Lembro-me de alguém com visão liberal argumentando que a coleta seletiva da Ascapel, a associação dos catadores de recicláveis em Pedro Leopoldo, seria viável. Para esta pessoa, por ser uma associação independente, ela seria capaz de gerar receita própria e distribuir rendimentos entre os associados.
No entanto, a realidade mostrou-se diferente. Sem o suporte do poder público para garantir salários e seguridade social aos trabalhadores da coleta de recicláveis, vemos que ter sucesso sem capital inicial é difícil, e o sonho de empreender pode ser um pesadelo para quem não tem dinheiro. Além disso, é preciso conscientizar a população sobre a importância da separação adequada dos resíduos, o que dificulta ainda mais o processo de tratamento e aumenta o trabalho de quem vive da reciclagem, já que o povo não ajuda.
Mas é importante mostrar o quanto já evoluímos nesse cenário da reciclagem. Hoje, é comum que os moradores separem o material para a reciclagem, num aprendizado que nos orgulha. Nas grandes corporações, isto também acontece. A indústria de embalagens, especialmente a de papelão, tem atualmente a maior parte de sua produção derivada desse processo. Isso representa um avanço importante em termos de sustentabilidade, pois reduz a exploração de recursos naturais para fabricar novos produtos.
Durante a pandemia, a indústria de embalagens sofreu com a falta de matéria-prima devido à escassez de catadores. Com as pessoas em casa e o comércio fechado, houve uma redução na quantidade de papelão disponível nas ruas para ser coletado. Sem os catadores, as ruas e, principalmente, os rios sofrem com o acúmulo de material reciclável jogado indiscriminadamente. Em minha casa, localizada às margens do ribeirão da Mata, vemos os prejuízos causados por essa situação. Quando não são as pessoas que descartam lixo diretamente no rio, as chuvas, como as que tivemos no início do ano, acabam levando os resíduos até ele.
Portanto, temos que concordar sobre a importância do investimento público para garantir a sobrevivência dessa classe trabalhadora que faz tão bem ao meio ambiente. É essencial proporcionar segurança social aos catadores. Eles trabalham arduamente, ganham pouco e não possuem garantias sociais básicas, como contribuição para o INSS e FGTS. Sendo assim, é necessário que o Estado não apenas forneça apoio financeiro às associações de catadores, mas também implemente políticas que garantam proteção social a esses trabalhadores tão importantes para o meio ambiente e para a comunidade em geral.
A prefeitura de Pedro Leopoldo precisa reconhecer a importância desse serviço essencial prestado pela Ascapel e garantir salários dignos para seus trabalhadores, especialmente considerando que a separação e venda de resíduos contribuem para a diminuição dos custos municipais com o aterro sanitário, já que a prefeitura paga por quilo de resíduo levado de Pedro Leopoldo a Sabará.
Para auxiliar ainda mais o trabalho desses agentes ambientais importantíssimos, é crucial que a prefeitura promova campanhas publicitárias educativas, informando a população sobre rotas e dias de coleta, além de reafirmar a necessidade e os benefícios de separar adequadamente os resíduos, especialmente à luz dos desafios climáticos que enfrentamos.