O menor legado que a minha mãe me deixou foi, sem dúvida, o seu próprio nome. Talvez quisesse ela uma filha que, de certa maneira, também herdasse suas inumeráveis qualidades. Tarefa impossível. Para minha mãe, não existiam obstáculos. Enfrentava-os todos com a tenacidade que lhe era tão peculiar. Alguém podia vê-la brava, mas nunca de mau humor.
Tratava cada filho como se fosse filho único. O frango com e sem quiabo, para satisfazer os diferentes gostos. O molho com e sem cebola. A empada e o quibe, com e sem pimenta. Sua culinária era imbatível. Claro, todos os filhos, por memória afetiva, acham que comida de mãe é sempre a melhor. Mas … muitas pessoas atestam o seu bom tempero, quando os casamentos eram comemorados na própria casa da noiva e as amigas eram o “buffet”.
Abraçou a família do marido e as suas tradições, embora o meu pai jamais tivesse se acostumado com a comida árabe que os filhos adoravam. Costurava, fazia crochê, tricô e, nas festas de São Sebastião do Urubu, assumia o almoço para 400 pessoas. Como se fossem 10. Suas sobrinhas pediam e ela ajudava em seus enxovais. À época, tudo era feito “à mão”. Para cada filho, uma colcha de crochê.
Valorizava os professores e incentivava os filhos a seguirem em frente. Nunca faltou a um casamento ou a um velório da família e de amigos. Estava ali, na alegria e na tristeza, para todos. Suas empregadas tornaram -se comadres e amigas de vida inteira. Ninguém nunca ouviu qualquer palavra que desabonasse seus genros e noras. Razão pela qual era querida por todos. Com o espaço que tenho, não conseguiria elencar tudo.
A saudade que ainda sinto dela, uma olhadela diária nas fotos do celular dizem que os três anos da sua morte pouco fizeram para suprir a sua falta.