No contexto do aniversário de uma cidade a um ano de seu primeiro centenário, escrever sobre como ela é, e como nós gostaríamos que ela fosse, tende a suscitar uma de duas reações antagônicas naquele que foi convidado para tal redação. Uma das possibilidades é tecer uma verdadeira ode ao município, pondo em destaque suas maravilhosas peculiaridades históricas e geográficas, seus diferenciais econômicos, suas festividades e seus costumes singulares.
No outro extremo reside a atitude ranzinza de destacar uma economia eternamente estagnada, apontar hábitos supostamente retrógrados dos conterrâneos e espichar a cabeça por cima do
muro para contemplar a grama irremediavelmente mais verde de algum vizinho. Nenhuma das duas posturas faria justiça e seria integralmente pertinente aos leitores deste artigo. Em primeiro lugar, dirijo-me a pessoas que conhecem os pontos fortes e as carências de nossa cidade.
Se a seleção brasileira tem 210 milhões de treinadores, Pedro Leopoldo dispõe de sessenta mil prefeitos. Segundo e mais importante, nunca podemos deixar de ter em mente que uma cidade é
constituída por seus cidadãos. A infraestrutura, os empregos, os serviços e a governança pública de uma localidade advêm do próprio esforço dos munícipes e da interação entre eles, que em
conjunto produzem trabalho, cultura, entretenimento e política.
Sendo assim, o desejo mais poderoso para o progresso de Pedro Leopoldo nos próximos cem anos é o contínuo fortalecimento de sua sociedade civil. É preciso que cada um de nós se veja como um cidadão em condições de igualdade a qualquer outro, e se pergunte de que forma gostaria de se engajar para melhorar sua própria qualidade de vida e aquela dos demais habitantes, uma vez que a busca do bem comum é o único objetivo possível de qualquer desenvolvimento social e econômico.
Como demonstrou Robert Putnam por meio de estudos comparativos em seu clássico “Comunidade e Democracia”, regiões marcadas por intenso ativismo cívico e por uma postura política de
tratamento equânime entre os concidadãos, sem a famigerada carteirada ou a arrogância daqueles que se julgam mais poderosos, usufruem de maior prosperidade. E também atendem melhor às demandas de seus habitantes, dado que a deliberação horizontal e honesta entre indivíduos conscientes permite o triunfo da melhor ideia, do talento e da criatividade individual e coletiva, o que acaba por fomentar um ciclo virtuoso de crescimento, inovação e efervescência cultural.
Transformar Pedro Leopoldo, portanto, requer antes de tudo a transformação do pedro-leopoldense.