Aos 57 anos, Celso Otoni de Almeida tem na carteira de trabalho o ofício de soldador mas, desde 2003, é o proprietário da U loja, para seus amigos a menor loja do mundo, comparável em pequenez àquela casa estreitinha de Amsterdam. Celso diz que tomou a loja de Chapisca, que até então vendia ali seus cachorros quentes. Fica ali o dia inteiro, no hipercentro de Pedro Leopoldo, vendo a cidade passar. Ou parar para um café, um pastel, uma cachaça ou uma piada, que Celso tem muitas.
Gente do comércio, das cimenteiras, motoristas e trocadores de ônibus, grandes empresários ou pequenos negociantes, todo mundo passa e para, nem que seja para ler o jornal ou tirar um dedo de prosa. Mais do que um comércio, porém, U loja é território da solidariedade e Celso reina ali, com uma irresistível vocação para alegrar crianças e adultos.
É bom cozinheiro e, durante muitos anos, reunia os amigos depois das seis horas para um tira-gosto. Hoje, só cozinha nas pescarias e para a família, é claro. As crianças adoram passar por lá. Também, todo mundo ganha uma bala, em especial aquelas que pegam o ônibus logo à frente para chegar à Apae. Para elas, tem de tudo: café, água, pão de queijo…e bala. “Passa por aqui menino de 16 anos, que ganha bala desde os três. E os dentes estão bons”, garante Celso.
Antes do inverno ou próximo ao Natal, ele junta doações, estende uma lona e espalha no passeio roupas e sapatos. “Pega quem quiser, ou seja, quem precisa”. Outra data especial é o 12 de outubro, Dia da Criança (e de Nossa Senhora Aparecida também), quando a U loja é invadida por crianças de todas as idades. Celso se veste de palhaço e distribui cestos cheios pipoca, chicletes e, claro, balas. Durante muitos anos, ele deixava a barba crescer para, vestido de Papai Noel, correr as creches na época de Natal. Hoje, só coloca a roupa vermelha para divertir o neto, Téo. “To cansado, mas com ele eu descanso”, finaliza.