Se as mulheres são minoria na BicaGalo – afinal elas são cinco em uma diretoria de 19 – elas se equivalem aos homens no comando. Ninguém fica no banco e nas três gestões dos cinco anos da torcida, elas estão à frente de duas. A primeira presidente, por exemplo, foi a jornalista Fernanda Carina.
“No dia 5 de fevereiro de 2015, eu passava em frente à Padaria Jaques quando meu amigo Maurício Albano me chamou. Ele me disse, bravo até, que já havia procurado várias pessoas para que fosse criada em Pedro Leopoldo uma torcida dos atleticanos da cidade e que ninguém nunca tinha levado sua ideia pra frente. Me colocou como sua última esperança”, lembra Fernanda.
Maurício tocou na ferida e na paixão ao mesmo tempo. Desafiada, ela chegou em casa e, no mesmo dia, criou um grupo no whatsapp com os vários atleticanos que conhecia. E que não eram poucos. “Marcamos uma reunião para o dia 9 do 2 (data sugestiva) e ali, no Bar do Marquinho, criamos a BicaGaloPL. O nome foi por votação. A minha presidência, por aclamação. Estranho né? Eu era uma das poucas mulheres numa roda repleta de homens. E por unanimidade, me escolheram”, conta Fernanda.
Já no mês seguinte, março, o grupo promoveu a primeira GaloFest, que foi sucesso absoluto. De lá pra cá, a torcida só cresceu. “Como presidente, minha fama era de punho de ferro na Comissão. De brava, de centralizadora. Mas não tinha outro jeito, já que futebol ainda é um mundo machista. Eu tinha que me sobressair pra fazer acontecer, mas confesso que não foi difícil. Sempre fui muito respeitada ali. Não sei se porque todo mundo sabe do quanto amo futebol, frequento estádios, enfim, eu brinco que futebol eu só não sei jogar. Mas consigo dar 18 embaixadinhas!”
A atuação dela foi além das embaixadinhas. “A Fernanda fez um trabalho fantástico. Ela era, sem dúvida, o melhor perfil que tínhamos para aquele momento. A torcida tinha que ser levada com o coração, afinal estávamos começando, e ela foi brilhante, nos contagiando e levando o time para a frente”, conta Emiliano Braga, que a sucedeu no comando da BicaGaloPL.
E se na diretoria que veio depois dela quem estava à frente eram dois homens, Emiliano e Juliano Pato Roco, na terceira também tem mulher mandando. Desta vez é a vice-presidente Ana Paula Santos, que assumiu com o novo presidente, Juliano Fagundes. “A BicaGalo empodera as mulheres”, diz ela. “Tanto é que começou sob o comando de uma mulher que, com muita garra e firmeza, conseguiu fazer a associação de torcedores ter o reconhecimento que tem hoje”, sustenta.
Para Ana Paula, apesar da grande maioria da comissão ser de homens, as mulheres sempre tiveram vez e voz. “E é exatamente aí que está o nosso diferencial. Afinal, mulher ama futebol, vai ao campo, torce, luta por seus objetivos, briga por seus ideais e participa das decisões”, sustenta a vice-presidente, afastando qualquer possibilidade de preconceito de gênero: “na BicaGalo somos ouvidas, trabalhamos duro e temos o mesmo reconhecimento”.
Outro diferencial apontado por Ana Paula é o amor pelo Clube Atlético Mineiro que, somado a administrações exemplares, fez de um grupo de torcedores um time unido para fazer o bem aos atleticanos e a toda cidade. “Isso nos traz segurança para que a BicaGalo cresça cada vez mais, atuando nos quatro cantos da cidade através de eventos que visam as famílias e, por isso, oferecem segurança, alegria e qualidade”, finaliza.
Protagonismo natural
Para Emiliano, o protagonismo das mulheres é uma consequência natural do talento e competência delas. “Quando vejo as “executivas” da BicaGalo, sempre me lembro da minha mãe, que assumiu a empresa de minha família como gestora principal, quando meu pai foi administrar um outro negócio. E foi um sucesso”, diz Emiliano, que explica: “é claro que, como professora em comunidade rural, ela tinha uma base forte, sabia como organizar um projeto e lidar com pessoas”.
Tais qualidades são fundamentais, segundo o empresário, no dia a dia de uma empresa. Ele as vê na esposa Jordana, que atualmente trabalha com ele, mas já teve seus próprios negócios. E também nas colegas da Pruftechnik/MGS. Ao lado de Emiliano na empresa estão gerente, orçamentistas, profissionais de comércio exterior que são mulheres e que, contrariando estatísticas mundiais, ganham a mesma coisa que os homens. “E até mais, quando têm mais experiência e competência”, afirma o empresário.
Um conceito que se afina com o que pensa – e brinca – a primeira presidente da torcida que, aliás, ficou três anos no cargo. Quando perguntada se homens e mulheres são iguais na BicaGalo, Fernanda Carina não titubeia. “Sem falsa modéstia, não. Amo “meus meninos”, são ótimos, mas as mulheres são melhores. Mais atuantes, mais engajadas, mais ligadas, mais ativas, mais objetivas. As que passaram e as que estão, são o motor da BicaGaloPL”, diz. Para Fernanda, ter mulheres com total liberdade para agir é o grande diferencial da torcida. “Se outras entidades enxergassem isso, o mundo estaria melhor”, garante.