Um artigo de Patrícia Rafael –
Escrever sobre minha mãe, Elaine, e sua relação com Pedro Leopoldo é como abrir um livro repleto de histórias encantadoras que atravessam quase um século. Aos 91 anos, ela é uma testemunha viva de uma época em que a cidade pulsava com simplicidade, encontros genuínos e uma convivência harmoniosa. Reviver essas memórias é também celebrar minha própria infância, intensamente vivida em uma terra de liberdade responsável e valores sólidos.
Minha mãe sempre fala com saudade e entusiasmo da Pedro Leopoldo de sua juventude, que vive em suas histórias. Ela conta sobre os jovens fazendo o “footing”, as tardes na estação aguardando o trem e os passeios entre a igreja e o cinema, onde as paqueras aconteciam e as amizades eram construídas. A Rua Comendador Antônio Alves era o palco de encontros e conversas, e a vida social acontecia de maneira genuína e espontânea. Hoje, apesar de vivermos em tempos digitais, minha mãe também usa WhatsApp e Facebook, mas faz questão de destacar que nada substitui o contato olho no olho de sua época.
Ela gosta muito de falar sobre os passeios na Rua Herbster, onde nossa família viveu quase toda a vida. Cada casa era um ponto de acolhimento, e os vizinhos formavam uma grande família. Ela fala com carinho das festas do Grupo São José, onde trabalhou por 30 anos, das rodas de conversa ao entardecer, com cadeiras nas portas das casas, e até das pequenas travessuras de seus filhos e amigos. Faz parte! Sua memória guarda os nomes e rostos de amigos e parentes que marcaram essa época tão especial.
Minha infância e juventude, assim como a da minha mãe, foram marcadas por uma vida social intensa e valores que moldaram nossa geração. A liberdade tinha limites claros: sair para brincar ou encontrar amigos era natural, mas havia a regra de voltar para casa até às 10 horas. Não precisávamos de chaves, porque nossos pais estavam lá, esperando por nós, confiando em nossa responsabilidade. Era uma liberdade que nos ensinava a viver intensamente, respeitando a nós mesmos e aos outros.
Filha de Alexandre Jorge e Conceição Felipe Jorge, minha mãe carrega consigo os valores e a história de uma Pedro Leopoldo quase mágica. Suas lembranças nos transportam para um tempo em que as relações eram mais simples, mas também mais profundas, e os laços criados eram para a vida inteira.
Nossa cidade, assim como minha mãe, gosta de arte, carnaval e do tradicional Boi da Manta. Mãe teve bloco de carnaval por vários anos, e era uma farra boa, tanto para ela quanto para nós e para a cidade! Gostamos de quermesse, barraquinhas e cantoria. E o principal, aprendemos com mãe a amar tudo isso e a saber que Pedro Leopoldo é um lugar especial para se viver.
É onde as tradições se misturam com as histórias de cada família, onde o som das marchinhas ecoa pelas ruas e os sorrisos iluminam as noites de festa. Crescemos vendo o brilho nos olhos dela ao organizar e preparar cada detalhe com o coração. Esse amor por nossas raízes e por nossa gente nos ensinou que celebrar é mais do que festejar: é manter vivas as memórias e a alma cultural da nossa cidade.
Hoje, minha mãe adora receber visitas e relembrar esses momentos ao redor de um café com bolo e queijo mineiro. Sua casa é um ponto de encontro onde o passado ganha vida, e Pedro Leopoldo é lembrada em sua essência mais charmosa e acolhedora.
Ao celebrar os 101 anos de Pedro Leopoldo, considero que as histórias da minha mãe são também um presente para a cidade. Sua trajetória é um retrato vivo de uma terra que moldou gerações com beleza, talento e uma capacidade única de unir pessoas.
Tenho imenso orgulho da nossa cidade, da nossa gente e, acima de tudo, da minha mãe. Quase aos 92 anos, com toda a sua alegria, sabedoria e vivacidade, ela continua a inspirar quem tem o privilégio de ouvir seus causos. Este é um pedaço da nossa história, que merece ser preservado e compartilhado por todos que amam Pedro Leopoldo tanto quanto nós.
Que Pedro Leopoldo continue sendo esse berço de alegria, onde cada esquina conta uma história e cada celebração reforça o quanto é bom viver aqui.