(Uma homenagem de Aloisio Vilaça* a Seu Nonô)
Do tanto quanto recebi da vida, do muito que a mim me reservou a sorte, há, entre tantos, um bem maior: a honra de ser filho de meu pai.
Seu Geraldo, de nascimento, Seu Nonô, para os amigos, meu pai é um ser iluminado, daqueles poucos que vieram ao mundo para comemorar a vida, agradecer a Deus e se doar aos outros. Uma raridade de pessoa, um ser humano cheio de humanidade; meu exemplo!
Seu Geraldo construiu a vida com a força dos próprios braços e com o suor do próprio corpo, sempre com um sorriso no rosto e uma palavra de gratidão nos lábios; meu guia!
Culto, apesar de simples; nobre, a despeito de pobre. Um negro de alma negra; um legitimo descendente de alguma linhagem de reis africanos. Um gentleman; meu farol!
Eternamente jovem, no auge de seus oitenta e quatro anos, Seu Geraldo é, ainda, um sonhador, um filósofo; meu modelo!
Dono de doçura quase feminina, meu pai dedicou toda sua vida à família, ao trabalho e àqueles com quem conviveu. Inteligente, sempre esteve ao lado da esposa, minha mãe, tal qual um súdito fiel e estrategicamente submisso, a tudo atento e de prontidão; meu mestre!
Nas horas difíceis, ele esteve por perto, a oferecer o ombro, para o conforto de cada um dos quatro filhos. Sempre disposto a ouvir, Seu Geraldo continua sendo um conselheiro, amigo e confidente; meu refúgio!
Quem tem a chance de estar com o Seu Geraldo sente a presença suave do Criador e as marcas sublimes das mãos de Deus. Indeléveis são as palavras que ele exprime baixinho, com simplicidade, carregadas de afeto e de luz.
Suas lições exalam o aroma das flores mais raras, só encontradas nos ocultos recônditos de virgens e inacessíveis recantos.
Maior que a honra de ser filho do Seu Geraldo, somente a dor de vê-lo, assim, exposto ao tempo, a caminhar a passo lento, observando, atento, as flores do quintal da minha existência, ouvindo, ao fundo, a melodia suave de uma vida feliz… da felicidade de haver podido tê-lo ao meu lado, por tamanho e tão escasso tempo.
Seres raros como Seu Geraldo haveriam de ser eternos, mas Deus, que tudo sabe e vê, sábio que é, optou pela raridade, ao privá-lo da eternidade.
*Aloísio Vilaça Constantino é advogado, educador, poeta, filósofo