O marketing político-eleitoral com o uso das redes sociais desponta cada vez mais como uma alternativa, ou no mínimo um complemento, às dispendiosas campanhas presenciais com o seu extenuante uso do contato corpo-a-corpo. Não se trata de achar que a modalidade presencial deixará de ter qualquer importância, mas, em 2018, o Brasil vivenciou um terremoto político.
O uso da internet atingiu um ponto crítico, influenciando reviravoltas nas eleições para presidente da República, governador e senador, e várias personalidades e movimentos políticos conquistaram cadeiras na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas.
Nesse ano de eleição municipal, Pedro Leopoldo já experimenta essa virada. Pessoas populares nas redes se apresentam para a disputa, gerando bastante engajamento. Lados antagônicos usam a polarização e se reforçam mutuamente nos grupos de discussão sobre o município. Pré-candidatos e partidos recorrem a vídeos e a lives para aferir seu prestígio e definir sobre a entrada na disputa eleitoral, o cargo a ser disputado e a estratégia a ser adotada.
Várias de nossas elites tradicionais, contudo, parecem dormir no ponto, produzindo pouco ou nenhum conteúdo para as redes. Possivelmente confiam que a mobilização tradicional fará com que eles despontem com o início da campanha oficial. Isso num ano com pelo menos duas peculiaridades muito importantes, a começar pela epidemia de Covid-19, que mina a possibilidade de grandes comícios e de um corpo-a-corpo extenso, de um lado.
E, do outro, o fim das coligações para a disputa ao cargo de vereador, que antecipa a possibilidade de pré-campanhas partidárias e pode fazer com que legendas pequenas lancem candidatos a prefeito mesmo sem chances de vitória, objetivando angariar visibilidade ao partido.
Se não se prontificarem, muitos dos postulantes mais longevos podem ter surpresas desagradáveis na apuração das urnas em novembro. Mesmo que algum deles ainda vença, o balanço de forças políticas na cidade restará irreversivelmente modificado, com novos protagonistas dotados de poder de barganha e capacidade de exercer muita pressão política.
É equivocado pensar que a digitalização facilite a mobilização de campanhas na reta final, quando o contrário se verifica com mais frequência: na última votação, candidatos com base de apoio na internet, sobretudo os de direita, obtiveram sucesso em grande parte porque cultivaram um engajamento e produziram material opinativo e ideológico durante anos a fio, conquistando ao longo do tempo uma fervorosa militância política que só depois se manifestou nas ruas.
Para um debate político saudável, precisamos que todos os projetos políticos, antigos e novos, se apresentem ao eleitorado nos canais de comunicação existentes, sobretudo os digitais, que possibilitam uma interatividade sem precedentes.