A gente torce pelo Gleison todo dia

A gente torce pelo Gleison todo dia

gleison-Dudi-Polonis

Domingo sempre foi dia de torcer pelo Galo, pelo Cruzeiro ou vá lá, pelo América, que ainda enche algumas kombis em Pedro Leopoldo. Com todo o respeito, é claro, aos americanos, alguns deles dignos amigos que me dão a liberdade de fazer gozação com algo tão antigo quanto a piada das kombis. Mas enfim, até o ultimo dia 19 de junho, domingo também era dia de torcer pelo pedroleopoldense Gleison Túlio, o vocalista da banda Powertrip, no programa Superstar da TV Globo. A trajetória da banda na competição acabou ali, mas quem perdeu foi o público. Afinal, a Powertrip repetia uma atitude que poderíamos chamar de “gleisoniana”- incrível e unicamente moderna – no sentido de ser nova, inovadora, importante para o nosso tempo, ao juntar rock e música eletrônica com criatividade e, principalmente, talento.
Estava todo mundo muito emocionado e nem precisa dizer o quanto isso – a cidade torcendo por um artista dela – emociona. É sempre interessante analisar como as cidades demoram a valorizar a prata da casa, afinal santo de casa não faz milagre. Mas quando acontece, é um evento transcendental. Porque todo mundo sabe como as ruas, as praças, os bares, as pessoas contribuem para a arte que os compositores,pintores, escritores produzem. O antológico Clube da Esquina editou um guia de Belo Horizonte, no qual celebra a relação de Milton Nascimento e companhia com vários “cantos” da capital mineira. A cidade acompanha o artista enquanto ele cresce e o artista faz a cidade crescer quando conquista o mundo.
O que nos consola é que a banda caiu no gosto de muita gente e a exposição pela TV em rede nacional certamente garantiu uma carreira vitoriosa para a Powertrip e seguramente para o Gleison, dono de um talento que encanta seus conterrâneos há mais de trinta anos. A mim, nem precisa falar. Sou uma verdadeira perseguidora do Gleison – já o vi tocar em Belo Horizonte, Araxá (onde o encontrei fazendo um show numa boate charmosíssima chamada Tantra) e centenas de vezes em Pedro Leopoldo. Ele inaugurou uma série de festas que fizemos no Alternativa e tocou em um aniversário meu, se não me engano de 40 anos.

2010 - Gleison Tulio e Paulo Ricardo se apresentaram como convidados no show de Emmerson Nogueira em São Paulo
1987 - Gleison Túlio em sua primeira apresentação
Quem viu no “Superstar” os floreios instigantes do músico na guitarra, não podia imaginar que essa verdadeira virtuose cultiva uma intimidade com o instrumento que vem da infância. Aos dez anos de idade, Gleison fazia sua primeira apresentação pública em Pedro Leopoldo, em um concurso de beleza infantil no Clube Social. Apresentado por Professor Alexandre, o evento teve Kamila Carvalho como vencedora e o talentoso garoto maravilhando os presentes com seu violão. Eu estava lá com minha fiha Elisa, que era amiga de Kamila e escreveu, aos nove anos, uma pequena matéria sobre o evento n’O Capeta, nossa aventura jornalística da época.
Gleison começou a tocar violão aos oito anos, ouvindo a música sertaneja que os pais gostavam. Em matéria no G1, o portal da TV Globo, ele conta que nasceu em uma época sem Internet. “Então, a gente fazia coleção de discos e até pedia emprestado aos vizinhos e amigos para ouvir em casa. O que mais tocava no meu som era Chitãozinho e Xororó, Trio Parada Dura e Gino e Geno”. Na mesma matéria, o músico confessa sua paixão pela dupla sertaneja, da qual coleciona vários discos. “Xororó, para mim, é uma das vozes mais bonitas da historia da música brasileira, sem contar o exemplo de profissional que ele é, um cara íntegro e um artista completo, grande compositor e instrumentista. Meu sonho é um dia ter a oportunidade de apertar a mão dele”, declarou o vocalista.
Sonho que Gleison realizou, cantando ao lado da dupla aqui em Pedro Leopoldo, no palco do Rodeio Show, a música Ela não vai mais Chorar” – no original She’s not crying anymore, de Billy Ray Cyrus, Terry Sheldon e Buddty Cannon. Teve gente que achou que a voz dele não apareceu, já outros juraram que ele estava forçando a voz….mas, de maneira geral, todo mundo ficou orgulhoso e eu, pessoalmente, adorei a apresentação.

