Morreu nesta quinta-feira, 29/6, no início da manhã, o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, aos 86 anos. Internado em estado grave no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, ele vinha se locomovendo por cadeira de rodas e fez uma cirurgia no quadril, que lhe trouxe complicações. Paolinelli marcou sua passagem pela vida pública como o “inventor” do Cerrado, região que, considerada de pouca fertilidade, ele estudou profundamente e hoje abriga uma das maiores produções agrícolas do mundo.
Como reitor da Universidade de Lavras, secretário de agricultura de Minas por três vezes (nas gestões de Rondon Pacheco, Hélio Garcia e Eduardo Azeredo) e ministro no governo Geisel, entre 1974 e 1979, ele incentivou a criação das técnicas que viabilizaram, a partir do cerrado, o pujante agronegócio brasileiro, que hoje alimenta quase um terço da humanidade.
Até então o Brasil era importador de alimentos e Paolinelli buscou o desenvolvimento nacional na área com base em ciência, tecnologia e capacitação humana, conceitos aos quais somava ainda persistência e competência. Entre outras ações como ministro, está o fortalecimento da Embrapa, a criação de importantes projetos como o Polocentro e Prodecer e a formação de quase dois mil técnicos da área agrícola em centros de excelência no exterior. Paolinelli foi também deputado constituinte e, no ano passado, foi indicado ao Nobel da Paz por centenas de instituições do mundo acadêmico e do agronegócio.
Em 2006, o ex-ministro recebeu o World Food Prize, prêmio que equivale ao Nobel da Alimentação. Apesar dos avanços inegáveis da agropecuária brasileira, Paolinelli sustentava que ainda havia muito por fazer em relação aos pequenos produtores, que não tinham acesso às modernas técnicas do setor e, como tal, praticavam um agricultura de subsistência. O velório será realizado entre as 15h desta quinta-feira e as 9h30 de amanhã (30), no Palácio da Liberdade. O sepultamento será às 11h no Cemitério Parque da Colina.
Em Pedro Leopoldo
Uma das inúmeras realizações de Alysson Paolinelli no Ministério da Agricultura foi o fortalecimento da Rede de Laboratórios de Defesa Animal. Essas unidades, hoje em plena atividade em seis estados do país, garantem o status sanitário dos produtos animais no país, promovendo tanto a manutenção quanto a abertura de mercados internacionais.
Uma delas foi instalada aqui em Pedro Leopoldo, em um processo que começou em 1972. Naquela época, um funcionário do Ministério, o veterinário e microbiologista Sérgio Bogado, foi cedido para a OPAS como consultor da obra do então Lanara (Laboratório Nacional de Referência Animal). A instituição evoluiu para o hoje Lanagro, primeiro laboratório de biossegurança máxima do país, referência no controle da febre aftosa e peste suína, doenças aviárias como Newcastle, influenza, além de hormônios e resíduos agrotóxicos.
“Meu pai escolheu o local, Pedro Leopoldo, a 40 quilômetros de Belo Horizonte, por indicação de Paolinelli, que fazia questão de instalá-lo aqui em Minas Gerais. O local era privilegiado: o terreno era do Ministério, vizinho a uma antiga Fazenda Modelo e tinha outras vantagens logísticas, tais como ser próximo de uma rodovia em pista dupla e de um aeroporto internacional, o de Confins, que estava em construção”, explicou o médico Sérgio Bogado, filho do consultor.
Bogado e e o arquiteto Vilanova Artigas, que projetou o Lanara, visitaram laboratórios nos EUA, na Rússia e em outros países da Europa, para definir a concepção arquitetônica do prédio de Pedro Leopoldo. A estrutura erguida em 1975, ainda moderna nos dias de hoje, abriga o quinto laboratório do mundo em área construída. O auditório tem o nome de seu ideólogo: Alysson Paolinelli. Homenagem feita ao ministro conservador por um diretor do laboratório durante os governos Lula e Dilma: o sindicalista petista Ricardo Nascimento. Uma salada ideológica e tolerante que só fez bem à agricultura brasileira.