Neve no Brasil, calor extremo no Canadá, enchentes na China e na Alemanha: desastres climáticos que provocam mortes, perdas materiais e prejuízos na produção agrícola e que são a face mais visível de uma inegável crise climática. Não é segredo pra ninguém que uma das formas de contê-la seria plantando mais árvores, já que elas utilizam o CO2 (gás carbônico) para crescer e liberam oxigênio, o que traz benefícios para todo o meio ambiente.
Os especialistas calculam que o planeta precisa de cerca de 1,2 trilhão de novas árvores para conter os impactos do aquecimento global. Isto corresponde a quatro vezes o total de árvores da floresta amazônica, que atualmente possui 3 trilhões de árvores. Mas se depender de Pedro Leopoldo, o planeta vai arder em chamas, já que todo dia árvores são derrubadas na cidade e, há décadas, não se vê plantio em grande escala.
Uma das últimas vítimas é a poderosa árvore que pontificava na esquina das ruas Nossa Senhora das Graças e Principal, até ser derrubada na semana passada. Uma árvore que, ao contrário de muitas outras, estava plantada em uma grande calçada, ou seja, sem prejudicar o trânsito das pessoas. Mesmo assim, como acontece todos os dias, foi mais uma a ser abatida pelos órgãos públicos de meio ambiente.
“Menos uma árvore. Já percebeu a quantidade de caminhões com árvores mortas que saem da cidade todos os dias?”, pergunta a ambientalista Aline Dias, da Frente Socioambiental. “O palácio da justiça que estão construindo até agora não deu sinal de replantio de árvores pra compensar as que eles derrubaram para a obra”, critica, referido-se ao novo fórum, cujo projeto sacrificou árvores centenárias no terreno em que está sendo erguido.
A cidade realmente não tem uma política de arborização. E não é de hoje. Nas reformas das praças, o sinal mais visível é a supressão das árvores, substituídas por canteiros baixos, bancos ou grandes extensões de piso cimentado. O ex-prefeito Cristiano Marião, quando era vereador, fez a indicação de um plano diretor de arborização. O prefeito Marcelo Gonçalves não atendeu. O próprio Marião foi prefeito e não se dispôs a criar uma política neste sentido. Como todos os outros, derrubou muitas árvores e plantou poucas. Se é que plantou.
A prefeitura tem uma grande aliada neste esforço de erradicar a cobertura vegetal da cidade: a Cemig. “A forma como o poder público municipal e a concessionária de energia do Estado cuidam da arborização urbana nunca se pautou pela harmonia e respeito à vegetação. Basta olhar e observar que não há qualquer programa para preservar e aumentar a arborização urbana, vista equivocadamente como problema e não como solução. Sendo assim, a supressão é comum”, observa Aline.
No dia a dia, as árvores sofrem com pragas e podas mal feitas, que muitas vezes mutilam e fragilizam. Elas são deformadas e crescem de maneira não natural, oferecendo riscos às pessoas. “A administração pública tem que adotar exemplos bem sucedidos de gestão da arborização urbana, aplicados em cidades de vários países. Precisamos de uma política ambiental sustentável, que preserve e amplie as áreas verdes”, aponta a ambientalista.
É bom que estas políticas venham logo. Porque se está fazendo (muito) frio agora, não será nenhuma surpresa que a primavera e o verão tragam grandes ondas de calor. E numa cidade sem árvores, o povo será ainda mais sacrificado nas atividades da vida cotidiana. Um detalhe: já notaram que, ao cortar as árvores, os responsáveis deixam um pedacinho do tronco? Sequer limpam a área, para que ela possa receber outra árvore. Afinal, se o canteiro estivesse limpo, qualquer pessoa, e não só a prefeitura, poderia plantar uma muda. Mas, com aquele toco ali, isso se torna impossível.