No final do século XIX, a localidade então chamada Cachoeira Grande, ou Cachoeira das Três Moças, encontra a vocação econômica com a qual atravessaria boa parte do século seguinte – suas origens estão ligadas à instalação de uma tecelagem e, ao mesmo tempo, da estrada de ferro para transportar sua produção. Ao redor de sua primeira indústria, a Fábrica de Tecidos Cachoeira Grande, nasceria e cresceria a cidade de Pedro Leopoldo. E na fábrica foi tecida a trama cultural e emocional de uma cidade que acordava, comia e dormia obedecendo ao apito que marcava seus turnos de trabalho.
O empreendimento idealizado por Antônio Alves Ferreira da Silva aproveitou a força motriz da Cachoeira Grande, que dava o nome à localidade, para mover suas máquinas. A fábrica abriu suas portas em 1895 e, no mesmo ano, foi inaugurada a estação de trem, primeiramente conhecida como Parada da Cachoeira e que recebeu o nome do engenheiro Pedro Leopoldo da Silveira, responsável pelo prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil para o norte de Minas. Ele morrera um ano antes, em Sabará, sem conhecer a vila à qual acabaria por dar seu nome
No processo de implantação da fábrica, chegaram à localidade trabalhadores de toda a região que, a partir de 1895, povoaram um núcleo cada vez mais próspero – em 1901, a maior parte da população de cerca de 1.000 pessoas era de pessoal da fábrica e da ferrovia. Foi neste ano, no dia 17 de julho, que os chefes políticos locais – Romero Carvalho (guarda-livros da fábrica e sócio do armazém Alves e Carvalho), Otoni Alves Ferreira (gerente da companhia e filho do fundador Antonio Alves), os comerciantes Amando Belisário Filho e José Belisário Viana – este último também fazendeiro. – conseguiram a elevação da vila a distrito de Santa Luzia.
Para que isto acontecesse, o lugar tinha que ter capela, escola e cemitério. Otoni Alves mandou então construir uma capela, concluída em 1903. Em terreno doado por ele foi construído o grupo escolar São José, instalado em março de 1909. Ele doou ainda uma área para o cemitério e, mais tarde, para o hospital São João Batista, iniciativa dos médicos Christiano Otoni, seu filho e Zezé Carvalho.
A Estação Ferroviária era o ponto onde a localidade fervilhava. Não era para menos: ali se chegava e ali se partia de Pedro Leopoldo. Ali aportava a matéria prima e dali seguia a produção da tecelagem. Também ali parava o bondinho da Fábrica de Tecidos, levando e trazendo funcionários e, naturalmente, tecidos. Assim como eu, muitos pedro-leopoldenses escreveram sobre estes primeiros tempos de Pedro Leopoldo, esta cidade-bebê que ganhava forças através das pessoas que chegaram para tomar conta dela. Conheça alguns desses escritos:
“Muita gente foi aparecendo no lugar e o povoado foi se formando com ruas descalças, vendinhas de uma porta só, cheirando a rapadura e querosene, pequenas casas com telhado de duas águas, uma capela, cercas de pau-a-pique ou de bambu enfeitadas de melão-de-são-caetano. Em seguida, e aos poucos, foram aparecendo os comerciantes árabes”. (José Issa Filho, em “Memória Histórica de Pedro Leopoldo”).
“A cidade pulsava por todos os cantos, inclusive na agropecuária iniciada por Fernão Dias e que estava mais forte e estruturada, gente para todo lado e o trem chegando, para trazer pessoas e levar os tecidos que as pessoas faziam. O governador federal mandara fundar em 1919 a Fazenda Modelo, a cidade era puro emprego. Gente boa e empreendedora, parecia um formigueiro ao fim do dia com moças e rapazes saindo da grande fábrica em direção aos novos bairros que surgiam e passando pelo grande comércio do centro, vários pequenos sotaques da roça por todos os cantos, uma Torre de Babel caipira…. ouve-se o apito da fábrica, que tocava às 17 horas. Era o relógio da cidade, a trombeta do progresso”. (Matheus Utsch, em texto para o jornal AQUI PL, novembro de 2018).