Quando estava grávida da minha primeira filha, pensei bastante para escolher um nome que pudesse representar o que eu desejava para ela em sua existência que começava. Eu queria que ela soubesse que tinha valor, que fosse forte e corajosa para ser o que desejasse ser e para que pudesse trazer o que é bom e justo para este mundo. Assim, nasceu Olga, carregando o nome de uma mulher gigante, honrando todas aquelas que lutaram para que hoje, ela, eu e todas nós, mulheres, possamos falar e conquistar nosso espaço na sociedade.
Minha filha se chama Olga em homenagem à Olga Benário Prestes, que dedicou sua vida à política e à atuação social. Uma mulher que sonhava com uma sociedade com menos desigualdades, menos pobreza e menos sofrimento para o povo. Uma mulher que, por defender seus ideais, por atuar pela igualdade e pela liberdade, foi presa e deportada para a Alemanha, de onde foi enviada aos campos de concentração nazistas para morrer em uma câmara de gás.
Hoje, mais de 80 anos depois do assassinato político de Olga Benário dentro de um campo de extermínio, ainda convivemos com mesmo tipo de violência que procura calar as vozes das mulheres que ousam questionar os lugares e papeis femininos impostos aos nossos corpos. Ainda nos perguntamos quem mandou matar Mariele Franco, enquanto lemos no jornal que a deputada Bella Gonçalves recebeu ameaças de morte e de estupro. Ou quando escutamos que a parlamentar Andreia de Jesus precisa de escolta para proteger a sua vida daqueles que não conseguem conviver com a presença de uma mulher negra forte e atuante no espaço político mineiro.
E assim, sem nenhuma surpresa, infelizmente ouvimos as denúncias de perseguição e violência política de gênero sofridas pela deputada Beatriz Cerqueira dentro da Assembleia Legislativa. A parlamentar citou vários episódios de tentativas de intimidação e silenciamento, feitas por assessores de deputados pertencentes ao Gabinete do ódio, como eles mesmos se denominam.
Até quando seremos vítimas de ameaças, de esquemas intimidatórios, difamadores, ou perderemos nossas vidas simplesmente por ousar ocupar e disputar o espaço político brasileiro, tradicionalmente masculino, violento e excludente?
Não tenho resposta para essa pergunta, mas tenho a certeza de que o caminho para solucionar esse desafio é percorrermos juntas essa estrada. Sigamos mulheres, de mãos dadas, com nossos filhos no ventre, no colo ou no nosso seio, com nossa força, nossos sonhos, nosso amor imenso. Sigamos com a potência de nossa voz em coro. Juntas, seremos vistas, na imensidão das cores de nossas vestes e peles. Juntas, seremos ouvidas. Juntas, nossas mãos poderão construir um futuro melhor. Juntas, nunca conseguirão nos calar.