Nunca tive pai, é isso, acabou o texto, até a próxima, querido e gentil leitor…
Menti, não acabou não, deixa eu dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar.
Crescer e viver sem um pai foi um negócio muito doido, sabia? Porque até tinha uns figura ali que assinava minha certidão de nascimento, mas que desde sempre deixou claro que não era meu pai. Acho que na hora de me adotar, minha mãe combinou com um monte de gente, mas parece que esqueceu de combinar com ele, também, algo assim. Ele se chateou e é isso, acabou o texto, até a próxima, querido e gentil leitor.
Menti de novo, porque na verdade, isso nunca acaba. É engraçado quando meu filho me pergunta sobre meus pais, ele não conheceu nenhum deles, e eu mesmo acho que só conheci minha mãe, no fim das contas. Eu não tenho histórias pra contar pra ele, pelo menos não boas histórias. E durante muito tempo da minha vida eu pensei que isso seria um problema. Eu queria ter um pai, uai! Todo mundo tinha, e eu também queria. Teria sido bom ter pra onde correr, quando as havaianas da minha mãe esquentavam meu couro!
E eu cresci querendo ser filho do Juca Chaves. Eu achava mágico aquela história dele se apresentar como um menestrel, um bardo, alguém aparentemente sempre de boa, e – especificamente – alguém com um nariz igual ao meu, justo eu, que não me parecia com ninguém.
Foram bons anos em que na minha cabeça eu teria em algum lugar do mundo um pai, e ele teria a cara do Juca Chaves! Porque o adotivo não parecia muito satisfeito com a adoção, e o biológico jamais será conhecido, pelas mais variadas razões.
Me sobrava o Juca Chaves, seu alaúde, sua good vibe e sua figura, eleita por mim como um arquétipo de um ser que eu não conheci, até 2017.
E em 2017, eu descobri o pai que eu sempre procurei nas figuras paternas alheias e num artista singular. Eu achei, enfim, o pai que eu sempre desconfiei que estava em algum lugar da minha vida. Ele estava aqui mesmo, mais perto de mim do que eu conseguiria imaginar.
Foi na aventura maravilhosa e única de ser pai do Vicente que eu descobri que pais são imperfeitos, complicados, intensos e preocupados, às vezes. Foi a partir do instante em que eu disse oi pra barriguinha da minha esposa que eu entendi que eu não cresci ou vivi sem um pai, eu só estava fazendo um intensivo sobre o assunto.
O pai que eu sempre imaginei que estava por aí sempre esteve em mim.
Meu filho talvez ainda não entenda, mas ele me libertou de uma fantasia fadada a jamais ter respostas, quando chegou e me deu a tarefa de ser, pra ele, o pai que eu gostaria de ter tido.
Esse é o meu desafio diário, desde então, esse é meu jogo favorito e minha série imperdível. Esse, querido e gentil leitor (é, eu gosto da Whistledown), é quem eu me tornei, e quem eu realmente gosto de pensar que nasci pra ser.
Eu sou o pai do Vicente, e celebro os pais que todos tiveram com a mesma alegria com a qual celebro o pai que eu tenho sido. Hoje, finalmente, eu sinto que é feliz o Dia dos Pais!
E é isso, acabou o texto, até a próxima, querido e gentil leitor.
Acabou mesmo, é sério. Não posso mais ficar aqui escrevendo, preciso fingir que não estou vendo meu filho escolhendo presente pra mim. Meu dia tá chegando.
Abraço a todos os papais, aos que tem, aos que são, a todos!