Conhecimento não é saber, título não é cultura

Conhecimento não é saber, título não é cultura

O espaço da praça da Estação é muito semelhante ao que Georgina pensa para o CCA. Mas não precisa ser lá. Pode ser na Fábrica de Tecidos, nas margens do ribeirão nos fundos da Prefeitura e da Câmara, ou mesmo em um terreno particular….

Chega o aniversário da cidade e, nessas ocasiões, nossos jornalistas querem sempre prestar um serviço a ela, seja por meio de memórias que a eternizam, seja listando personagens ou algo que a caracteriza. Eventualmente sou por eles convidada a alinhavar algumas palavras. Nem sempre me sinto adequada pois embora tenha profundas raízes e afeição pela cidade, não usufruo de tudo que ela oferece. Assim, de antemão peço desculpas caso seja redundante no que hoje proponho. Essa a pauta que a Bianca me pediu: de quê a cidade precisa e como viabilizar o que proponho em, no máximo, três ou quatro parágrafos.

Acompanhem-me nessas imagens:

Estamos em um local na região central de Pedro Leopoldo, com cerca de 1000 metros de terreno. Com árvores plantadas de maneira voluntária, mas mediante projeto paisagístico, a área é cercada por bancos e tamboretes. Neles se veem alunos de escolas públicas com seus pais, em atividades conjuntas, ou debatendo com especialistas um tema contemporâneo e interessante.

Mais ao final do espaço, um conjunto de salas simples, mas confortáveis, comportando cerca de 12 a 15 pessoas. Ali acontecem aulas de música, de composição, de escrita e interpretação de textos. Se leem e se discutem autores literários. Quem sabe um concurso anual de poesias e romances? Desenvolvendo escritores ou literatos. Acolá se ouve uma música clássica ou se aprende um instrumento musical. Sempre começando pelos fundamentos teóricos da música, do instrumento e sua história. Pode ser um filme de arte ou um filme clássico, antigo ou contemporâneo.  Em uma dessas salas há uma biblioteca itinerante: a cada 15 dias as bibliotecas da cidade (Faculdade de Pedro Leopoldo, bibliotecas públicas) emprestam parte pequena do seu acervo para servirem de base para leitura, interpretação e debate sobre determinadas obras. De vez em quando, “um café filosófico”. A Filosofia faz falta. Uma das salas é um laboratório de informática em que se aprende a navegar, a pesquisar, a desvendar seus mistérios binários. E certamente, alguns encontrariam a si mesmos em suas escolhas profissionais.

No meio, um anfiteatro (ou até mesmo um auditório) para 50 pessoas, onde se encenarão peças cujos atores são moradores de  Pedro Leopoldo, estudantes de arte dramática – seja como possibilidade vocacional, seja como instrumento de autodesenvolvimento.

Por que me vieram essas ideias? Por entender que Pedro Leopoldo certamente é das cidades com maiores índices de escolaridade do país e, se fizermos um censo, deve estar entre aquelas que mais geraram mestres e doutores. Daí a razão do título dessa crônica desavisada: temos ótimas escolas que nos deram e dão régua e compasso. Temos dois jornais, uma revista, vários blogs. Para o tamanho da cidade, não é pouca coisa. Mas onde está a cultura? Levada a sério de forma sistemática, fazendo de Pedro Leopoldo uma cidade conhecida por suas realizações no campo da arte e da cultura?

Como levar avante essa perspectiva? Como manter tal estrutura? Como adquirir tal terreno? Precisaríamos, evidentemente, de um projeto. Mas apenas para começar: os alunos de escolas públicas teriam aulas e seminários gratuitos. Os que podem pagar, pagariam uma mensalidade. Poderia ser feito um censo das profissões dos pais dos alunos (os que terão acesso gratuito a esse espaço) e verificar se estão dispostos a doar um dia por mês para jardinagem, conserto de equipamentos, pinturas, serviços de pedreiro, aulas, seminários etc.

Cada sala terá um nome escolhido por uma empresa que a patrocinará. Serão salas pequenas e de baixo custo. Empresas maiores poderiam cotizar a aquisição de terreno privado ou desapropriado pela Prefeitura. O Conselho Administrativo assim como alguns palestrantes serão voluntários com compromissos mensais, planejados por pessoas de notório saber na área e dispostas a devolver à cidade o que ela lhe proporcionou no passado. O pessoal administrativo e de manutenção seria contratado normalmente. Mas não seria necessária uma grande equipe.

Alguns cursos poderiam ser dados por alunos de universidades públicas por meio de convênio com o que estou denominando Centro de Cultura e Artes. De repente, estaríamos com programas de extensão da UFMG, da UEMG e outras que se dispuserem por meio de convênios de estágio. O poder legislativo e o executivo, mediante termos de referência, poderiam destinar uma pequena parte de suas verbas para a a construção e a manutenção.

Poderiam contra-argumentar que temos um bom cinema, auditórios espalhados por vários estabelecimentos, clubes que cedem seu espaço. Não é suficiente. Deveria ser um esforço concentrado e planejado, de forma a abrir seus braços àqueles que dificilmente teriam acesso aos bens culturais. E construir um senso de identidade entre aqueles jovens, fazendo-os sonhar mais alto e mais longe. Isso só acontece em projetos coletivos.

Certamente vem à cabeça, de um ou outro leitor eventual, uma quantidade grande de nomes de pessoas que conhecem e que topariam esta empreitada. Arquitetos, paisagistas, professores, musicistas, engenheiros e vários outros profissionais – aposentados ou não – que cederiam seu tempo, competência e consciência social para viabilizar o Centro. Vamos pensar juntos? E concretizar sonhos?

Georgina Vieira da Silva

Psicóloga pela PUC-MInas, Mestre e Doutora em Psicologia Social pela USP

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