As cooperativas e entidades próximas dos ruralistas de Pedro Leopoldo – Capepe, Sicoob e Sindicato Rural – sempre promoveram debates com os candidatos à prefeitura da cidade. A pandemia interrompeu esta rotina cidadã, que foi restabelecida na atual campanha eleitoral. Desta maneira, Márcio Rogério (PT), Emiliano Braga (PP) e Angelo Tadeu (MDB) foram chamados a discutir, em dias diferentes, uma pauta relacionada ao meio rural com representantes do setor.

A primeira reunião foi com Márcio Rogério, que veio com seu vice Roberto Leles (PV) ao Parque de Exposições na quinta-feira, 05/9. Emiliano e o vice Leozão (PSD) se reuniram com o pessoal do agro no mesmo local, na quarta, 11/9. O candidato Ângelo Tadeu (MDB), que tem como vice Marião (Cidadania), não compareceu ao evento por falta de agenda, segundo informou sua assessoria à Capepe.

O presidente do Sicoob Credipel, João Paulo Martins, ressaltou a importância do debate para o exercício da cidadania. “Este é um bate-papo entre os candidatos à prefeitura e a população, no caso o meio rural, setor que agrega muito à cidade e ao país”, disse. Para ele, tais encontros engrandecem o processo eleitoral.

Pelo Sindicato Rural, Marcelo Pereira (de Gurita) disse que o objetivo do evento é debater os problemas do meio rural e encontrar soluções. Ele destacou a presença dos profissionais do IMA e da Emater, que, segundo ele, “são estruturas essenciais para a atividade rural e para a cidade”. Salientou que Pedro Leopoldo tem cerca de 400 propriedades rurais, a maior parte com menos de 40 hectares. “São pequenos produtores que precisam do suporte da prefeitura”.

Rodrigo Andrade, presidente da Capepe, ressaltou a importância dos encontros para os produtores rurais do município. “Esta é uma oportunidade dos candidatos mostrarem suas propostas de governo, principalmente para o meio rural, que está muito carente de uma política municipal que proporcione melhores condições para produzir e comercializar a produção”.

A pauta proposta nos debates incluiu várias preocupações dos produtores, tais como as condições das estradas, linhas de ônibus, postos de saúde, animais na pista, a possibilidade de uma Secretaria de Agricultura, o excesso de quebra-molas, animais de rua, além da renovação de convênios com o IMA, Emater, prefeitura e IEF e o retorno do projeto das barraginhas.

No caso do convênio com a prefeitura, o sindicato toma conta do parque e, em contrapartida ao convênio, a prefeitura pode usá-lo para qualquer tipo de evento. Este convênio poderia se ampliar e envolver, além da prefeitura, também outras instâncias como o legislativo e o governo estaduais, disse João Paulo. Ele citou o exemplo da cidade mineira de Bom Jesus do Amparo, que tem em seu parque o “salão do agro”, um local de encontro não só dos agricultores, mas também de suas famílias e a comunidade para festas, feiras, formaturas, treinamentos.

Em outubro, disse Marcelo de Gurita, o Parque de Exposições vai completar 60 anos, com uma história que marcou a cidade nas famosas exposições que reuniam toda a comunidade. Disse ainda que o Sindicato está na justiça contra a União e que a prefeitura transformou o Parque em área de lazer.

Márcio Rogério defende uma gestão municipal mais profissionalizada

O engenheiro civil Márcio Rogério iniciou sua fala apontando os eixos principais de seu programa de governo: redução das desigualdades sociais, respeito à diversidade e desenvolvimento sustentável, que respeite o meio ambiente e assegure que as próximas gerações herdem uma cidade saudável e próspera.

“Nosso objetivo é restabelecer o desenvolvimento econômico de Pedro Leopoldo para que a cidade volte a ser próspera, e o agronegócio faz parte disso. A atividade rural é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do nosso município. O pequeno produtor, em especial, precisa do apoio da prefeitura, para aperfeiçoar suas atividades e gerar mais renda”, afirmou o candidato, se comprometendo a manter o convênio com o IMA e a Emater. “Queremos desenvolver todos os setores da economia de PL, agregando tecnologia e gestão. Isso se faz através de parcerias, já que o município não caminha sozinho”.

Para Márcio, a gestão municipal tem que ser mais focada e profissional para trazer reais melhorias para a cidade e a população. “Uma gestão profissionalizada precisa de convênios que forneçam a base técnica para o pequeno agricultor produzir mais e ter acesso aos recursos do governo federal”, apontou.

Pela lei, 30% da merenda escolar devem ser adquiridos da agricultura familiar, mas essa porcentagem, segundo ele, pode ser bem maior. “Os produtores têm que estar organizados em associações. Temos que incluí-los no processo”, defendeu o candidato.

