Um grupo de Facebook como milhões de outros estabelecidos na maior rede social do mundo, o Help Espaço de Colaboração extrapolou seu objetivo inicial de ajudar pessoas para se tornar uma vitrine para micro e pequenas empresas que ali mostram seus produtos e serviços a milhares de moradores da região em que está inserido. É um verdadeiro guia para empreendedores que, vislumbrando o que os consumidores querem, podem descobrir e criar novas oportunidades de negócios.
Criado há onze anos, em 19 de maio de 2011, ele se tornou referência para as cidades de Pedro Leopoldo, Matozinhos e Confins, no vetor norte da região metropolitana de Belo Horizonte. Juntas, elas não chegam a ter 110 mil habitantes. Exatos 51.306 deles estão hoje, 20 de junho de 2004, no Help. Um número que muda toda hora, já que, em média, cerca de 60 pessoas pedem para ser adicionadas a cada dia.
Para botar ordem em uma casa com tanta gente, trabalham voluntariamente seis administradores: quatro são advogados, uma jornalista e uma médica veterinária. São eles que disciplinam a entrada de novos membros e avaliam os “posts” que chegam, sempre evitando assuntos polêmicos, como reclamações sobre política ou religião.
“A gente demorou para aprender. Antigamente, quando alguém queria achar uma benzedeira, era um Deus nos acuda com pessoas de outras crenças”, conta uma das administradoras, a advogada Denise Rafael. “O Help não é apenas um grupo de Facebook. Com a importância que ele adquiriu para a comunidade, ele se tornou uma instituição. As pessoas vão ali para pedir ajuda, emprego, oferecer seus serviços, e até pedir conselho. E outras vão para oferecer empregos, comprar serviços e dar conselhos, numa bela corrente de solidariedade”, acrescenta.
Para a advogada, a “instituição” presta um serviço imensurável não só aos seus milhares de membros, que recorrem a ele em busca de ajuda, como a todo o setor de comércio e serviços da região. O Help acaba se transformando, segundo ela, em uma vitrine para micro e pequenos negócios, que não teriam outra plataforma para serem vistos por tanta gente.
“Não aceitamos anúncios, não é um grupo de compra e venda, a não ser as emergenciais. Mas quem está começando, pode apresentar seu negócio durante alguns dias. O interessante mesmo para o empreendedor é ficar de olho em quem pede um produto ou serviço e aproveitar a oportunidade para oferecer o que faz ou indicar um amigo”, explica Denise.
E o que não falta neste universo são diferentes tipos de serviços, afinal esse é o setor da economia brasileira que mais emprega. Vão de carretos para mudança a um advogado de causas trabalhistas; de costureiras a plantadores de ervas e orgânicos; de empresas de jardinagem às de cerimonial; de aluguel de vestidos de noiva a roupas de quadrilha – demanda muito comum nesta época do ano.
O negócio pode ser pequeno, como o do churrasqueiro José Custódio Filho, o Zezinho. As encomendas que teve pelo Help acabaram contribuindo para que ele abrisse uma microempresa que presta serviços de bufê. “Eu devo muito ao Help e a todo mundo que está lá. Ainda hoje, muitos dos meus clientes me procuram dizendo que eu fui indicado por gente do grupo”, diz Zezinho.
Mais do que pequeno, o negócio pode ser minúsculo, como o alongamento de unhas da Taliane Queiroz. A “nail designer”, além de ter conseguido muitos clientes no Help, também teve ajuda do grupo quando perdeu sua CNH. “Amo o Help, todo dia agradeço por ele existir”, revela.
Mesmo empresas tradicionais se beneficiam das indicações do grupo. É o caso da Family, empresa de transporte universitário, empresarial, de viagens e eventos, que existe há 23 anos. Seu proprietário, Johnny Fonseca dos Santos, não sabe precisar há quanto tempo posta no grupo. “São inúmeros e incontáveis clientes e contatos. O Help é uma ferramenta muito valiosa para nós, porque está sempre trazendo pessoas que precisam dos nossos serviços. E é gratificante ver pessoas que, conhecendo a empresa, indicam para quem precisa”, diz Santos.
