Acabou a dúvida: a Heineken não virá para Pedro Leopoldo. Como adiantou o site AQUI PL em matéria do dia 23 de setembro, a empresa iria querer distância de qualquer querela relacionada a meio ambiente. Já naquela época, previmos que dificilmente a Heineken iria deixar sua marca ser associada a uma atividade poluente e predatória em tempos de crise climática. Enfim, os empresários tentaram, a prefeitura tentou, a população deixou claro que queria o empreendimento aqui. Mas não adiantou.
Este artigo não tem nada de isento. É o desabafo de uma cidadã chateada com os acontecimentos que levaram a este triste desfecho. Vamos ser assertivos: quem impediu a vinda da Heineken para cá foram pessoas e instituições que não são daqui, não moram aqui e, se conhecem o patrimônio arqueológico da região, há muito tempo não aparecem para divulgá-lo e mesmo protegê-lo. Ou alguém duvida que as reservas subterrâneas de água não estão sendo usadas pela mineração e pela agricultura? Alguém aí sabe quantos poços estão abertos na região, drenando nossos recursos hídricos?
Um exemplo claro é o do arqueólogo André Prous, membro da expedição Laming- Emperaire que, em 1975, descobriu o fóssil de Luzia na Lapa Vermelha. De lá pra cá, ele nunca mais entrou na caverna. Foram estas as suas palavras em recente matéria da revista Piauí: “… foi o grande último trabalho da minha orientadora, Annette Laming-Emperaire, que morreu no Brasil em 1977. Então, para mim, a Lapa Vermelha está associada à minha ex-orientadora de uma maneira muito forte, tanto que eu não quis continuar os trabalhos naquele sítio, porque o local estava reservado à memória dela”.
Mesmo assim, ele era contra a instalação da cervejaria no município. É o caso então de ver se o mesmo pessoal que se mobilizou com tanta competência contra a “Heineken aqui” tem agora alguma sugestão ou proposta socioeconômica para a nossa região. Vamos ver se mostram a mesma combatividade quando o assunto for criar alternativas de trabalho e renda para o nosso povo. Confesso que eu já sonhava com projetos de acessibilidade ao Parque do Sobrado, ciclovias, arborização, hortas comunitárias, educação ambiental, concursos culturais, museu de Luzia, enfim, tudo o que uma empresa grande, com outras e melhores práticas comunitárias, pudesse fazer para transformar (para melhor) este nosso mundinho….
A Heineken não veio e, diante de tanto desencontro entre as instâncias legais, dificilmente outra empresa de vulto vai querer vir para cá. Segundo o jornal Diário do Comércio, o diretor de Assuntos Corporativos do Grupo Heineken, Mauro Homem, explicou que apesar de legalmente poderem se instalar, já que as licenças estaduais foram obtidas, a instabilidade de interpretação jurídica entre órgãos estaduais e federais e a entrada de outras pastas na discussão fizeram com que o grupo repensasse a implantação.
E, finalmente, a pergunta que não quer calar e que a Heineken não respondeu nas matérias publicadas hoje nos jornais do país. Pra onde ela vai? Que cidade será essa onde a água é farta e não há problema em utilizá-la para fazer cerveja?