Ele lembrou que, quando esteve na prefeitura como secretário de planejamento urbano, viu que os recursos existem, mas é preciso criar uma área de projetos para acessá-los. “O presidente da república é do meu partido. O PT é o partido que governa o país, o que é uma vantagem para Pedro Leopoldo, pois nos articula diretamente com o governo federal. Quando estivermos na prefeitura, Pedro Leopoldo terá acesso a importantes programas como apoio de vários deputados que estão ao nosso lado nesta campanha”.

As condições das estradas e as consequentes dificuldades no escoamento da produção foram alguns dos assuntos trazidos pelos produtores presentes. Márcio Rogério observou que, em suas andanças pelo município, tem visto como as áreas periféricas estão abandonadas “Não é Tadeu, Emiliano ou eu que têm que ganhar. Quem tem que ganhar é a cidade. E, para isso, a gestão municipal tem que ter meta, planejamento e foco”, afirmou Márcio.

Ele disse ainda que o transporte público tem que ser repensado. “Nós vamos, gradativamente, implantar a tarifa zero no transporte público, pois é matematicamente possível. Nossa proposta é reduzir a desigualdade social e isso começa por todo mundo tendo direito a se deslocar para estudar com qualidade”.

Outro interesse das entidades rurais é a continuidade do projeto das barraginhas, que está parado há oito anos. Até a primeira administração Eloisa, foram construídas 600 barragens, mas, a partir de Marião, não se fez mais nenhuma.

Roberto Leles destacou que as barraginhas cumprem várias funções e têm um importante papel ambiental. “São um instrumento de combate ao fogo, reservatório de água para os animais, alimentam nascentes e mantém o lençol freático próximo da superfície. É uma obra de interesse público feita em propriedade privada”, elogiou.

Márcio acredita na viabilidade de um órgão específico para o setor agrícola, já que o foco é apoiar o pequeno empreendedor rural, o que inclui ações e iniciativas como um mercado municipal, feiras, assistência técnica , entre outras.

Outro assunto tratado foi o dos animais soltos nas vias. “É um absurdo. A prefeitura tem que ter um quadro de fiscais para coibir, afinal animais na pista são um grande risco para a população.  Aliás, tem que ter fiscal ambiental, de postura, sanitário. Prefeitura tem que zelar pelo serviço público. Prefeito está lá é para servir à população. Nossas leis não são ruins. Só não são aplicadas porque não há fiscalização”, disse Márcio.

Para ele, o convênio da prefeitura com o sindicato rural deve continuar, na medida em que o sindicato zela por um local privilegiado como o Parque e que pode abrigar eventos que contemplem toda a população. “Não se governa sem parcerias seja com ONGs, intuições públicas, de ensino, sempre investindo o dinheiro público com responsabilidade para promover qualidade de vida. Acreditem! É possível fazer uma administração honesta, séria, que mude panoramas e promova igualdade social e oportunidades, numa Pedro Leopoldo realmente nova”, finalizou Márcio.

Márcio agradeceu os organizadores pelo convite e parabenizou-os pela atitude e pela qualidade do evento, segundo ele muito enriquecedor.

“No nosso programa de governo, definimos ações consistentes para apoiar e fomentar a economia no setor rural, principalmente para os pequenos produtores. Foi muito bom percebermos que nosso programa está bem alinhado com as demandas apresentadas pelos representantes ali presentes, além de avaliar novas ações a serem implementadas junto ao setor”, concluiu.

Roberto Leles destacou a importância do setor que produz e alimenta os pedro-leopoldenses. “Para apoiá-lo, nosso propósito é investir na capacitação dos produtores rurais, na distribuição dos alimentos, melhorando as condições das estradas, e nas soluções para reter água em seus terrenos, para que eles tenham condições de produzir, mesmo em tempos de longas estiagens”, concluiu.

“A gente pode fazer mais no agronegócio”, diz Emiliano

O segundo encontro foi aberto por Leozão, candidato a vice-prefeito na chapa de Emiliano Braga. Ele falou do carro-chefe da candidatura, que é a saúde, em especial sobre a intenção de terminar a obra do hospital Francisco Gonçalves, com a instalação de bloco cirúrgico e CTI. Também destacou a importância das estradas vicinais:

“Em doze anos de vereança, acompanhei as agruras dos produtores com as estradas e também as picuinhas políticas que as mantém em más condições. O agronegócio alimenta o mundo e vocês merecem o nosso respeito e a nossa gratidão”, disse Leozão.

