Comemorando a conquista do prêmio International Property Awards, um dos mais importantes reconhecimentos do mundo na área da Arquitetura, Vanessa Lacerda detalha o trabalho que a fez conquistar este marco em sua carreira: o projeto “Experiência da Jaguara”, que recebeu o 5 Stars para “Projetos Arquitetônicos Unifamiliares no Brasil”. Seu escritório foi contratado para desenvolver o projeto arquitetônico em uma fazenda na cidade de Matozinhos. “Emblemático”, esta é a definição de Vanessa para um projeto repleto de desafios, desde sua concepção à sua execução. O amplo espaço foi pensado como um complemento à casa principal, que passou a contar com um agradável local para os encontros familiares e para receber amigos próximos. “Alguns pré-requisitos foram solicitados pelos proprietários, como amplitude, ventilação e iluminação natural, conforto térmico e, sobretudo, a preservação da vista original à formação rochosa natural Monumento Natural Experiência da Jaguara”, explica a arquiteta.
A demanda dos clientes era desafiadora e acabou se tornando o diferencial do projeto: “Alguns elementos foram cuidadosamente desenvolvidos para promover a integração harmoniosa entre a arquitetura e a paisagem, a conexão entre os espaços a serem habitados e a natureza preservada do paredão de pinturas rupestres. O conceito para o desenvolvimento e implantação do Espaço de Convivência sempre foi norteado por uma linha imaginária que faria a ligação entre a sede da fazenda existente e o monumento de formação rochosa. Toda a premissa foi desenvolvida através dessa linha, que no exercício do projeto, se concretizou no pórtico de aço corten. Tal elemento delimita o espaço de implantação da área de lazer e passa a fazer a interligação entre sede e formação rochosa”, explica Vanessa Lacerda.
Para respeitar a vista da antiga casa da fazenda para o paredão rochoso, o telhado do novo espaço ficou nivelado com o gramado existente. “O resultado é que aquele espaço se tornou um local para contemplar o monumento natural. Um verdadeiro mirante com uma linda vista”, detalha a profissional, que, em parceria com Leandro Carvalho, seu sócio à época, projetou uma grande estrutura de metal que se tornou uma das características que mais chamam a atenção ao trabalho.
A água também ganhou destaque no projeto e se tornou mais um elemento de integração junto ao pórtico. “Ao mesmo tempo em que melhora o conforto térmico do nível inferior, a água une conceitualmente os dois níveis do projeto. O que era, anteriormente, um lago, passou a ser uma piscina com borda infinita, alimentando a queda d’água sobre o vidro da sauna, valorizando a acessibilidade visual ao patrimônio natural”, esclarece a arquiteta.
No projeto desenvolvido por Vanessa Lacerda e Leandro Carvalho, há ainda um home cinema, um escritório/sala de leitura, uma sofisticada adega, uma ampla sala com mesa de sinuca oficial, no tradicional estilo inglês, integrada ao espaço gourmet. “Já havia uma grande cozinha, que foi incrementada com chopeira de ilha e cervejeira, mantendo o fogão a lenha, churrasqueira e o corredor de serviços”, pontua Vanessa.
A fazenda fica localizada em Mocambeiro, em uma região geográfica privilegiada por belezas naturais, que pertence à região da APA Carste de Lagoa Santa, tombada pelo patrimônio estadual, por conter inúmeras cavernas e pinturas rupestres em suas edificações rochosas. “Por se tratar de uma área privilegiada com edificações naturais tombadas e com preservação determinada pelos órgãos estaduais, tivemos que respeitar a distância mínima para implantação do projeto. A arquitetura edificada é contemporânea, arrojada e se destaca no meio rural em que foi inserida, sem agredir ou desvalorizar a arquitetura colonial existente”, relata a profissional.
Sustentabilidade
De acordo com Vanessa Lacerda, um cuidado comum em seus projetos é com o meio ambiente. Por isso, uma série de ações foram realizadas para otimizar recursos, como a vegetação transplantada e a iluminação natural. “A fazenda é dotada de inúmeros jardins. A partir dessas áreas, retiramos a maioria das mudas que compõem o paisagismo atual da edificação. Outro ponto é a fachada em esquadrias de vidro que proporciona, em média, 10 horas de iluminação natural ao longo do dia. Além disso, foram instaladas lâmpadas de LED e realizadas automatizações para que o equipamento só acenda quando realmente for necessário”, ressalta.
O sistema construtivo foi por meio de formas metálicas, para evitar o uso e desperdício de madeiras na obra. As que foram usadas no mobiliário da cozinha e corredor de serviço, foram desenvolvidas em MDF (Medium Density Fiberboard), um painel de madeira reconstituída, proveniente de reflorestamento. Para o descarte do esgoto, foi construído o sistema de fossa séptica, filtro e sumidouro, que devolve ao meio ambiente a água filtrada e sem resíduos.