Texto de Carmen Costa*
Mãe,
Quando seu corpo era gerado no seio de sua mãe ,você já trazia dentro de si todo um estoque de possibilidades para gerar filhos.
Ao longo da vida, seu corpo frutificou por 15 vezes trazendo a Luz 13 crianças, 7 homens e 6 mulheres. Você os pariu, criou, educou e orientou com profunda dedicação, imenso trabalho e constante amor, atenta às necessidades e maneiras de ser de cada um dos filhos. Embora compartilhassem de valores comuns , havia espaço e liberdades para os filhos fazerem suas próprias escolhas. Nossa mãe gostava de dizer que não criava filhos em fôrma.
Ela havia ficado órfã aos 5 anos, teve a sorte de ser cuidada também pela avó paterna, o que lhe adoçava um pouco a saudade desta perda. Aos 12/ 13 anos, foi estudar no Colégio interno e se formou professora, assim como sua avó. É do tempo no colégio, bem jovenzinha, que ela escreveu um texto maravilhoso sobre o que é ser mãe, discorrendo sobre o papel e a função em cada fase da vida do filho. Ela construiu uma detalhada referência de como ser mãe partindo de sua sensibilidade e talvez imaginando sua relação com a mãe com quem não pode conviver.
Casou-se aos 19 anos e não pode mais lecionar. Mas nunca deixou de ensinar e aprender com os filhos e as muitas outras pessoas que com ela conviveram. Deixou o sonho de educação como legado para as 6 filhas – formadas em diferentes profissões, todas se tornaram professoras.
Seu nome era Eny ou Eni, nunca soube ao certo. Tenho documentos assinados por ela com as duas grafias.
c, numa relação única e própria.
Quando ela nasceu e era um bebê ainda, os diminutos ovócitos que um dia dariam origem a minha vida já estavam em seu corpo, aguardando seu futuro amadurecimento, e minha fecundação. Nossa relação começou, fisicamente, muito antes do meu nascimento. Sou a sétima filha, a do meio, posição muitas vezes complicada, não pertencia ao grupo dos maiores e nem dos menores.
Amei-a muito , briguei e dei trabalho, recitei seus versos e lhe dei alegrias. Pouco antes dela partir, já bem fragilizada com 92 anos, ela se despediu de mim quando eu passava pela cama em que ela estava. Olhou nos meus olhos e disse: minha filha. Com o coração apertado eu lhe disse: minha MÃE.
Ela se foi, mas continua em mim terna e eternamente. Feliz dia das mães, querida.
*Carmen Costa é professora universitária