Tudo começou no ano 2.000, quando a primeira turma do programa foi formada. Os alunos vieram das escolas públicas de Santo Antonio da Barra, Ferreiras e Vera Cruz. Vinte anos depois, o programa AABB Comunidade de Pedro Leopoldo, que neste período atendeu milhares de crianças, é uma realidade para 120 delas, com idades entre 6 e 12 anos, às quais são oferecidas atividades de lazer, esporte e aprendizagem no contraturno escolar.
São aulas de natação, capoeira, futsal, balé, coral, oficinas de artesanato, artes plásticas e materiais recicláveis, entre outras atividades que impulsionam a criatividade e a motivação. Nesse contexto, também são realizados sorteios, festas comemorativas, contação de histórias, dinâmicas, bingos, campeonatos, exposições e excursões.
Nesse momento em que foram necessárias adaptações devido à pandemia de Covid-19, algumas modalidades estão sendo oferecidas de maneira remota através de vídeo-aulas, para que não ocorram retrocessos no processo de aprendizagem das crianças.
Em meio às atividades on-line, o AABB Comunidade se manteve conectado e firme no propósito de levar educação para seus participantes. A garotada, por sua vez, caminhou junto e se envolveu nas propostas encaminhadas por meio das vídeo-aulas. O empenho e envolvimento de três alunos, com idade entre seis e oito anos, despertou a atenção da equipe de Coordenação, que uniu esforços e viabilizou alguns mimos para presentear os pequenos educandos.
As crianças receberam bolas e kits com guloseimas. “Nosso objetivo com a distribuição das lembranças foi reconhecer e valorizar a dedicação dos meninos e incentivar os demais participantes a executarem as tarefas”, explica a coordendora Romilda Hoffman Torres. Prestigiaram a entrega o Presidente do clube, Darlan Chaves Ferreira; a Secretária do clube, Marlene Marques, além da equipe de Educadores.
Durante a pandemia, o programa AABB Comunidade está trabalhando com atividades no ballet, futsal e artes (plásticas, com materiais recicláveis e variados). Em sua fala, o Presidente do clube, Darlan, enalteceu a ação. “Parabenizo a excelente iniciativa da coordenadora e dos educadores, por valorizarem o comprometimento dos alunos e também fortalecerem os vínculos, já que as aulas estão acontecendo só no formato on-line. É uma honra participar desse momento”, disse Darlan.
Coordenando o programa há dois anos, Romilda Hoffman Torres diz que “ao longo dos anos, as experiências vivenciadas aqui me ajudaram a desenvolver aptidões cognitivas e metacognitivas, a fim de contribuir com o crescimento do projeto como um todo. Trabalhamos com dialogicidade, confiança, respeito, competência e responsabilidade e foi com o esforço e dedicação da equipe que tivemos bons resultados”.
Uma história de duas décadas
Nesses vinte anos, o programa se consolidou como parceria bem-sucedida entre o Banco do Brasil, através da AABB e da Fenabb, e a Prefeitura de Pedro Leopoldo. Promoções como a Feijoada da AABB turbinam as atividades. “Temos um corpo de associados que tem como grandes valores a solidariedade e a empatia. Eles não só aprovam como estimulam o programa e são responsáveis diretos por estas crianças terem mais oportunidades e serem mais felizes”, elogia o presidente da AABB, Darlan Chaves.
Já em 2003, dois anos depois que havia iniciado suas atividades, o projeto mostrava a que veio na revista AQUI PL. O então presidente da AABB, Francisco Kuchenbecker, o Chiquinho da AABB, pretendia ampliar o programa e procurava parceiros que pudessem estendê-lo para outras regiões da cidade. Em 2012, nova matéria na revista AQUI mostrava que o projeto tinha dado frutos, ao inspirar o Holcim Comunidade, de orientação semelhante, com a cimenteira atendendo 200 crianças em sua área de entorno com atividades culturais e esportivas no seu clube, a Adeci.
A iniciativa da Holcim não foi adiante, mas ficou como exemplo para outras empresas, que tenham área ou estrutura para disponibilizar a crianças que poderiam assim ter acesso a esporte e lazer. O grande diferencial do programa é o local onde ele é realizado. O clube da AABB de Pedro Leopoldo está localizado em meio a uma imensa área verde e uma completa estrutura para a prática de esportes e atividades de lazer. Um privilégio normal para as crianças de classe média que frequentam clubes, mas um sonho outrora distante para os participantes do projeto, que pertencem a famílias em risco social.
“Sempre foi uma proposta efetiva ampliar os horizontes culturais e emocionais dessas crianças, evitando o trabalho precoce ou a ociosidade, que dão lugar às artes, esportes e conhecimento. Atividades que são desenvolvidas nos dias de semana, de manhã e à tarde, utilizando todo o equipamento disponível no clube”, aponta Darlan.