Analisando as demandas apresentadas do grupo, o empresário abriu novas rotas de atendimento, principalmente de transporte escolar. “A gente vai acompanhando os assuntos que se referem à nossa área. Ali a gente vislumbrou, por exemplo, a necessidade de comprar mais um carro e fazer viagens para fora do estado, que é uma área carente na região”, revela o empresário.
Certo é que todas essas empresas atendem, com seus produtos e servços, clientes como a professora de História Eliane Matilde que, nas horas de folga, gosta de dar uma passada no Help e ver se pode ajudar alguém. “O grupo é excelente, todo mundo colabora com todo mundo. Lá eu consegui profissionais de confiança para consertar fogões e máquina de lavar, que são difíceis de encontrar hoje em dia. E a indicação do pessoal é um aval importante”, garante a professora.
Para a consultora de Marketing no Sebrae Minas, Fernanda Fernandes Fontes, grupos como o Help são ferramentas relevantes para as empresas, principalmente os pequenos negócios. “Tais comunidades podem ajudar os empreendedores tanto na divulgação dos produtos quanto na percepção do que os clientes desejam. Eles conseguem entender as necessidades daquele público, o que contribui diretamente para melhorar ou rever as estratégias de marketing e comunicação, sejam elas digitais ou off-line e atender melhor esses anseios”, diz.
Formada em Relações Públicas com especialização em Marketing e Vendas, Fernanda Fontes vê em grupos como este a possibilidade de se fazer uma leitura de comportamentos – o que as pessoas estão pedindo mais? O que têm encontrado ou não com facilidade? – e, consequentemente, enxergar oportunidades de mercado. “Isto é importante tanto para o microempreendedor quanto para empresas já estabelecidas no mercado. É uma maneira de coletar dados para saber o que o mercado está exigindo e assim posicionar melhor seus produtos e serviços”.
Segundo a especialista, acompanhar o que está sendo dito nesses grupos pode ser interessante para o empreendedor rever as ações de comunicação. Não só adequando a linguagem, mas também detectando mercados potenciais, onde sua mensagem ainda não chegou. “Pode ser que, mesmo inserida no meio digital, a empresa não seja conhecida pela comunidade. É hora então de tentar ajustar as estratégias de marketing e descobrir se o canal no qual o empreendedor investe está chegando ao público que ele quer alcançar”, explica Fernanda Fontes.
Enfim, o Help pode ser considerada uma pesquisa de mercado pronta, na qual é possível detectar o que o consumidor procura. “Esta é uma comunidade que pede indicações de produtos e serviços e é importante que as empresas estejam atentas a isso”, indica a consultora do Sebrae.
Outro ponto importante apontado por ela é que, no marketing 4.0, não se tem mais tanta fidelidade às marcas. E, neste contexto, são fundamentais os defensores de marcas. “Hoje os consumidores, antes de fazer uma compra ou buscar um prestador de serviços, se voltam mais para amigos e familiares, na hora de decidir. Este é um fator de peso considerável nas decisões de compra. Nestas comunidades, você tem defensores de marca e, quanto mais um empreendimento ou produto é citado, mais forte é a sua reputação”, aponta Fernanda Fontes.
Função social
“Atualmente, os serviços mais procurados, além dos tradicionais de pedreiro, eletricista e pintor, são os de motoristas e confeiteiros. Sempre tem alguém atrás de quem faça um bolo gostoso para a festa do filho, ou de um ovo artesanal na Páscoa”, conta outra administradora do Help, a veterinária Vania Beatriz Viana. “Mas as dificuldades que afligem a população aparecem de maneira muito clara; de uns tempos pra cá, temos cada vez mais gente procurando emprego e pedindo doações, seja de roupas ou de comida mesmo”, acrescenta.
Esta responsabilidade social do grupo é levada muito a sério por seus administradores. Durante a pandemia, eles não só orientaram a população quanto aos cuidados com o vírus e incentivaram a vacinação, mas também fizeram do grupo um catalisador de iniciativas de geração de renda para entregadores, cozinheiros, costureiras, motoristas, enfim, toda uma gama de serviços dirigidos a uma população em isolamento social.
