Numa dessas últimas sextas de setembro, quando um sol inclemente parecia fazer troça da recém-chegada primavera, a nova gerente do Parque do Sobrado e do Refúgio de Aroeiras, Silvana Maria Costa, foi vista chorando por um vendedor de flores e mudas. Nada a estranhar: parecia que nada arrefeceria o ímpeto de destruição das queimadas que assolavam o Refúgio naquela semana.

Silvana é assim desde menina, profundamente ligada àquela área de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, onde nasceu e cresceu. E viu, desde 2010, se transformar no Parque Estadual da Serra do Sobrado. São 386 hectares localizados em São José da Lapa, na divisa com Pedro Leopoldo, onde se localiza sua zona de amortecimento. Justamente por isso, ela se juntou ao grupo que, no ano passado, lutou pela proteção dessa área, procurando proteger o entorno de parque de empreendimentos mais impactantes.

Desde o início de agosto, ela é a nova gerente do Parque, ligada à regional centro-norte do IEF, do qual o Sobrado faz parte. Suas atribuições são diversificadas: representação legal da unidade; presidência do conselho consultivo quando for eleito; elaboração de relatórios diversos; coordenação dos funcionários; monitoramento e acionamento de polícia em casos de invasões, caça, desmatamento. Ela também é a responsável por buscar parcerias com prefeitura, empresas e associações para favorecer o parque; educação ambiental dentro da unidade e no seu entorno; primeiro combate a incêndios florestais, dentre outras funções.

Desde sua criação, em 2010, o parque teve três administradores. Silvana, descendente dos Costa da Cachoeirinha, é a primeira da região. Ela não só nasceu aqui como mora nas cercanias do Parque desde a infância. “Meu coração é e sempre será ambientalista, já que nasci com essa missão: proteger esta terra, com suas matas e animais”, diz Silvana. Está nas mãos dela participar ativamente da elaboração do Plano de Manejo da unidade de conservação, para o qual os recursos já estão garantidos, o que proporcionará no futuro a estruturação do parque e a visitação pelo público. O que significa que o parque se tornará um local para lazer, educação ambiental e pesquisas científicas.

Enquanto isto não acontece, o Parque do Sobrado cumpre inúmeras funções, entre elas a de ser uma das poucas áreas da região para preservação de espécies animais e vegetais, onde a temperatura é mais amena e a paisagem convida à meditação. Tais “serviços ambientais” se somam à captação da água da chuva e, consequentemente, o abastecimento dos lençóis e cursos d’água de toda a região.

Uma espécie rara e que foi determinante para a criação do parque foi a aroeira do sertão, que nasce nas pedras em maiores altitudes. Outra é o angico. Junto a outras espécies nativas, estas árvores estão sendo cultivadas e plantadas no parque. Trata-se de medida de compensação por parte de uma empresa de energia que, ao instalar sua linha de transmissão, teve que desmatar e está corrigindo o impacto.

O parque e o Refúgio já tiveram doze brigadistas em 2015, caindo para cinco em 2017 e, hoje, a brigada se restringe a Silvana e um funcionário próprio para dar o primeiro combate, não deixando o fogo se tornar um incêndio sem controle como ocorreu no Aroeiras. E que fez com que ela chorasse diante do fogo que atacou sem dó a terra que pertenceu a seus antepassados. E que, apesar de todo o empenho do Previncêndio, só foi vencido pelas chuvas que finalmente deram sinal de vida nos últimos dias, as primeiras em vários meses.

Nada mais natural então que essa importante guardiã e guerreira seja hoje a responsável pelos destinos das unidades de conservação Afinal, Silvana faz isso desde pequenininha. E segue confirmando o que escreveu sobre ela a professora Eliane Matilde: “acostumada a fazer tudo de coração, não resta dúvida, a menina que cresceu no parque está cumprindo a sua incrível missão de vida em defesa da Natureza”. (Fotos: Aline Dias)