Nós e as mulheres da nossa terra

Nós e as mulheres da nossa terra

A matriarca Rita Viana (marcada em azul) e sua grande família

Um artigo de Letícia Mendes

O mês de março ficou conhecido como o “Mês da Mulher” e, quase que diariamente, recebemos conteúdos relativos ao assunto. Chamou-me a atenção um artigo que li, o qual versava sobre o número de mulheres que existiram antes de cada mulher atual, uma espécie de evocação geracional pretérita. Pensei nas que vieram antes de mim, cuja história conheço até três, no máximo, quatro gerações para trás, e, mesmo assim, “tropeçando” em nomes e filiações.

Pensando no local em que vivo, veio-me a curiosidade de fazer um levantamento sobre as gerações de mulheres presentes em Pedro Leopoldo, tomando como marco temporal inicial o ano de 1895, data em que a Cia. Industrial da Cachoeira Grande foi aqui inaugurada. Revisando as informações em Pedro Leopoldo: entre letras e histórias”[1]…, recordei-me de algumas curiosas biografias que logrei registrar.  Seguem cinco delas, uma pequena amostragem das muitas mulheres que aqui viveram, deixando para nós e em nós histórias e legados.

Em 1876, nascia, na Itália, Elvira Michelini, que viria, anos mais tarde, a residir em solo pedro-leopoldense e, por seu trabalho de parteira, trazer ao mundo muitos dos filhos de nossa terra. Abnegada e experiente, não media esforços para atender os chamados, dentro ou fora da cidade, sendo dia ou noite.

No início do séc. XX, veio morar em Pedro Leopoldo Maria Tomásia Ferreira, que vivia na rua Dr. Rocha, pouco depois do cruzamento com a rua São Sebastião. Benzedeira de renome, era frequentadora assídua das missas da 5 da manhã e das 18 horas. Tinha estreita amizade com o Pe. Sinfrônio, com quem muito conversava, a quem sempre visitava e a quem benzia, afirmam as nossas fontes. Aos finais de semana, recebia com frequência os jogadores de muitos times de futebol da cidade, que vinham a ela após as partidas em busca de curas e bênçãos. A atividade de D. Maria não era remunerada, e, assim, ela recebia, como gratidão, presentes e doações.

Filha de nossa terra e considerada uma mulher à frente de seu tempo, Rita Viana nasceu na Fazenda Busca Vida, nos arredores de Dr. Lund, e foi casada com Antônio Elias da Costa, próspero fazendeiro, à época. Homem batalhador, teve uma esposa à altura, que o acompanhava em viagens de negócios. Após enviuvar-se, não se deixando abater, Rita prosseguiu gerindo a fazenda e os negócios da família, com foco nos laticínios, e cuja manteiga, de nome Narceja, foi premiada duas vezes pelo Ministério da Agricultura, na década de 1920. Produziu, também, junto a seus familiares, o primeiro leite pasteurizado na região, vendido a Belo Horizonte, na década de 1930 (Leite Lund). Por sua postura e modos, era também conhecida como “Baronesa”.

Uma de nossas Marias, Maria Raimunda Félix, habitante da localidade que viria a ser o Bairro São Geraldo, recebeu, em certa época de sua vida, uma homenagem pelas mãos do prefeito Cecé, por ser a mulher pedro-leopoldense que gerou mais filhos à época (23, sendo que alguns vieram a falecer depois). Acolheu ainda como filha uma outra menina, deixando a todos um exemplo valioso acerca da valorização da família e do amor ao próximo.

Guida Viana, nascida na Quinta do Sumidouro e pertencente à tradicional família Viana, de nosso município, foi uma das professoras leigas de nossa cidade, responsável por educar muitas crianças na Escola Estadual São José. Mesmo sem possuir curso superior, lecionava, pois era extremamente culta, inteligente, amante dos livros e dos poetas. Por defender os estudantes que apanhavam da polícia e os operários em suas causas, era considerada como uma mulher de ideias avançadas. Sendo solteira, morou com um de seus irmãos, Guilhobel Viana, também conhecido como Guili Viana.

Essas narrativas, entre as muitas que temos, explicitam-nos: somos ímpares e, ao mesmo tempo, somos múltiplas. Que, ao pensar nas mulheres que vieram antes de nós, em laços de sangue ou não, com suas lutas, conquistas e superações, nos tornemos mais fortes em nossas jornadas pessoais. Um pouco delas revive em nossas próprias histórias, na certeza de que “é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana, sempre”.

[1] Pedro Leopoldo entre letras e histórias: memórias de uma cidade centenária. Obra publicada pela Editora Tavares em 2024, escrita pela autora deste artigo. Resgata a biografia dos homenageados com nomes de ruas, avenidas e praças do município de Pedro Leopoldo.

Redação

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