O papel de cada um
O Programa Integração AABB Comunidade é uma proposta socioeducativa desenvolvida nas AABBs, que integra família, escola e comunidade. Atende a crianças e adolescentes com idade entre 6 a 14 anos de famílias em situação socioeconômica desfavorável.
O objetivo é promover o desenvolvimento integral dessas crianças e adolescentes, por meio de ações educacionais que favoreçam a inclusão socioprodutiva e ampliem a consciência cidadã. As crianças são buscadas em casa ou na escola de ônibus e recebidas na AABB no contraturno escolar; ali recebem alimentação, exames médicos e odontológicos, atividades socioeducativas, inclusive esportivas e de lazer, e são levadas de volta.
A AABB cede espaços do clube para a realização das atividades, mantém o programa em funcionamento, qualifica a equipe de educadores e acompanha a execução do Programa. A Fenabb, por sua vez, aloca recursos para informática, pequenas reformas e capacitação de educadores.
A Fundação Banco do Brasil é responsável por móveis, equipamentos, uniformes, material didático-pedagógico, de higiene e primeiros socorros; já a Prefeitura cuida da alimentação e transporte dos educandos e a contratação dos educadores, além da realização de exames odontológicos e médicos.
“Contar com a prefeitura dá ao programa uma garantia de continuidade, que é a grande responsável por sua eficácia”, diz Darlan. E faz com que, segundo ele, o programa se consolide como uma ação que realmente contribui para a inclusão da criança em um universo maior, integrando a família, a escola e a comunidade
“Ao longo desses vinte anos, passaram pelo AABB Comunidade mais de mil crianças. Muitas delas foram encaminhadas para estágio, outras estão na universidade. O contato com o esporte abriu horizontes para garotos como o goleiro Darley, que do AABB Comunidade foi para o Atlético, passou pela Holanda e pelo Náutico de Recife”, conta Chiquinho da AABB, que fundou e foi responsável pelo programa durante mais de quinze anos.
Darley foi uma daquelas crianças que, nesses vinte anos, chegaram de ônibus à sede da AABB em Ferreiras e tiveram acesso a um sem número de atividades. Teatro, visitas educativas (parques, zoológico, aeroporto), atividades artísticas (pintura, coral, artesanato) e de reforço escolar, além de aulas de informática e assistência pedagógica, médica e odontológica, além de poder praticar todos os esportes: vôlei, peteca, futebol e a sempre festejada piscina, entre outros.
O primeiro na política
Como Darley, várias crianças e adolescentes vislumbraram ali novos horizontes, que as fizeram crescer e as incentivaram a tornarem-se cidadãos participativos na comunidade. Nas eleições de 2020, o AABB Comunidade viu seu primeiro membro tentando entrar na política. Ricardo Silva escolheu um partido conservador e uma plataforma progressista, baseada em democracia participativa. Ele vive em Santo Antônio da Barra, na comunidade Horta Comunitária, desde os nove anos, quando veio morar com os avós maternos para ajudá-los nos trabalhos da roça e na criação de porcos.
Em 2002, aos 15 anos, ele trabalhava no lixão do Coqueirinho quando foi abordado pelo então vereador Chiquinho da AABB. O vereador se compadeceu da situação do garoto e fez contato com sua avó, dona Nenzinha, para trazê-lo ao AABB Comunidade. “Mesmo com a idade já avançada para o projeto naquela época, fui muito bem acolhido e orientado pela coordenadora Simone Rajão”, conta Ricardo.
E foi Simone quem o indicou para participar de um projeto entre o município e o Senai, o Aprendizagem Social Mecânica Industrial. Devido ao seu desempenho, ele ganhou uma bolsa parcial no curso técnico de Manutenção Mecânica. Daí não parou mais: foi trabalhar na indústria e, em 2013, iniciou o curso de Engenharia Mecânica.
“Minha trajetória só foi possível devido à visão social do Chiquinho e ao direcionamento da coordenação do projeto AABB Comunidade”, reconhece Ricardo. “Tenho uma gratidão enorme por este projeto e hoje reconheço a importância do trabalho social nas comunidades, junto às crianças e jovens”, completa.
Aos 33 anos, Ricardo é sócio-proprietário da Confinscar Centro Automotivo e se candidatou nas eleições deste ano a vereador em Pedro Leopoldo, pelo partido Patriota. Não foi eleito, mas teve oportunidade de levar aos pedro-leopoldenses sua proposta de reorganizar as associações de bairros, para que elas tenham mais representatividade junto ao poder público. “A força vem das comunidades organizadas”, afirma.