Aos 16 anos, Gleison já tocava nos bares de Pedro Leopoldo, em especial nas memoráveis noites de quarta-feira do Casa Verde, quando segurava uma platéia cativa até a alta madrugada com interpretações fantásticas da obra dos Beatles. Às vezes, ele tocava nas sextas, sempre pelo couvert que o Marco Antonio pagava. Corriam os anos de 91 e 92 do século passado e Pedro Leopoldo não conhecia a violência que lhe é íntima hoje. Sendo assim, não era incomum que o dia nascesse e os operários da Cauê, no caminho para o trabalho, nos encontrassem batendo 17 vezes nas mesas da pizzaria o refrão “Lá, lá, lá, lala, lálá”, de Hey Jude.

1995 - Gleison Tulio aos 18 anos se apresentando nos bares de Pedro Leopoldo MG
No início desse século, vimos o Gleison na TV Globo. Afinal, não é a primeira vez que Gleison encanta o Brasil – ele já realizou vários trabalhos que ganharam a mídia nacional, dentre eles a participação de duas músicas em trilhas de novelas da Rede Globo (entre elas o sucesso Metamorfose Ambulante, do Raul Seixas, na novela Uga- Uga, em 2000) , apresentações em programas de TV (Vídeo Show ao vivo 2000) peças de teatro (Os inconquistáveis 2001 com direção de Wolf Maya). “Fiquei no Rio de Janeiro durante onze meses, fiz a produção da peça do Wolf e a banda – eu, Niltinho, Samuca e Leo – tocou nela”, conta Gleison.
Muita coisa que o Gleison fez, nós aqui de Pedro Leopoldo ficamos sem saber. Outras nos orgulharam demais. Segundo o release que sua produção distribui, ele integrou várias bandas, dentre elas: Somba, Chá de Lírio e Primo Johnny. Com a banda Falcatrua gravou o disco “Vou com Gás” com direção de Nelson Motta e produção de John Ulhôa, do Pato Fu.
Em 2009 se apresentou no Beatleweek Festival (em Liverpool na Inglaterra) sendo um dos destaques do evento e também na Dinamarca, Portugal e Itália (ao lado do DJ Rick Marilli). Participou, neste mesmo ano, da gravação do CD “Versão acústica 4” do cantor Emmerson Nogueira. No ano de 2010 retornou ao Beatleweek Festival, apresentando-se no Phillarmonic Hall e em outros palcos principais do festival. Neste mesmo ano também participou do DVD “Emmerson Nogueira – ao Vivo II”, no qual também dirigiu e produziu o documentário “Versão Acústica”. Em 2011 apresentou-se em vários estados brasileiros (teve um encontro antológico com Jon Anderson, do Yes, imaginem) e também no Uruguai, abrindo oficialmente todos os shows da turnê de Emmerson. Aliás, foi ele que co-produziu e lançamento o primeiro LP :“ Gleison Tulio e A Eletrobanda Invisível”, manufaturado na República Tcheca em 2012. “O Emmerson é meu maior incentivador e me dá toda força e apoio”, afirma Gleison, que ainda em 2012, se apresentou novamente no Beatleweek Festival e foi o segundo brasileiro homenageado na história do Cavern Club com o prêmio “Hall of Fame”. Ele estava ao lado do primeiro homenageado, o guitarrista Andreas Kisser da banda Sepultura.
2012 - Gleison Tulio se apresentando com Jon Anderson do Yes
2012 - Gleison Tulio e Andreas Kisser sendo homenagiados pelo Cavern Club em Liverpool