“Eram os primeiros momentos de lockdown, quando muita gente perdeu o emprego e teve ali uma alternativa para continuar trabalhando. Ao mesmo tempo, muitos cidadãos, em especial idosos que não tinham coragem de sair às ruas, encontraram quem trouxesse comida ou remédios”, diz a veterinária Vânia.
Muitos grupos surgiram dentro e fora da região com proposta parecida, alguns inclusive copiando a sonoridade do nome. Mas nenhum tem tanta confiança da população. Os números são descomunais. Em média, são nove mil publicações mensais, que chegam a ser visualizadas quase 300 mil vezes, com milhares de comentários. O dia mais utilizado é a segunda; o horário, o das oito da noite.
Em um universo com tanta visibilidade, não é surpresa nenhuma que muitos tenham no Help a sua carteira permanente de clientes. “Uma das coisas que mais nos emociona e acontece muitas vezes é encontrar alguém na rua que, quando sabe que a gente é do Help, vira e diz que está desempregado há muito tempo, mas nunca ficou sem trabalho, graças ao grupo”, conta a advogada Denise.
Espaço da solidariedade
Ofereço meu trabalho”, anunciou-se Fabrícia Guilherme no Help em janeiro de 2021. Seu gás tinha acabado e ela, desempregada desde março de 2020 e com uma criança pequena em casa, não tinha dinheiro para comprar outro botijão. A extrema necessidade ditou a oferta: uma escova progressiva em troca do gás.
E aí aconteceu o que encanta a comunidade reunida no grupo. De todos os lugares, chegaram ofertas modestas de ajuda – 5 ou 10 reais – de quem tinha pouco, mas se sensibilizou com as dificuldades de Fabrícia.
“É sensacional o que este grupo pode fazer”, observa a administradora Mariana Lopes, uma advogada que simboliza toda a solidariedade que caracteriza o Help. Ela está morando nos Estados Unidos, o que não a impediu de comprar em Pedro Leopoldo o gás para Fabrícia, aconselhando-a a gastar as doações que recebeu do grupo em alimentos para a família.
O milagre não parou aí. Um membro do grupo viu o desespero da Fabrícia, intercedeu junto à patroa e ela foi chamada para trabalhar como auxiliar de açougue em um supermercado local.
O grupo não comercializa animais, exigência da Mariana, que é uma protetora de carteirinha. “Em compensação, muitos cachorros e gatos foram adotados graças ao grupo, que promoveu o encontro entre eles e seus novos donos”, orgulha-se.
O Help também ajuda quando alegra aqueles que o seguem. Em abril de 2021, uma participante do grupo, Veridiana Silva, pediu sugestões de nomes diferentes para sua filha recém-nascida. Alegou que esperava um menino e foi surpreendida pela vinda da garota, a quem não sabia que nome dar.
Mais de 600 helppers acudiram, cada um a seu modo, ao pedido de Veridiana. Nomes tradicionais, encantadores, rebuscados e até muito engraçados apareceram no post da moça. Alguma picardia, mas sobretudo muito bom humor, caracterizaram as sugestões, que iam de Firmina a Peniscleide, passando por Jesca, Eshiley, Lindsey, Malena, Melina e Melissa, e até Alcoolgeia.
Uma helpper, Sol Dutra, achou melhor aconselhar a mãe a maneirar no inusitado do nome. “Não ponha um nome diferentão na sua filha. Ela vai passar vergonha e só você achará lindo. Nomes têm muita força, podem tanto destruir a autoestima como levantá-la”, observou Sol.
Foi uma noite divertida no Help, como merecem aqueles que entram no grupo para ajudar quem precisa. Um grande exercício de solidariedade que, não raro, mobiliza várias centenas de pessoas. Através do Help, solidários moradores da região já fizeram a festa de aniversário de uma criança carente, que teve seu dia de princesa; doaram enxovais, cestas básicas e vestidos de noiva: ofereceram trabalho, compraram produtos e se mobilizaram nas mais diversas causas de apoio aos menos favorecidos. “Na verdade, o grupo é bom porque é cheio de gente boa”, finaliza Denise Rafael.