Mulher & Gestão: ousadia ou futuro?

Mulher & Gestão: ousadia ou futuro?

Kelly Teixeira, CEO do DVG Grupo

UM ARTIGO DE GEORGINA VIEIRA *

No dia da mulher é preciso que nos detenhamos um pouco mais sobre mudanças significativas no seu papel junto às empresas. E espero que este ensaio abranja todas as mulheres pois as conquistas de então se referem a todas as mulheres e não somente àquelas que estão no ambiente corporativo.

É que, nas lidas do dia a dia, a mulher foi incorporando à sua identidade e características a capacidade de fazer várias coisas simultaneamente, a olhar o conjunto e não o particular, a entender a necessidade diferenciada de cada membro da sua família, em qualquer papel que exerça.  Assim, cuida, supre, controla, prevê, organiza, planeja, administra conflitos e procura criar um bom clima ao seu redor.

São exatamente essas as características de um bom líder em qualquer empresa. Assumindo essas características, a mulher ainda acrescentou competências mais relacionadas ao ambiente de trabalho.  A grande escritora Heloneida Studart acreditava que precisamos descontruir os estereótipos de gênero e os preconceitos que cercam a mulher na sua carreira fora de casa.

Pois bem: é hora de entender que os tais “estereótipos” em relação ao nosso papel na sociedade são exatamente as qualidades que as novas gerações procuram em seus líderes. Dados recentes indicam que os gestores não estão sabendo lidar com uma geração que procura reconhecimento imediato, que quer ser vista como indivíduo e não como um crachá e evita os chamados “ambientes tóxicos”. E prefere ganhar menos a suportar velhas culturas organizacionais que discriminam gênero, raça, classe social e outros.

Ora, o que nos vem imediatamente à cabeça? A gestão feminina. Embora enxerguemos nas corporações empresariais, na política, nos governos e nos três poderes a hegemonia masculina, quem lida com recursos privados está começando a rever as “velhas opiniões formadas sobre tudo” de que falava o grande Raul Seixas. O outro olhar que a mulher traz para as empresas resulta em decisões mais humanas, inclusivas e inovadoras, sem querer também idealizar suas potencialidades e fazeres.

Hoje, no entanto, não é dia de abordar as questões de diferenças salariais, assédios, provocações. Hoje é dia de falar dos nossos valores e deixar para os homens a reflexão que lhes é requerida. Poderia citar inúmeras mulheres que hoje ocupam a primeira posição em empresas no Brasil, mas creio que os leitores não estão interessados em estatísticas.

Basta citar um estudo da gigante de consultoria MCkinsey, que aponta para uma rentabilidade maior das empresas dirigidas por mulheres, em comparação com empresas similares dirigidas por homens e ainda, são também mais bem avaliadas pelos funcionários, segundo a FIA, Business Scholl.

Então deixando os dados e me valendo de novos conhecimentos do contexto empresarial da nossa cidade, em busca de patrocínio para um livro de cultura[1], os organizadores se depararam com a CEO da DVG, Kelly Maria Teixeira que, a exemplo de todos que visitamos (e agradecemos) largou seus múltiplos compromissos para nos receber e vi nela uma representante mais do que legítima do que falamos acima.

Kelly está há 23 anos no meio industrial em nossa cidade e há 2 anos à frente do DVG Grupo, que emprega 840 colaboradores, dos quais 30% são mulheres.  Ela é graduada em Administração pela nossa querida Faculdade de Pedro Leopoldo e pós-graduada em Logística e Transporte pela UFMG, com MBA em Gestão de Negócios pela PUCMinas e outras especializações relevantes.

O DVG Grupo engloba a DVG Precon, DVG Tubozan, DVG Sical, DVG Detalli e DVG Decoralita e declara como seus valores: lucro e reinvestimento, ética e transparência, ousadia com responsabilidade e valorização humana. E coloca para gerir esses valores uma mulher, evidenciando assim uma crença que tanto o lucro quanto as relações humanas são igualmente importantes. E como nenhuma empresa é um espaço de filantropia, certamente a escolha se deu por razões empresariais. Seria parte da ousadia responsável? Ou uma antecipação do futuro?

Kelly é casada, mãe de dois filhos, se orgulha ao falar da opção por contratar preferencialmente pessoas de PL e regiões vizinhas, acreditando que é preciso devolver à cidade o que dela recebe. Uma frase marca a sua gestão: “Não existe conto de fadas, mas vale a pena”. Até a frase escolhida fala da identidade feminina.

Não temos contos de fadas, mas quem os conta, somos nós mulheres. E assim, eventuais leitores, espero que entendam que não se trata de uma elegia à Kelly que acabei de conhecer, mas trazer à tona uma experiência da nossa aldeia e, por meio dela, nos inspirar sobre tudo que, nós, mulheres, podemos, sem abrir mão do que nos diferencia dos homens.

Nota: acostumados que estamos a aceitar as nomenclaturas americanas, as usamos com naturalidade indevida. CEO é a sigla para indicar “Chief Executive Officer” (ou, Presidente / Diretor Executivo de uma empresa).

[1] Arte e Cultura em Pedro Leopoldo: centenário, saberes e encantamentos. Organização de Georgina Alves Vieira, Ivan Domingues e Eduardo de Assis Teixeira

Georgina Vieira da Silva

Psicóloga pela PUC-MInas, Mestre e Doutora em Psicologia Social pela USP

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