Em sua fala, o empresário Emiliano Braga traçou um quadro desanimador do município e suas perdas ao longo dos anos. “O orçamento de Pedro Leopoldo é de 280 milhões por ano. Lagoa Santa, que tem mais ou menos a mesma população, tem 450 milhões. Há doze anos, o orçamento das duas cidades era o mesmo. Pedro Leopoldo gerava três vezes mais impostos que Matozinhos. Hoje, a cidade vizinha arrecada 12% a mais. Temos que começar a olhar a solução”, afirmou.

O candidato fez uma rápida pincelada em seu programa de governo, antes de entrar na pauta do agro. Ele pretende iniciar as atividades de uma escola cívico-militar e outra cristã confessional, “sem impactar a laicidade do estado”, salientou. Quer ampliar o projeto Trilhas do Futuro no município, passando dos atuais 300 alunos atendidos para 1.200 por semestre.

Um choque administrativo prevê medidas a curto prazo, como a redução de 13 para seis ou sete secretarias. Com a redução de custos, ele acredita que poderá conceder um aumento real de 10% ao funcionalismo, além da inflação. “Para Pedro Leopoldo avançar, tem que arrecadar mais, com geração de emprego e renda”,

Emiliano se propõe a trabalhar as questões da agricultura em todos os setores, incluindo produção, beneficiamento, comércio e serviços. “A gente pode fazer mais no agronegócio”, decretou, revelando que, em 14.600 hectares de propriedades rurais, funcionam apenas 186 negócios.  Segundo o empresário, 6% da área total do município são utilizados para plantio e 12% para pastagem, ou seja, 18% são ocupados com atividades produtivas.

“Trata-se de um importante pilar da economia brasileira e, em Pedro Leopoldo não pode ser diferente, já que é um dos maiores geradores de emprego. Aliás, engana-se quem pensa que o agro se restringe à fazenda e à colheita”, constatou o candidato.

“Hoje, 105 milhões do orçamento são investidos em CNPJs de fora de Pedro Leopoldo. Muito desse recurso pode ser utilizado aqui, inclusive porque cada 1 real investido gera 3 reais na economia. Capacitando produtores e empresas, a prefeitura poderia investir cerca de 50 milhões no município”, acrescentou.

Emiliano finalizou sua explanação, respondendo às demais questões da pauta. “Não há porque limitar o fornecimento de merenda escolar em 30%.
Vamos desenvolver a agricultura familiar para ela produzir mais e fornecer 70, 80, até 90%. Vamos fazer isso de coração, colocando as pessoas em primeiro lugar”, afirmou.

Ele lembrou que a Emater MG é a maior empresa pública do setor no Brasil, presente em cerca de 800 municípios do Estado e atendendo aproximadamente 350 mil produtores rurais. E que todas as atividades exercidas pelo IMA visam à preservação do meio ambiente e da saúde pública.

“É fundamental promover o desenvolvimento sustentável, por meio de assistência técnica e extensão rural, assegurando a melhoria de qualidade de vida da sociedade no meio rural. Nossa proposta é potencializar a relação de parceria com estas entidades, através de celebração de convênios de interesse mútuo entre as partes”.

Citando que Quinta das Palmeiras tem dois horários semanais de ônibus – uma demanda de 1991 – o candidato disse que o município precisa de um novo plano de mobilidade, com novas licitações para as áreas urbanas e rurais.  E propõe um curral e um canil municipal para fazer frente ao problema dos animais nas vias públicas.

Quanto ao convênio da prefeitura com o Sindicato rural para utilização do Parque de Exposições, Emiliano acredita que é necessário analisar um formato mais produtivo. “Ambos têm que exigir mais um do outro”, observou.

Na reforma administrativa que propõe, o candidato pretende criar uma diretoria de agronegócio na Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Hoje, a divisão de Agricultura faz parte da Secretaria de Meio Ambiente, o que ele não considera adequado. Esta estrutura para o meio rural vai trabalhar em iniciativas como o Salão do Agro e feiras agropecuárias, incentivo ao turismo rural, ecoturismo e agroturismo; além de projetos como o das barraginhas.

No caso das estradas rurais, Emiliano pretende elaborar um diagnóstico atualizado da malha. O objetivo é implantar um programa básico de manutenção preventiva e corretiva das estradas, estabelecendo um cronograma anual de reformas e melhorias. O projeto, no entanto, pode ser mais ambicioso.

“A prefeitura até pode se endividar, mas este endividamento tem que gerar receita. Um distrito industrial cabe. Ou o asfaltamento de estradas que irão gerar emprego e renda”, apontou, revelando a intenção de procurar recursos da ordem de R$ 12 milhões que, segundo ele, “ bem utilizados podem pavimentar até 18 quilômetros de estradas”.