Do Burnout para o mundo: escolhendo a mim mesmo

Do Burnout para o mundo: escolhendo a mim mesmo

Por Eduardo Ferreira

Quando me formei como Analista de Sistemas pela Universidade Newton Paiva há 20 anos, nunca imaginei que meu destino fosse estar traçado nos EUA. Logo depois da formatura, me empenhei em buscar uma pós-graduação para dar continuidade aos estudos e não cair no comodismo. Nessa busca pela especialização, me deparei com uma propaganda da mesma universidade, promovendo um intercâmbio cultural nos EUA.

Apesar de nunca ter flertado com a ideia de emigrar, achei que seria uma ótima oportunidade para aprimorar meu inglês e sair um pouco da rotina. Em menos de um ano, saí de Pedro Leopoldo para embarcar nessa nova aventura. O intercâmbio durou 15 meses e foi uma experiência única de muito aprendizado e autoconhecimento.

Apenas seis meses após meu retorno, embarquei novamente em um segundo intercâmbio, que definitivamente mudou minha vida. Depois de algum tempo dentro do programa, a empresa de intercâmbios me ofereceu a oportunidade de trabalhar como seu coordenador na Flórida e, logo em seguida, o hotel Hyatt Regency Orlando (antigo Peabody Orlando) me apadrinhou com uma oferta de trabalho fixo. Incerto do que fazer, acabei aceitando a proposta.

Foi então que dei início à busca de algo que, naquela época, eu acreditava ser felicidade. Na verdade, eu meio que caí de paraquedas na carreira de hospitalidade. O hotel era um dos maiores da América do Norte, com quase 2 mil quartos.

Trabalhei como Supervisor do Serviço de Entrega nos Quartos (Room Service) por três anos, antes de ser promovido a Assistente de Gerência em um dos muitos restaurantes do hotel. Nessa posição, trabalhei por cinco anos antes de ser mais uma vez promovido, desta vez a Gerente Responsável pelo Departamento de Comidas e Bebidas, que gerenciava 5 restaurantes, 2 lojas, 1 café, espaço de eventos e um grupo de quase 100 funcionários.

Eu estava no caminho certo para chegar ao topo, ou pelo menos assim pensava. Mas o comprometimento constante, intermináveis jornadas de trabalho e a impossibilidade de folgas ou férias resultaram em um burnout massivo, que me levou à decisão de abandonar o barco. Seria possível ter uma carreira, sem sacrificar o bem-estar?

Retrocedendo cinco anos dessa decisão radical, eu tive uma epifania. Todos nós, gerentes, fazíamos um treinamento intensivo no novo sistema operacional que seria usado no nosso departamento. Me lembro como se fosse hoje, de estar sentado na sala de conferência observando o profissional de TI executando seu trabalho e pensando comigo mesmo… um dia eu serei esse profissional. Afinal, eu tinha qualificação para tal…

Antes de qualquer coisa, porém, eu tive que tratar o burnout, mas já com a certeza de que, quando regressasse ao mercado de trabalho, seria como um profissional de TI. Quase um ano depois, surgiu uma oportunidade na gigante Oracle (dona do Tik Tok) e, oito entrevistas depois, me tornei o mais novo Analista de Sistemas da empresa.

Fui devidamente treinado e me tornei colega de trabalho daquele mesmo profissional de TI que tinha me inspirado cinco anos antes. Hoje, meu trabalho é 100% viajando, o que me proporciona a incrível oportunidade de explorar toda a América do Norte e Canadá (e brevemente o mundo), me hospedar em grandes hotéis e resorts, comer nos melhores restaurantes, conhecer pessoas famosas de todos os setores e muito mais.

Recentemente fui promovido a Analista-chefe de um projeto mundial com a famosa rede Hard Rock Hotels, Cassinos e Café. De um grupo de 40 analistas competentes, eu e um parceiro fomos selecionados para coordenar o processo, que inicialmente se estenderá até abril. Nessa primeira fase, já estão confirmados os Hard Rock de Key West, Flórida, Cataratas do Niagara, Honolulu, Hawai, Nova Iorque, entre outros. A segunda fase ira abranger a Europa e América Latina.

Ou seja, continuo trabalhando com hotéis, mas naquilo que gosto e sei fazer. Neste tempo todo nos EUA, valorizo muito as minhas conquistas, em especial a de não ter sacrificado meu bem-estar por trabalho. Trabalho e dinheiro vêm e vão, mas é impossível recuperar o tempo perdido. Escutar o seu instinto e cuidar de si é a melhor receita para ser feliz.

* Eduardo Ferreira é pedro-leopoldense e mora nos Estados Unidos há vinte anos

Redação

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