Já a Powertrip nasceu como Powertrio, em 2007. Vejam os detalhes dessa viagem poderosa no texto de Bernardo Biagioni: “o Grand Funk ecoava pelas caixas de som do saudoso Garage D’ Caza, em Nova Lima. Gleison Túlio improvisava uma banda inteira em uma guitarra; Glauco, o público, ouvia, e sem hesitar telefonou para Danilo – que esperava essa ligação há pelo menos 10 anos. “Achei”, disse Glauco. Danilo não duvidou.Porque Glauco tinha este sonho desde uma rave na Bahia, ainda nos anos 1990. Poder traduzir na bateria, e nos demais instrumentos que viessem a seguir, a melodia descompassada da cadência ritmada da Música Eletrônica que invadia as pistas e baladas de todo o mundo. Thievery Corporation, uma referência primária. Grand Funk, uma influência apaixonada. Só faltava um grupo, uma banda. Ou um trio.Elevando o já complexo e particular set de Gleison Túlio a uma divagação astralizada e eletrônica de releituras de Pink Floyd, Rolling Stones e uma inusitada mistura de Led Zeppelin com… James Brown. Belo Horizonte, inquieta, ouviu aquilo com um misto de surpresa e beleza em seguidas noites no Studio Bar. Há quanto tempo estivemos esperando por isso?”
Inspirados nestes ritmos da década de 1970, os integrantes rebatizaram o nome do grupo após uma troca de mensagens com Márcio Buzelin, do Jota Quest: “Ele digitou sem querer Powertrip em vez de Powertrio. O nome soou tão bem e achamos que combinava muito com o nosso som. A partir desse dia, adotamos o nome”, disse Glauco, em outra matéria do G1 – aliás, durante todo o programa eles tinham um contrato de exclusividade e só podiam dar entrevistas a veículos da Rede Globo. Em comunicado oficial nas redes sociais, logo depois da eliminação, a banda agradeceu o apoio dos fãs, dizendo: “foi uma verdadeira a nossa powetrip a nossa trajetória nesse programa…a gente evoluiu absurdamente, a gente gravou e criou muita coisa legal… Gleison, que nem esperava ficar esse tempo todo, disse que “foi bom demais para a nossa carreira e isso aqui é só o começo”.
Aos 39 anos, o cantor, instrumentista e produtor musical tem como denominação principal o legado “one man band”, adaptando os sons de vários instrumentos e texturas no seu violão eletro-acústico percussivo.
Em outro projeto, Gleison toca ao lado da talentosa musicista e companheira Keilla Jovi, com quem se apresentou em janeiro de 2013 no Tampere Beatles Happening, na Finlândia, em novembro do mesmo ano no Beatles Weekend em Ouistreham, na França e em agosto de 2014 no Beatleweek festival de Liverpool novamente. Lançou em 2014 disco “Volume One Man Band” lançado pelo selo Versão Acústica/Sony Music Brasil e que conta com a produção de Nando Costa e Emmerson Nogueira e que tem várias participações do próprio Emmerson, Andreas Kisser, Liah Soares, Keilla Jovi, Landau, Cadu Strike e John Ulhôa. Em 2014 , juntamente com a Powertrip, abriu o show da banda J. Quest em Belo Horizonte. Em 2015 lançou também pela Sony o disco “Bregarock Technopop” onde executou todos o instrumentos, produção, mixagem e masterização do disco. Em 2015 retornou à Finlândia para mais uma apresentação ao lado da noiva Keilla, com quem está há sete anos. “Em primeiro lugar vem sempre a família”, diz Gleison, divorciado e pai de duas filhas do primeiro casamento (com 19 e 7 anos), que confessa ter perdido muitas oportunidades justamente para ficar perto da família. Numa última conversa com a revista AQUI PL, logo depois da última apresentação no Superstar, Gleison garantiu que não estava triste. “Só alegria. O caminho agora é fazer muitos shows pelo país afora e fora dele também”, disse o cantor, adiantando que, em agosto, vai com Keilla tocar na Inglaterra pela quinta vez e na Finlândia pela terceira. No Brasil, a agenda está ficando cheia, sozinho, com Keilla e com a banda. “É sempre bom ter o trabalho da gente reconhecido”, comemora Gleison, que a gente espera ver tocar e cantar também por aqui.
1996 - Gleison Tulio aos 19 anos abrindo o show de Zé Geraldo

2006 - Gleison Tulio se apresentando no Rio e teve Yamandhu Costa na platéia2005 - Gleison Tulio abrindo pela primeira vez o show de seu amigo Emmerson Nogueira

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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