
Em 1923, a classe política de Pedro Leopoldo se movimentava como nunca em torno da emancipação do distrito. Até 1930, durante a República Velha, havia apenas um partido político no estado, o Partido Republicano Mineiro (PRM). Como seu congênere de São Paulo, ele representava os donos de terras e era ativo na política do café com leite, que revezava mineiros e paulistas na presidência do país. Só para se ter uma ideia de como o universo político, para o bem ou para o mal, se ampliou, 29 partidos estavam aptos a disputar as eleições municipais de 2024.
Os nomes dos primeiros políticos são familiares, afinal batizam ruas conhecidas da cidade: Romero Carvalho, Otoni Alves, Amando Belisário. Assim como os dos primeiros médicos, filhos de famílias poderosas da cidade: os
Alves e os Carvalho. Foram eles os doutores José de Azevedo Carvalho (Dr. Zezé) e Cristiano Otoni Gonçalves Ferreira. Junto ao Dr. Rivadávia Versiani Murta de Gusmão (também nome de rua no bairro São José), eles iniciaram em 1923 a campanha para a construção de um hospital, em terreno doado pelo pai de Dr. Cristiano, Otoni Alves.
1924, o ano da emancipação, começou com a realização da I Exposição Agropecuária do Ministério da Agricultura, no dia 6 de janeiro. O evento aconteceu na Fazenda Modelo, criada em 1919 como iniciativa federal de fomento à agropecuária e que tornou Pedro Leopoldo ao longo dos anos uma referência nacional de gestão e produção agropecuária. Seus prédios foram inspirados na arquitetura inglesa e boa parte destas instalações estão preservadas, inclusive a alameda de bambus que dá acesso à fazenda, hoje sob administração da Universidade Federal de Minas Gerais. Um ilustre cidadão pedro-leopoldense foi seu funcionário: Chico Xavier, que ali trabalhou até 1959, quando se transferiu para Uberaba.

Na exposição, foi feita a primeira foto oficial da Corporação Musical Cachoeira Grande, a banda mais antiga da cidade, que completou 112 anos em 2024. Fundada em 1912 por diretores e operários da fábrica de tecidos, seu primeiro maestro veio de Sabará: era Cândido Moreira, Seu Candu. Junto a José Nicolau da Silva Lopes – o primeiro presidente da Corporação – ele reuniu na época as pessoas que sabiam tocar algum instrumento, incluindo seus familiares. Numa casa cedida pela empresa, começaram os ensaios da banda.
Seu sucessor foi um diretor da fábrica, José Flaviano Machado, o Zeca Machado, que foi maestro da banda entre 1920 e 1942. Músico militante e entusiasmado, criou ainda a União Orquestra, formada exclusivamente para a festa de emancipação de Pedro Leopoldo, em 1924. “É possível perceber como, neste momento, a Fábrica (suas atividades e funcionários) era diretamente responsável pelo desenvolvimento econômico, social e agora cultural da cidade de Pedro Leopoldo”, observou em sua tese de Mestrado a musicista Carolina Malaquias, que, na banda, foi aluna, saxofonista, monitora, professora de teoria e maestrina.
Outro patrimônio cultural da cidade que surgiu naquela época – e também pelas mãos dos operários da fábrica – foi o Boi da Manta, bloco de carnaval que saiu pela primeira vez em 1919. Está completando 105 anos em 2024, portanto. Quando foi criada, era uma festa pequena que ainda não ganhava as ruas com milhares de pessoas como hoje, mas já tinha as características que se mantiveram ao longo desses mais de cem anos, nos quais nunca deixou de divertir e encantar os pedro-leopoldenses. Como irá acontecer a partir desta segunda, dia do aniversário da cidade, quando ele começa a sair, nas quartas e sábados, até a sexta-feira de carnaval. (Do livro 100 anos de Pedro Leopoldo)