Análise política do Pro-PL: quem paga a banda, sempre escolhe a música

Análise política do Pro-PL: quem paga a banda, sempre escolhe a música

Com a ousadia e a cara de pau que não me cabe na fuça, aceitei o ilustre convite de alguns dos integrantes da organização. Mineiro que sou, fui espiar a primeira reunião pública do Pro-PL. Pude ver e confirmar o programa, os agentes políticos e as
engrenagens que movem e financiam este grupo. Separei alguns tópicos para descrever essa garbosa e muito rica experiência entre a elite pedroleopoldense no Hotel Tupyguá em uma terça-feira (03/03) de uma noite bem chuvosa.

Organização Apartidária – A primeira contradição do grupo, que até as próprias lideranças reconhecem: se rotulam como uma organização apartidária mas deixam bem claro que o movimento nasce das crias do Partido Novo (aquele do Governador de Minas e do Ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro). Já que o partido decidiu não participar das eleições de 2020 em cidades pequenas, esse grupo de seletos cavalheiros e damas optaram por criar uma organização para discutir como irão influenciar e atuar no xadrez político da cidade. E, para além disso, a organização pretende oferecer um partido e uma legenda para seus participantes e para o povo. Alguma surpresa? Nenhuma. Pura demagogia do “apartidarismo”.

Organização Democrática – A retórica é de que suas ações e seu plano de governo se fundamentam na sociedade civil, mas suas práticas e até mesmo os dados apresentados pelo grupo revelam outra coisa. No powerpoint da organização,
contabilizaram, até a data presente, mais de 100 reuniões a portas fechadas com expectativa de realizarem mais 80. Reuniões abertas, só essa que compareci, com uma meta de fazerem 16. Para um grupo que se diz democrático e criado desde abril de 2019, esses números não deveriam ser ao contrário? Para alguns, democracia demais pode ser perigoso…

Despolitização do Povo – Explorando o momento de crise de representação que vivemos, de desilusão com o âmbito político, onde tudo parece briga de partidos e que nada funciona, a narrativa do Pro-PL é no mínimo muito perigosa. Usam o argumento, acompanhado do apelo moralístico, de que o problema da nossa cidade está na gestão, metas, números e planejamento estratégico. O que é uma ilusão e uma grande armadilha, servindo muito bem aos interesses de seus dirigentes. É lógico que precisamos de pessoas competentes e capacitadas para desenvolver nossos projetos técnicos, mas isso está longe de ser a origem do problema. Afinal, execução técnica pode ser adquirida com treinamento ou trazendo pessoas já treinadas. Estou falando isso porque projeto político conta, e debatê-lo é debater ideologia política. E isso faz toda a diferença! Ela é que vai determinar o que está por trás e o que vai para frente. A política, assim como o servidor público em qualquer esfera, é orientada ou amordaçada por uma diretriz política. Mas elas vieram de onde? Por quem? Para quê? Quem financia?

Narrativa despolitizada – Não sejamos inocentes. Devemos ter sempre os dois pés atrás com quem tem esse discurso raso que só soa bem aos ouvidos. Ele não revela nada, ao contrário, ativamente esconde coisas e faz com que fiquemos encantados com tanta “sensatez” e nos esqueçamos de fazer essas perguntas tão essenciais. Esse tipo de narrativa
despolitizada não provoca reflexão alguma sobre a estrutura política de Pedro Leopoldo. Estruturas de poder que sempre favoreceram as políticas públicas da nossa provinciana cidade para as elites empresariais e familiares, que quase sempre são a mesma coisa por essas bandas. Um exemplo foi a questão da pulverização e mudança da nossa Biblioteca Pública. Esse discurso despolitizado faz parecer que se tratou de uma orientação técnica e não uma política embasada nos interesses privados. Ou, ainda, o recente aumento votado para os vereadores enquanto os servidores da Prefeitura não sabem o que é issodesde 2015. Conseguem ver como o projeto político define a ação técnica ou ausência dela?

Conclusão – Nada de Novo. Literalmente – A organização Pro-PL surge como reflexo da disputa da alta-roda pedro-leopoldense pelo controle do legislativo e executivo da nossa cidade num momento de crise econômica e desindustrialização nacional. Se tiverem sucesso, não se assustem quando colocarem o peso da crise nas costas do povo: cortes na prefeitura e em verbas para bens e serviços públicos gratuitos (estado mínimo para o pobre) e apoio a interesses privados (estado máximo para eles). E para isso vão utilizar as armas que tem: dinheiro, influência, pressão econômica em funcionários e a despolitização do povo. O que mais preocupa não é a chegada desta organização em Pedro Leopoldo, afinal a ofensiva liberal conservadora está em curso em todo o país e as políticas municipais não iam ficar de fora. O que preocupa é a desarticulação da esquerda na cidade e, em menor escala, a cooptação de pessoas do campo popular que podem colaborar com esse projeto por deslumbramento ou oportunismo político. Enfim, se queremos uma política realmente diferente em nossa cidade, não basta discutir nomes de fulano ou beltrano. É preciso discutir qual projeto político queremos: progressista e inclusivo ou reacionário e excludente. E amigos, tenham essa certeza: quando se trata de política e principalmente de eleições, quem paga a banda, sempre escolhe a música.

ESTE ARTIGO NÃO REFLETE NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO SITE AQUI PL

Igor Xadai

Igor Xadai é engenheiro agrônomo, graduado pela UFMG e especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos

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