Quais são os fios que nos unem na costura pelos retalhos da vida?
Essa foi a pergunta que ficou guardada ao final do encontro de Trocas sobre Economia Solidária que aconteceu na sexta-feira, dia 19/07, no Bem-Estar Estação. O encontro conectou artesãs e pequenas produtoras do município para a formação de uma rede solidária. “O objetivo é valorizar as pessoas que produzem na nossa própria cidade, para que a gente conheça os produtos e compre de quem more na mesma cidade que a gente. E que esses recursos possam circular aqui dentro para gerar renda, gerar qualidade de vida e valorizar o que a gente tem”, definiu a professora Camila Rajão, do movimento Cidade do Cuidado.
Mais de 20 mulheres estavam reunidas, todas artesãs, com suas histórias e sonhos, mulheres da terra ou mulheres que aqui chegaram por diversos caminhos e escolheram viver em Pedro Leopoldo. Todas partilharam um pouco as suas experiências com o trabalho manual, com a tradição de se fazer com as mãos. O que inclui as dificuldades de transformar o artesanato em fonte de renda, a não valorização da atividade e de seus produtos, mas principalmente, destacou Camila, “os sonhos e as possibilidades de transformar o trabalho manual, arte de tradições que atravessa gerações em criação de afeto, cultura e renda para quem produz e também para quem adquire”.
O encontro contou com a participação de quatro integrantes do grupo Mulheres da Vila, pertencente à Comunidade Maloca, de Belo Horizonte, que há mais de uma década se dedica a produzir artesanalmente roupas, colchas e bonecas de pano, ao mesmo tempo em que cria uma rede de apoio solidária às suas integrantes. Adriana Alves Lara, que hoje é vereadora na cidade de Vespasiano, ponderou que “ao estar em grupo, a nossa forma de ver o mundo e as pessoas muda muito, a gente aprende muito com as trocas que nos retiram do nosso lugar, a ter que abrir mão, a abrir outras habilidades, a ceder. A gente vai mais longe quando vai junto”.
A entrada no mundo do artesanato chegou para muitas das mulheres presentes junto com o universo da maternidade, como relatou Patrícia Alves, que trabalha com costura criativa há 6 anos. “Eu comecei a costurar quando o meu filho tinha dois aninhos e aí no meio daquela maternidade, de me sentir meio só, eu queria muito fazer uma coisa que tivesse um tempo para mim, então a costura veio como um hobby e depois passou a ser um negócio”. Essa realidade aparece para muitas mulheres, seja como uma forma de se redescobrir ou como uma possibilidade de renda que permita a flexibilidade de horários que a maternidade demanda.
Ao longo do encontro, algumas artesãs, como Ivone Souza, relembraram a existência da loja dos artesãos da cidade que tinha o aluguel custeado pela Prefeitura e que hoje já não existe. A ausência de um local fixo de exposição dos produtos artesanais foi um dos pontos recorrentes na fala de várias artesãs.
O encontrou marcou o início da criação de uma rede de artesãs na cidade que pretende se estabelecer como uma rede de apoio para o fortalecimento da atividade no município, para a criação de espaços de produção, cursos e venda dos produtos artesanais e para a vivência em comunidade. Os próximos passos são a criação de catálogo com as informações das artesãs e de seus produtos e a realização de uma oficina de bonecas de pano, promovida gratuitamente pelas Mulheres da Vila.