A verdadeira história do nome da rua principal

A verdadeira história do nome da rua principal

O livro “Pedro Leopoldo, entre letras e histórias: memórias de uma cidade centenária”, de Letícia Rodrigues Guimarães Mendes, foi lançado no dia 26/6, no auditório do Hotel Tupyguá. A obra é fruto da tese de doutorado de Letícia em Estudos Linguísticos pela UFMG e revela , através de pequenas biografias, a vida das pessoas que dão nome às ruas de Pedro Leopoldo. O evento foi prestigiado por filhos e netos de alguns destes personagens, que leram seus verbetes para uma plateia emocionada.

A autora Letícia Mendes e Zélia Cerqueira, no lançamento do livro

Um deles se refere ao nome da rua principal de Pedro Leopoldo, a Comendador Antonio Alves. Seu nome foi definido nas modificações urbanas que a cidade experimentou em 1902, quando quis se emancipar de Matozinhos e tornar-se distrito. A urbanização teve à frente políticos locais como Ottoni Alves e Romero Carvalho e técnicos com conhecimento na área, como o médico Dr. Senra e os engenheiros da Central do Brasil Lucas Neiva, Lassance Cunha e Herbster – cujos nomes precedidos de “doutor” denominaram outras ruas de Pedro Leopoldo e também estão no livro de Letícia.

Antonio Alves, o fundador da fábrica de tecidos

A principal via do lugar recebeu o nome de seu mais importante pioneiro, o fundador da fábrica de Tecidos, Antônio Alves Ferreira da Silva. Nome este que perdurou até 1932, quando um diretor da Companhia Industrial, Antonio Barbosa Melo, acrescentou o “comendador” ao nome da rua, o que criou uma das maiores confusões de nossa história. O episódio é contado pelo médico Elysio Alves Gonçalves Ferreira, neto do fundador da fábrica, em seu livro “A verdadeira história da origem de Pedro Leopoldo”. O tal comendador era pai do diretor e sobrinho de Antônio Alves. Sua “comenda” nada mais era, segundo Dr. Elysio, que uma medalhinha que ganhou por suprir penicos para as necessidades fisiológicas do imperador D. Pedro II, quando sua majestade aqui esteve em visita, nos estertores da monarquia.

Letícia diz em seu livro  – no verbete sobre a rua principal – que o imperador não trouxe comitiva e nomeou alguns fazendeiros da região para compor sua equipe de auxiliares. O pai do diretor era um desses auxiliares – nomeado como quarteiro-mor – e foi condecorado com uma medalha comemorativa da visita real, que era pequena, do tamanho de um níquel de tostão, presa a uma fita verde-amarela. De volta a Pedro Leopoldo, passou a usá-la em todas as ocasiões sociais. “Isto é uma comenda e agora eu sou comendador”, dizia.

E acabou sendo também o nome da rua principal. Antonio Alves Ferreira da Silva Melo era filho de João Alves Ferreira da Silva e Maria Custodia, nascida Mello. Nasceu em 1853 e morreu em 1911. Era sobrinho do Antonio Alves, fundador da fábrica, onde arrumou um emprego em 1894, ou seja, antes mesmo da inauguração. Seu filho, e personagem principal deste imbroglio, era  Antonio Alves Barbosa Melo, o Comendador Antoniquinho, que, ao que parece, fez-se herdeiro da comenda do pai. Antoniquinho era grande amigo de Agenor Teixeira, dono do casarão do Campinho, atualmente em reformas. Os dois estão na foto que ilustra esta matéria, tirada em 1970, no aniversário de 100 anos de Agenor.

Agenor, à esquerda, cumprimenta Antoniquinho.

 

 

 

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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