Um texto de Sérgio Bogado*
No ano passado, por ocasião do Dia dos Pais, fui intimado pela Bianca Alves a escrever algo sobre a paternidade. Relendo aquele texto, vi que ele se aplica também à maternidade dos nossos dias, em que os pais se tornam cada vez mais parceiros de suas companheiras no cuidado com os filhos.
Por esta razão, afirmo novamente que, se os pais de hoje mudaram, é porque as mães de hoje mudaram. Ter filhos não é mais a suprema realização das mulheres, hoje mais afeitas a buscar realização profissional e conquistas no plano pessoal.
Com isso, estão adiando a maternidade para mais tarde. Na verdade, estão adiando o próprio casamento, o que tem acontecido aqui e no mundo inteiro. Assim, em função dos compromissos profissionais, é cada vez mais comum que tenham o primeiro filho aos 35-40 anos e elas se planejam para isso.
Com essa mudança do perfil das gestantes, muda também o dos pais, que têm que ficar mais juntos das mulheres. Como médico obstetra, vejo que hoje é mais comum que eles venham às consultas, que acompanhem o pré-natal, o que não acontecia até algum tempo atrás. Eles são – e devem ser – mais solidários e ajudar no cuidado com os filhos, principalmente nos primeiros meses.
Mesmo assim, mãe é mãe e pai é pai. Por mais que o pai ajude, nunca vai superar a figura materna junto ao filho nos primeiros momentos. É nesse aspecto que o apoio do companheiro se torna ainda mais importante, inclusive para liberar a mãe de tarefas que a distanciam do bebê nesses mágicos contatos iniciais.
Mas há um outro lado em nossa sociedade, no qual infelizmente o pai participativo, cada vez mais comum na classe média, se torna uma quimera e quase nunca aparece.
Vejo muitas mães solteiras de filhos de pais ausentes – aqueles que não aparecem a não ser na hora em que a justiça cobra deles a assistência devida. Numa sociedade segmentada e desigual como a nossa, as coisas funcionam de maneira diferente em contextos diferentes. E é a essas mães, desassistidas e sobrecarregadas, que o poder público tem que lançar seus melhores e mais eficientes olhares.
Um provérbio africano diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Ou seja, somos todos responsáveis por essas crianças. Elas merecem uma melhor educação, assistência à saúde e toda espécie de incentivo para crescerem como pessoas e, em especial, como cidadãos. Só assim teremos uma sociedade melhor para todos.
Às mães de Pedro Leopoldo, toda a minha admiração por sua força e coragem, mesmo nas situações mais adversas. Elas merecem ser valorizadas em todos os dias do ano.
*Sérgio Bogado é médico ginecologista e obstetra