Sabadão, vou comprar meu queijo semanal no Ponto do Queijo, do meu amigo Rogério, no Mercado Central de BH, e petiscar um fígado ajilozado no Bar do Mané Doido, quando cruzo com uma fila de turistas mais brancos que bunda de sueco seguindo um guia, de bandeirinha e tudo. O Mercado Central de BH vale mesmo uma visita. Um dos pontos turísticos mais peculiares e pitorescos da capital mineira, a diversidade, qualidade e originalidade dos seus produtos atrai pessoas de todos os lugares do Brasil e do mundo. Ao longo dos seus corredores, rigorosamente limpos, o Mercado oferece uma experiência variada, rica e diferenciada, mostrando o que Minas tem de melhor, inclusive (e principalmente) o mineiro e a mineira.
Mas, olhando aquela turma de gringos curiosos e sorridentes, fiquei pensando e lembrando… Como quase todo mundo, adoro viajar. É meu luxo. Já cortei o Brasil da Amazônia aos Pampas, do litoral nordestino ao Pantanal, das praias cariocas às águas quentes de Goiás, sempre que possível, de carro, o que facilita o acesso a paisagens geográficas e humanas alternativas, surpreendentes e inusitadas. Fui além fronteiras, me joguei no mundo. Saindo de BH, de carro, desci pelos caminhos do sul do continente, entrei Argentina adentro, até Buenos Aires. Depois, subi pela Ruta 14, até Posadas, onde entrei novamente no Brasil pelas Cataratas do Iguaçu. Trinta dias numa aventura inesquecível.
Em outras e muitas viagens conheci Uruguai, Paraguai, Chile, Peru e, seguindo o conselho de alguns bolsonaristas, Venezuela e Cuba. Entrei pelo México (legalmente) e invadi os Estados Unidos. Cruzei a Europa, de Portugal até o Líbano, no Oriente Médio, do outro lado do planeta. Nas minhas viagens, tanto quanto pude, fazíamos o roteiro por nossa conta, para além do circuito turístico tradicional. Ver cenários pelas janelas panorâmicas dos ônibus de excursão não é muito diferente de assistir a um documentário no Discovery.
Vi de muito e de tudo; da catedral inacabada de Gaudi, a Sagrada Família, em Barcelona, ao campo de extermínio nazista de Auschwitz. Das ruinas dos sete povos das missões jesuítas, no cone sul, ao espetacular cenário de Machu Picchu, no Peru. Das vielas de Havana Vieja, saboreando um mojito, a um périplo de vinhos e queijos pela Itália. Saboreando uma bacalhoada no Porto ou uma paella em Madri. Visitei museus na França, na Espanha, em Berlim, na Áustria, em Lima, onde contemplei boa parte do acervo cultural da humanidade, inclusive o que foi surrupiado das antigas colônias.
Mas, tenho especial predileção por mercados. Quanto mais populares, melhor. Em todos esses lugares visitei mercados excepcionais. Do Ver o Peso, em Belém, ao La Boqueria, em Barcelona. Do Mercado Público, em Floripa, a uma feira de beduínos, no deserto, na fronteira com a Síria. Do Mercado Novo, em BH, ao Mercado Central, de Budapeste. Das feiras de rua, no nordeste, às feiras de rua da Itália, Polônia e Espanha. Do Mercadão de São Paulo, ao Surquillo, no Peru. Mercados e feiras são lugares onde você pode conhecer a alma de um povo, além dos seus sabores.
Mas… se mineiro adora viajar, ama mesmo é voltar pra casa… Tenho muito orgulho de ser mineiro e mais ainda de ser belorizontino. E dou boas-vindas e boas dicas aos gringos e brasileiros de outros estados que desembarcarem por aqui. Se você já se deslumbrou com a floração das cerejeiras no Japão, e achou aquilo o maior espetáculo da flora, é porque não andou pelas ruas e avenidas de setembro, em BH, para assistir à disputa entre os ipês, para ver quem é mais o bonito; o rosa, o branco, o roxo ou o amarelo. E daqui a pouco, quando os ipês se apagarem, virão os flamboyants. E, o ano inteiro, os bougainvilles. Apesar de tantas agressões, minha BH resiste, e insiste em ser Cidade Jardim.
O acervo arquitetônico da Pampulha, a capelinha de São Francisco, joias de Niemeyer, as praças da Estação Ferroviária e da Liberdade, são atrações que, se estivessem na Europa, seriam destino da admiração obrigatória de turistas do mundo inteiro. A Feira Hippie, dos domingos, enche a principal avenida da cidade do melhor do artesanato mineiro. As melhores cervejas artesanais do Brasil são produzidas aqui em BH. Nossa culinária mereceria um capítulo à parte.
Você pode começar pela carne de lata do Bar do Careca, na Cachoerinha, campeão do primeiro concurso Comida di Buteco, ir ao outro lado do globo, saborear a cozinha árabe do Restaurante Empório Ibraim, ali mesmo, na Pampulha, ou o melhor da China, no Macau.
Voltar a Minas e vir aqui em casa desfrutar um frango ao molho pardo com angu de fubá de moinho d’água e quiabo, feito pela dona Tutu, a moqueca de surubim da Helena ou o strogonoff ou a lasanha da dona Laila. Ufa! Falta espaço nesse meu minifúndio virtual para continuar minha lista de dicas. Mas, quem sabe, você pode enriquecê-la com suas próprias dicas de mineiro…
Sirva-se!