Após alguns minutos na recepção da antiga clinica São João Batista, que hoje é o CIAS, bem próximo à rodoviária. minha mente vagueia…faço um tour pelos corredores e começo a observar os pacientes que circulam por eles. Como a cidade é pequena, conheço bastante gente por aqui. Vejo uma jovem senhora que sempre foi bela, mesmo acima do peso e, hoje, vem ali balançando as peles debaixo do braço, ao gesticular para dar informação a um paciente.
Surge uma loira linda de uma família tradicional e eu percebo que a pele já perdeu o brilho, ela inclusive usa uma bengala com quatro pés para seu apoio ao caminhar. Um senhor abastado e de posses chega corcunda e abatido. É acompanhado por sua esposa, que, num passado recente, há pouco mais de vinte anos, me impressionava por sua imponência e elegância. Agora já se porta com modéstia.
Na antessala do consultório vejo outra senhora, esta muito trabalhadora, que outrora era uma loura esfuziante e noto que seus cabelos estão brancos e poucos. Assentada numa cadeira de rodas, recebe canjica na colherzinha de sua filha, que a trata com muito carinho. Pessoas mais velhas sofrem muito nessa época, quando a temperatura cai, afinal nossa cidade é um vale, cercado de montanhas.
A filha dela já envelheceu também, após passar por várias lutas na vida e prossegue vitoriosa, será que herdou a genética boa da mãe? Penso que sim. Encontro aqui um cliente de quando eu tinha um armarinho ali na rua do Banco do Brasil, ao lado da ótica Áurea, no início dos anos 199o. Ele era alto, magro e simpático e, bom de prosa como ele só, sempre tinha um causo bom para contar. Agora, no entanto, só queixas…
De fome, vontade de desmaiar, são muitas as lamúrias. O cabelo já está bem alvo e ele nem é tão magro mais, já dá para perceber uma barriga se salientando dentro de uma camisa azul de listras brancas. A pouca distância, vejo um senhor que, até poucos anos atrás, pagava de conquistador, galanteador, porém hoje… só lhe resta o cabelo amarrado em forma de canudo, com um boné para disfarçar os poucos fios, ásperos e cinzas.
Ah …o cavanhaque foi mantido para não perder a pose. E o sapato engraxado permanece num brilho só, como tinha o vulcabrás 765 do meu pai. Revejo uma antiga vizinha, que andava muito a pé. Tinha os cabelos pintados de ruivo. Hoje anda com dificuldades e muitas dores nas articulações, o joelho está redondo de tanto inchaço. Não deve ter mais ânimo para avermelhar as madeixas.
Assim segue o curso da vida! Tudo passa a ser natural …. inclusive os cabelos brancos, que não fazem mal à cabeça. Difícil mesmo é reencontrar uma senhorinha do meu coração que não me reconhece mais. Penso que, ao chegar à velhice, Deus a presenteou para que esquecesse algumas fases doloridas da vida. Tento cuidar da minha saúde, porque sei que a velhice faz parte da vida, assim como a infância. O curso da vida segue para todos, tenha dinheiro ou não, status ou glamour. E é melhor viver bem, porque do final ninguém escapa.
Mas é prazeroso saber que, depois de passarmos por essas lutas daqui, temos um Bom Senhor que nos aguarda no porvir. Com Ele viveremos eternamente, sem morte e nem choro… Tristeza e dor? Nunca mais!!!