Algumas pessoas marcam as nossas vidas para sempre. Uma delas é o Zé Issa (José Issa Filho). Eu o conheci desde que vim para Pedro Leopoldo. Passei a admirá-lo pela maneira alegre e descontraída com que manifestava suas opiniões, sempre propondo ideias novas e compartilhando experiências.
Zé Issa era casado com Maria Natércia Machado Issa, professora e excelente musicista. Tiveram nove filhos. Uma linda família cristã, filhos muito bem-educados, caridosos, dedicados a Deus e à família como seus pais: “Toda árvore boa produz bons frutos” (Mt 7, 17).
O Zé Issa nasceu no dia 11 de abril de 1923, em uma casa situada à rua São Sebastião, onde fica, hoje, a loja Shena. Nasceu poucos meses antes de Pedro Leopoldo tornar-se município, no dia 27 de janeiro de 1924. Amava tanto a cidade que sofreu muito quando teve que se afastar dela para estudar. Em um de seus livros, ele declara com muita ternura e lirismo: “A verdade é que para onde vou, levo a cidade de Pedro Leopoldo no coração e ainda fica espaço para muitos amarrados de saudades de um mundo de coisas que ficaram para trás, ou melhor, levo Pedro Leopoldo do presente e do passado dentro do coração” (Coisas do Reino de Pedro Leopoldo- 3).
Muito simples, gostava de fumar seu cigarro de palha, amava o Boi da Manta e o Carnaval. Sempre, no último dia do Boi da Manta, ele saía fantasiado, acompanhando a Banda. Era uma alegria que não cabia no peito!
Ser humano íntegro e autêntico, com uma história de vida bonita, bom esposo e pai dedicado, amigo prestativo, de conversa alegre e prazerosa, além de excepcional escritor. Excelente comunicador, com um jeito de falar envolvente, gostava muito de ler e escrever. Assuntos para seus livros não faltavam!
Escreveu 15 livros, sendo a maioria deles sobre Pedro Leopoldo. Construiu uma obra singular, abordando temas diversos, partindo dos acontecimentos do dia a dia, usando uma crítica afiada, não poupando nem seus próprios amigos e parentes. Foi premiado na Academia Mineira de Letras, em 1968, com o livro “O Mascate Elias”. A obra “O outro lado do Rio” não chegou a ser publicada, mas também foi premiada pela Academia Mineira de Letras.
Dentista por formação, analista político por satisfação pessoal e escritor por vocação, seus livros expressam, com fluência, a realidade do povo, um retrato rico em detalhes da vida e dos costumes dos pedro-leopoldenses.
Profundo conhecedor da alma humana, não ficou indiferente ao fascínio e às incoerências de muitos de seus concidadãos. Seus livros fazem um registro fiel dos fatos do cotidiano, mostrando um olhar crítico, fiel à realidade.
Como afirmei anteriormente, Zé Issa era muito ligado à família. Tinha o costume de visitar o Sr. Nagib, seu primo, todas as manhãs. Lá, o diálogo não tinha fim, pois encontrava-se com o Dr. Hélio (ex-prefeito de Pedro Leopoldo e filho do Nagib) e passavam horas conversando ali mesmo na loja, tendo como foco a política e, como consequência, o desenvolvimento da cidade. Se ele demorava a chegar, o Nagib logo reclamava: Zé Issa está demorando!
Foi grande conselheiro do Dr. Hélio, formador de ideias, pessoa marcante naquele período de disputa política ferrenha. Coração grande e bondoso, só queria o progresso de Pedro Leopoldo.
Amigo sincero nas horas boas, mas, principalmente, nas horas difíceis, deixou saudade e a loja do Nagib (posteriormente, de Tutinha) ficou mais triste sem a sua presença amiga.
Zé Issa faleceu aos 92 anos, no dia 21 de setembro de 2015.
Neste ano em que celebramos os 100 anos de Pedro Leopoldo, falar de um ilustre e apaixonado cidadão, também centenário, nos faz pensar em como as pessoas deixam marcas indeléveis em suas cidades. Zé Issa ainda vive na memória deste povo como um cidadão à frente de seu tempo, que sonhava com o progresso acelerado de uma cidade inesquecível para todos que têm e tiveram a alegria de ter nascido aqui.
Ana Celeste T. Cunha Issa
P.S. – Meus sinceros agradecimentos pelas informações de Magali Viana de Azevedo Issa, Mirtes Issa Vieira e José Luciano Salomão Issa.