Gente daqui: Renato Hilário dos Reis

Gente daqui: Renato Hilário dos Reis

Renato Hilário, com a companheira Christina

Texto de Mário Lúcio Quintão*

Está viva, em minha memória, uma demonstração de fé e paciência de Renato Hilário. Em 1966, numa sexta-feira santa, estávamos Zé de Ló, Renato e eu, com olhar curioso de meus 13 anos, jantando no restaurante do Itamar. Zé, caixa do banco em que meu pai era gerente, se apresentava como uma figura irreverente e divertida.
Renato, magro e alto, gostava muito do Zé e tentava convertê-lo para os procedimentos e ensinamentos bíblicos.

O Zé, baixinho e debochado, entretanto, escorregava como quiabo e deixava o Renato em situações inusitadas. Nesta noite, o Zé, em atitude provocativa, pediu ao garçom um filé bem passado.
Tradicionalmente, na sexta feira da paixão, o católico pratica a abstinência ou jejum, em especial de carne vermelha. Renato, noite adentro, de forma paciente, em vez de passar um sermão no Zé, relatou o significado do jejum, como sacrifício a ser praticado, simbolicamente, por cada católico, para se ter a misericórdia de Deus. Saímos do jantar, abraçados, e mais tementes a Deus.

Renato Hilário dos Reis, pedro-leopoldense da gema, filho de Zé Hilário e Mercedes, tornou-se professor da Universidade de Brasília (UNB), sem perder suas raízes. Formado em Filosofia pela UFMG, fez o mestrado em Educação pela UNB e o doutorado pela Universidade Estadual de Campinas. Aposentou-se como professor associado III da UNB.

Participou da resistência democrática à ditadura militar, inclusive com atuação sindical como bancário.  Preparou gerações de estudantes, durante o regime de exceção, recorrendo à maiêutica socrática, ou seja, à compreensão dialética da realidade social e a busca da verdade através de perguntas. Coordenou o campus de Araçuai da UFMG, em pleno Jequitinhonha, do Projeto Rondon. Ali teve atuação estratégica, que sempre visou à conscientização política das pessoas, pautada na paciência e na fé.

Como tal, conscientizou e marcou para sempre um sem número de estudantes, como o famoso jornalista Chico Pinheiro, que se rasgou em elogios em recente entrevista ao podcast Inteligência Ltda. No programa, Chico disse que Renato foi um dos caras mais geniais que ele conheceu. “Foi a maior experiência que fiz para ser jornalista”, reconheceu.

Não é para menos: Renato possui notória experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Popular de Crianças, Jovens, Adultos e Idosos, atuando principalmente nos eixos de educação/alfabetização de jovens e adultos, constituição do sujeito de amor, poder e saber, educação popular e relações sociais na perspectiva histórico-cultural.

Em sua obra, o Professor Renato Hilário dos Reis compreende a educação e alfabetização de jovens, adultos e idosos, como processo de constituição de sujeitos amorosos (que aprendem a acolher e serem acolhidos); constituição de sujeitos políticos (que conquistam e exercem poder, como superação de toda e qualquer forma de exclusão) e constituição de sujeitos epistemológicos (que elaboram e produzem conhecimento, construindo uma sociedade igual, justa e solidária).

Radicado em Brasília, Renato sempre retorna a Pedro Leopoldo, onde gosta de uma boa prosa e de rever amigos. Sempre calçou as sandálias da humildade. Soube fazer de suas utopias o campo fértil para a disseminação do saber. Sua obra possui repercussão internacional. E, mesmo assim, preserva a paciência de um bom cristão e  uma fé inabalável em Deus.

*Mário Lúcio Quintão é advogado e professor universitário

Redação

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