela Haroldo. Privilégio maior é encontrar os conterrâneos: “já experimentei estes bons momentos vivendo em terras longínquas. Há ainda os amigos que a gente vai fazendo pelos caminhos, que maravilhosamente se cruzam outra vez”, filosofa.

Viver na cidade mais turística do mundo torna Haroldo aberto a novas experiências, como a de sentir-se turista todas as vezes que vai para o trabalho. “Tento sempre fugir da rotina, tomando diferentes tipos de transporte. Não gostaria de perder aquela sensação de emoção quando passo em frente a um monumento. E o bom é que eles estão por toda parte”. Na profissão, coleciona sucessos. “Meus drinques são muito bem aceitos pelos clientes. Recebo ótimos comentários no Tripadvisor sobre o atendimento que presto no bar, meus cocktails e a atenção extra aos clientes, tão rara por aqui já que o SAC parisiense é uma divina merda”, aponta Haroldo.

Como barman, ele já ganhou vários prêmios. Em Abu Dhabi, foi o Best in service, promovido pela Agência Ahlah. Em Paris, é uns dos 500 melhores barmen da França pela pesquisa do Tripadvisor. “O segredo é ir além das expectativas do cliente. Mesmo colocar uma música que o cliente escolha pra tocar no bar, já o deixa mais feliz. Afinal, esta é a missão de um barman”. Um dos destaques em seu modo de trabalhar é o samba que batuca com as mãos no preparo da caipirinha, um dos drinques mais apreciados pelos clientes. “Conto muito da minha experiência para eles, enquanto relaxam no bar. Alguns dizem que as histórias que vivi até chegar aqui seriam dignas de um livro”.

Nesses quatro anos, Haroldo estudou, aprendeu, errou e acertou muito. “Foi muita batalha, com perdas e dores pelo caminho. E ainda estou correndo atrás. O negócio é estar sempre agindo. Este foi um dos segredos que descobri depois que comecei a correr o mundo com minhas pernas”, revela nosso conterrâneo. “Viver longe dos amigos, família, papagaio, cachorro, endurece o coração para algumas coisas, mas abre os braços para outras. Sinto saudades. Muitas saudades. O prazer que tenho quando volto à terra natal é enorme. Morro de pena de quem não sente isso”, finaliza.